Colunistas

Tudo começa no Posemuckel

Lá nos já “remotos” idos de 1974, quando iniciou minha história de cinco décadas de Gazeta, um dos seus afamados colunistas, Lúcio Michels, do “Radar” (vindo da ex-Colônia de Porto Novo/Itapiranga, do Oeste catarinense, implantada em 1926 por meio da Caixa Rural de Santa Cruz e Central de Caixas Rurais do Rio Grande do Sul – atual Sicredi), em seus apimentados comentários políticos e gerais, volta e meia fazia referência ao Posemuckel, ao citar alguém e suas falas em alemão do Hunsrück, de onde proveio boa parte dos imigrantes germânicos à região.

O nome desde logo despertou curiosidade, e assim continua a instigar a quem lhe é apresentado. Menos aos que têm alguma relação com esta simpática comunidade, incrustada entre os distritos santa-cruzenses de Boa Vista e Monte Alverne, que hoje tem a denominação de Entrada São Martinho, mas a original não é esquecida.

LEIA TAMBÉM: Na linha de frente

Publicidade

Mesmo porque o Posemuckel seria “o centro do mundo” (e tudo o mais, “periferia”), como disse com sincero orgulho o seu Frantz, morador local, um dos muitos parentes do seu Arno, ex-prefeito de Santa Cruz e que biografei em livro, nascido nas imediações (Linha Schwerin, ou Andrade Neves), em conversa que teve com o professor Nasário Bohnen.

Isso o professor contou no lançamento do meu novo livro Peter & Lis, há poucos dias, e traduz uma natural exaltação ao torrão onde alguém nasce, vive e gosta de viver. Onde se ligam para sempre seus mais íntimos sentimentos de pertencimento à terra-madre. Onde ainda se fala o alemão de seus ascendentes vindos há 175 anos para a região e, em encontro no Salão Gralow local (o mesmo sobrenome de ex-presidente da nossa Afubra, que ali também nasceu), o fez declarar o amor à sua terra, como “das Zentrum der Welt”. E onde até o Seu Furtado fala alemão.

LEIA TAMBÉM: Todo mundo quer, mas…

Publicidade

A partir dali, Frantz enxerga o Sackpikade (ou Linha Felipe Nery), ao lado, junto com o São Martinho do Butzge, do Wehner (ex-Stein) e do Kelzenberg (ex-Heck), e lembra da vizinha Linha General Osório (ex-“Neue Pommerehn”) e famílias Schaefer, Staub, Müller e outras; da vila Monte Alverne (ou “Rio Thal”), do famoso médico suíço Eggler, seguido de outros nomes alemães como Weiss e Bersch; da Linha Araçá e Cerro do Baú, dos Wagner, Soder, Simianer, Reis, Kist, Haas, Hister, Walter etc; ou das várias Linhas Brasil, na divisa de Santa Cruz e Venâncio Aires, com muitos Bender, Keller, Mohr e tantos outros nomes. Do outro lado, observa a Boa Vista, dos Eidt e outros do centenário coral “Cruzeiro do Sul”, dos Etges do primeiro bispo de Santa Cruz (Dom Alberto) e muitos mais.

Que, por sua vez, se estende ao Rio Pardinho dos Panke e companhia, a Sinimbu com Jackisch, Becker, Backes, Rabuske, avançando para Vera Cruz, à Linha Floresta dos Hoff (do famoso Guido), Redieske etc, indo para o Sul, à Linha Sítio do não menos famoso Petry (hoje à frente do Sicredi Vale do Rio Pardo). Segue a Vale do Sol (Formosa e Trombudo) dos nossos queridos Benício e Elfoni Werner (ele dirigente da Afubra e filho do primeiro presidente Harry), do ex-prefeito Hermany, esposo da nossa sempre amiga prefeita Helena, a Candelária dos Butzge, Ellwanger, Beise, Priebe (…) e sobe aos altos de Agudo (Linha dos Pomeranos), terra da família do presidente da Afubra, Marcilio Drescher, e de nosso conhecido e reconhecido colega e gestor Romar Beling.

LEIA TAMBÉM: De amores sólidos

Publicidade

Ou seja, todo um vasto mundo local e regional onde a língua alemã continua a ser falada, apesar das proibições havidas no passado e retratadas no meu novo livro, que inicia justamente pelos “Confins do Posemuckel”. O lugar especial acolheu também meus antepassados no início da colonização e integrava o grande Alte Pikade, dos Wuttke, Mandler e outros pioneiros, e mais tarde de nomes como Trinks (Seu Paulo, que coordena os festejos da imigração) e Rabuske (que nomeou escola já com 171 anos).

Foi ali que um dos genros (seu Treiber) adquiriu um sítio e estranhei a escolha de ponto distante e isolado (exatamente o significado do nome). Justificou que gosta de tais locais e, depois, quando descobri minha ligação ancestral com a mesma área e ele iniciou construção, reservou-me espaço com bela vista aos lindos vales ali descortinados. Quer que ali me inspire a escrever mais histórias no futuro, a partir do privilegiado “centro do mundo”, onde tudo começa…

LEIA MAIS TEXTOS DE BENNO KIST

Publicidade

Chegou a newsletter do Gaz! 🤩 Tudo que você precisa saber direto no seu e-mail. Conteúdo exclusivo e confiável sobre Santa Cruz e região. É gratuito. Inscreva-se agora no link » cutt.ly/newsletter-do-Gaz 💙

Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

Share
Published by
Carina Weber

This website uses cookies.