Quem vê o sorriso tímido no rosto dos pais e das pequenas Nicole, Valentina e Yasmim sequer pode imaginar o tamanho desafio enfrentado no nascimento prematuro das meninas, aos seis meses de gestação, em 2016. A gravidez de alto risco não tirou a esperança do casal Tatiane Martinazzo, hoje com 34 anos, e Charles Pape, 38 anos, de ver as filhas crescendo e se desenvolvendo. Foi assim que reuniram forças e tiveram auxílio da família, bem como da comunidade de Vera Cruz, município onde residiam à época, com campanhas para custear despesas com leite especial e fraldas, por exemplo.
Sem histórico de gêmeos na família, o susto inicial foi logo na primeira ecografia. “Com poucas semanas já deu para ver que seriam três bebês. Nos primeiros meses a gente nem acreditava muito, por não ter nenhum caso na família, era tudo novidade”, recorda-se a mãe. O misto de alegria e surpresa se instalou sobre a vida do casal que estava em tentativas para engravidar há aproximadamente dois anos. Sem realizar tratamentos, a gravidez natural de trigêmeos trouxe preocupações e incertezas para a família, com origens em Agudo, mas moradores de Vera Cruz por uma década. “Poderia ocorrer da gestação não se completar, não chegar ao fim”, disse Tatiane.
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Conforme lembra o casal, o anúncio inicial foi de que seriam três meninos, inclusive um chá de fraldas foi realizado, mas mais uma surpresa aguardava os pais. “Foi na primeira ecografia feita já em Porto Alegre que o médico disse que seriam três meninas”, contou a mãe. Foi então que na 26ª semana de gestação os preparativos foram apressados, pois elas precisariam nascer antes do tempo. “Quando completei seis meses de gestação procurei o médico ao perceber um pequeno sangramento e, neste momento, resolveram me encaminhar para Porto Alegre, para ficar internada até completar o oitavo mês. Assim que cheguei na capital, em poucas horas as meninas já nasceram. Estava com seis meses e um dia de gestação”, relembra.
Nicole e Yasmim chegaram ao mundo pesando 790 gramas. Valentina com menos ainda, apenas 730 gramas. Conforme a mãe, após o parto realizado na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, elas precisaram permanecer no hospital por 3 meses e 23 dias, até retornarem para casa, ainda com cuidados especiais, como tratamento para fortalecimento dos pulmões, e acompanhamento médico por pouco mais de um ano. No período internadas, ainda recém-nascidas, com cerca de duas semanas de vida, as três irmãs passaram por cirurgia no coração.
Com as meninas em pleno desenvolvimento e sem necessitar de tratamento especial, em 2019 os pais resolveram retornar para à terra natal e fixaram residência em Nova Boêmia, interior de Agudo, onde residem atualmente. Nesta semana a reportagem da Gazeta da Serra foi até o local para conhecê-los. “Elas são cheias de saúde. Os médicos tinham receio que quando saíssem do hospital iriam precisar de tubo de oxigênio direto em casa, mas graças a Deus não precisaram nada, saíram respirando normalmente”, falou com alegria a mãe.
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Mais próximas dos avós maternos, as meninas crescem dividindo espaço com a natureza e com o carinho e cuidado dos pais e também dos antecessores. Atualmente, a mãe trabalha na agricultura e dedica-se ao cuidado da casa e das pequenas, enquanto o pai atua como agricultor, motorista de caminhão e auxilia na criação das trigêmeas. “Elas sempre se adaptaram tão bem ao interior, é tudo para elas, sempre gostaram bastante”, contou a mãe, que lembrou ainda sobre a importância da rede de apoio, especialmente nos primeiros meses para dar conta de amamentar, dar banho, trocar fralda, tudo multiplicado por três. “Depois que elas vieram do hospital foi bem complicado. Sempre tinha que ter alguém, minha mãe ou minha sogra para ajudar”, acrescentou Tatiane.
Companheiras
Foi no início de julho deste ano que o trio começou a frequentar à escola, no pré. Até então, desde o início do ano, realizavam atividades em casa, encaminhadas pela professora. Como conta a mãe, a expectativa para andar no ônibus do transporte escolar, pela primeira vez, era grande, o que elas tiraram de letra. “Elas estavam faceiras e eu preocupada que iriam estranhar”. Por crescerem em meio ao contexto de pandemia, incluíram hábitos facilmente à rotina: “falou em se vestir, a primeira coisa que lembram é a máscara e depois o álcool gel”, conta Tatiane.
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Além da semelhança física, vestidas de forma parecida, elas chamam atenção, especialmente por estarem na maior parte do tempo juntas. “Estão amando ir para a escola. São bem sapecas, falantes, com bastante energia e saúde, graças a Deus. Em casa gostam de correr na grama, de andar no potreiro, estar próximo dos animais”, enfatizou Tatiane. “Curiosas são elas”, acrescenta o pai, dizendo que a mesma pergunta costuma, muitas vezes, ser repetida pelas três.
Para o papai Charles, que comemora mais um Dia dos Pais rodeado pelas filhas, o maior presente é a alegria em dose tripla: “a alegria compensa o trabalho. O amor e entretimento que se tem, compensa todo o resto. Tu não pensas no trabalho, no banho demorado, em vestir três, pentear o cabelo de três”… a alegria de ter elas e vê-las crescendo bem, é o que fortalece a caminhada.
Em outubro, Nicole, Valentina e Yasmim completam 5 anos de idade, são ainda pequenas, mas no que depender dos pais quanto ao futuro, o incentivo e o suporte que puderem dar, especialmente nos estudos, é algo que já imaginam desde agora. Para nossa reportagem que visitou à família, o desejo é que os abraços apertados como o da foto se repitam por muitos anos e esse companheirismo entre as três, que vem desde o ventre materno, continue ao longo da vida.
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