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Tudo zerado

Pois é. O sonho de muitos “teen agers” era o aeroporto. Lavar pratos na Irlanda, voar fagueiro para o Canadá, surfar em maravilhosas praias estrangeiras, tudo sob o especial patrocínio dos papais, que achavam muito linda essa imersão esportiva, amorosa, cultural.

Aprender o inglês, inobstante se juntarem aos brasileiros, quase só com eles compartilhando experiências. Eu dava risada quando um filho ou neto de algum amigo voltava mal balbuciando alguma coisa em inglês.

Depois havia o dourado sonho de se mudar para a Flórida ou Califórnia para viver a vida de rico, arranhando um espanhol nasalizado.

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De nossas paradisíacas praias os mais endinheirados não queriam nem saber. Praias brasileiras eram só para remediados ou, no máximo, emergentes. Iam para as praias cheias de seixos e pedras de Nice, mas jamais para as de nosso Nordeste.

Por sua vez, suarentos e obesos europeus, vermelhos como um camarão, muito mais que o senhor Trump, mas com o mesmo cabelo tingido, aportavam no Rio de Janeiro, Salvador e outros locais menos votados para aquele turismo sexual básico.

Ah! Quero me mudar para Portugal, onde não há a bandidagem brasileira. Quero morar em Paris e viver aquela aura poética, mesmo morando num quartinho e comendo nas “delicatessen”.

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Tudo isso terminou, ou foi ao menos suspenso pelo inconveniente Corona. Pronto. Tudo fechado, aviões no chão, gente empilhada nos aeroportos, ansiosos, desesperados, para voltar ao seu “home sweet home”. As companhias aéreas simplesmente deixaram milhares de passageiros chupando o dedo. Dólares e euros não valiam mais nada. Não havia comida, tudo fechado. Não havia hospedagem. A solução era deitar sobre a mala e verter lágrimas e mais lágrimas.

Eu me escapei, graças a meus santos prediletos, de encalhar em Cabo Verde, na Ilha do Sal. Havia um avião que saía de Porto Alegre direto ao arquipélago. Estava quase comprando a passagem para gozar das maravilhas que os folhetos traziam, bem como o Google, mas algo me alertou. Tinha que ter o atestado de vacina da febre amarela. Eu e minha mulher tínhamos extraviado nossos certificados. Lendo melhor as exigências, e havia várias, cada uma com mais tantos dólares, achei que iria me incomodar com tantas minúcias, até visto tinha que ter. Desisti. Uma semana depois deu essa zebra toda no mundo e os voos para lá foram cancelados.

Viram só como é bom ter um “Schutzengel” (Anjo da Guarda)? Está tudo zerado no mundo. Caíram os sonhos de aeroporto.

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Como diz Gilberto Gil: “E agora, o melhor lugar do mundo é aqui, e agooraaa!”.

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