Lembram quando, há alguns anos, passamos a lamentar que o radicalismo político contaminava as relações sociais? Quem diria que em tão pouco tempo já não estaríamos mais contabilizando amizades perdidas, almoços de família arruinados e desinteligências em grupos de WhatsApp, mas vidas. Sim, vidas.
A retórica violenta que domina o debate público e a incapacidade que parte da população demonstra em aceitar uma preferência partidária diversa à sua levaram um homem a matar um desconhecido a tiros em Foz do Iguaçu, no último fim de semana. Mesmo que acatemos a tese da Polícia Civil, que no indiciamento descartou a motivação política, é sabido o que motivou a discussão que culminou no homicídio.
Quer dizer, escolher um candidato a outro já não é mais apenas estar exposto a um julgamento de ordem moral, mas também a um risco à própria integridade física. Sob qualquer ângulo que se olhe para esse episódio, não há diagnóstico a que se possa chegar que não a de um sintoma inequívoco de uma sociedade doente.
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Mas talvez o mais grave seja a repercussão fria, quase gélida, nos dias que passaram desde então. Não percebi nas pessoas o assombro que deveríamos estar sentindo. Pelo contrário, o que mais ouvi foram comentários que revelam um tanto de conformismo. “Esse é só o começo”, dizem. Então, já aceitamos que é isso mesmo? Que nos transformamos em uma democracia tão fajuta que algumas vidinhas vão ficar pelo caminho a cada campanha e não há o que fazer?
Naquele tempo em que o clima no país começava a se acirrar, quantas vezes foi dito que seria preciso morrer alguém para que as coisas voltassem para os trilhos. Pois agora alguém morreu. E estamos dando de ombros.
Vou fazer uma confissão. Quando li a notícia, acreditei, de verdade, que o assassinato no Paraná poderia ser uma puxada de freio nessa marcha esquizofrênica a que estamos sentenciados. Acreditei que os dois principais líderes da nação poderiam, em um gesto de civilidade, desmobilizar a disputa fratricida de suas tropas de choque virtuais por um dia e aparecerem lado a lado perante a população, reconhecendo que em pelo menos um ponto precisam concordar: o de que uma disputa eleitoral não pode se transformar em uma guerra tribal e que essa situação é inconcebível e não deve, de maneira alguma, se repetir.
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Mas é claro que isso não aconteceu. As manifestações oficiais de ambos os lados também foram inferiores ao tamanho do problema. E entre negacionismos, distorções e conspirações, retornamos impassíveis ao fla-flu do bem contra o mal. Com uma alma a menos no mundo mas a certeza de que estamos “no lado certo da história”, seja lá o que isso signifique. Santa ingenuidade a minha! Tudo segue como dantes na república de bananas.
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