Santa Cruz do Sul

Três meses depois, devastação causada pela enchente ainda está presente em Santa Cruz; veja

Três meses após a devastadora enchente que atingiu Santa Cruz do Sul, especialmente no Bairro Várzea e Rio Pardinho, muitos moradores enfrentam as consequências do desastre. Enquanto na área urbana o trabalho de recuperação é focado em mobiliar a casa novamente, no campo, a recuperação das lavouras é um dos maiores desafios. O Várzea ainda apresenta sinais da água suja do Rio Pardinho. São muitas as casas que não receberam limpeza desde então. Há lodo acumulado e imóveis com as estruturas danificadas. Outras moradias também não estão mais habitadas e foram colocadas à venda. Quem ficou busca formas de recomeçar. 

A aposentada Silvana Repplinger, 55 anos, vive na comunidade há 26 anos e relata o impacto do evento e a lenta recuperação da região. “Foi a primeira vez que a água chegou nessa altura”, diz ela, que viu sua casa ser invadida por 1,2 metro de água. “Perdi muita coisa com a enchente, e quando a água baixou, ficou muito lodo.” Para ajudar na reconstrução, ela recebeu o auxílio-reconstrução de R$ 5,1 mil e a devolução do valor do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

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A comunidade, que sempre soube lidar com enchentes menores, desta vez foi surpreendida diante das proporções. “Aqui é um ótimo lugar para viver, mas poderia ter mais investimentos, melhorias nas ruas e uma limpeza do rio”, desabafa a moradora. Apesar de tudo, ela não cogita deixar o local. “Batalhei para ter essa casa e não vou deixá-la para ir embora.”

Muitos vizinhos de Silvana, no entanto, já optaram por se mudar, deixando o bairro com um ar de abandono. “Somente os moradores mais antigos estão aqui ainda”, comenta. “Nunca pensei em sair, mas o bairro precisa de mais valorização.”

Para o futuro, a aposentada acredita que o lugar precisa de mais atenção do poder público. “Podíamos ter uma pracinha aqui, pois tem muita criança, mas não tem nem van escolar. Quando vim morar aqui, tínhamos até salva-vidas no verão na Praia dos Folgados. A prainha era um local de encontros.”

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Sinais da água podem ser vistos em diferentes pontos do Bairro Várzea, um dos locais onde a enchente provocou maiores estragos
Na casa de Silvana Repplinger, a água chegou à altura de 1,2 metro: “Perdi muita coisa”

Em Rio Pardinho, devastação na agricultura

A enchente que atingiu a região de Rio Pardinho, na área rural de Santa Cruz, deixou um rastro de destruição nas propriedades, afetando diretamente a vida e o trabalho dos agricultores. Além disso, circulando pela região, o cenário devastador ainda é perceptível em muitos pontos, como na região do Balneário Panke. Já na comunidade Ponte do Rio Pardinho, muitas casas destruídas pela enxurrada demonstram a força das águas de maio. 

Na semana passada, o agricultor Alberto Schwengber, 56 anos, lavrava suas terras na esperança de retomar a produção. “Na minha lavoura a água chegou a cinco metros de altura. Em 2010, também sofri com a enchente, mas não como agora”, lamentou.

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A força do Rio Pardinho, que passa aos fundos da lavoura, levou meio hectare, destruindo plantações de milho destinadas à silagem e o milho seco, que já estavam prontos para a colheita e seriam usados na alimentação dos animais, especialmente vacas de leite. “Até agora só consegui arrumar uma parte da lavoura para plantar novamente, para garantir o pasto aos animais.”

Para manter a produção de leite, Schwengber contou com o apoio da Prefeitura, que forneceu feno e silagem. No entanto, as dificuldades ainda são enormes. “Hoje estou virando a terra para ela secar e ficar boa para plantar de novo. Mas para que a terra esteja em boas condições, prevejo que isso só acontecerá em uns dez anos.”

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O agricultor estima que o prejuízo causado pela enchente na produção alcance R$ 90 mil. Além disso, a tragédia causou a morte de uma vaca leiteira, que se intoxicou durante a enxurrada. “Foi um tombo feio para nossa agricultura”, desabafa.

Alberto Schwengber perdeu as suas plantações e agora espera retomar as atividades
Aos poucos, produtores rurais começam a trabalhar na lavoura que ficou submersa

“Eu quero sair daqui”

Maria Cristina dos Santos, de 57 anos, é uma das moradoras do Várzea que ainda sofrem com o que aconteceu. Vivendo sozinha, viu sua vida mudar. “Eu moro aqui há cinco anos, e essa foi a primeira vez que a água entrou na minha casa. Nas outras enchentes, a água ficava só na rua”, conta. “Faz cinco meses que perdi meu marido e, dois meses depois, perdi minhas coisas. Ficou eu e Deus na casa.”

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Em meio a tudo, ela ainda está pagando em prestações os móveis e eletrodomésticos estragados na enchente. “Consegui recuperar só a geladeira, o resto foi tudo embora”, lamenta. Entre as perdas, estavam também fotos de família e documentos importantes, bens que para ela são insubstituíveis. “Recebi ajuda, tanto de amigos quanto do auxílio-reconstrução, mas a cada chuva que dá, eu não consigo mais dormir. Fico pensando que isso vai acontecer de novo.”

Apesar de considerar o bairro um bom lugar para viver, Maria Cristina revela que está decidida a sair. “O problema aqui é a enchente. Não tem mais condições de ficar aqui, correndo o risco de perder tudo de novo.”

Maria dos Santos quer deixar o bairro

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Ricardo Gais

Natural de Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais tem 26 anos. Antes de trabalhar na cidade, ajudou na colheita do tabaco da família. Seu primeiro emprego foi como recepcionista no Soder Hotel (2016-2019). Depois atuou como repositor de supermercado no Super Alegria (2019-2020). Entrou no ramo da comunicação em 2020. Em 2021, recebeu o prêmio Adjori/RS de Jornalismo - Menção Honrosa terceiro lugar - na categoria reportagem. Desde março de 2023, atua como jornalista multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, em Santa Cruz. Ricardo concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira (2016) e ingressou no curso de Jornalismo em 2017/02 na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em 2022, migrou para o curso de Jornalismo EAD, no Centro Universitário Internacional (Uninter). A previsão de conclusão do curso é para o primeiro semestre de 2025.

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Ricardo Gais

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