Nós somos nossa personalidade. Ela media nosso comportamento, vivência interna (pensamentos e sentimentos), capacidade de adaptação de uma pessoa, afeto, cognição e a forma como um indivíduo se relaciona com seus impulsos e com as outras pessoas. Eventualmente algumas características podem ser observadas já na infância, mas é na adolescência ou no início da fase adulta que costuma estar constituída, apresentando estabilidade ao longo da vida. Quando os traços de uma personalidade se desviam daquilo que é culturalmente esperado, são mal adaptativos, rígidos, inflexíveis e causam sofrimento ou prejuízo, podemos dizer que estamos diante de um transtorno de personalidade.
Fazer o diagnóstico de um transtorno de personalidade pode ser algo bastante complexo, necessitando de uma avaliação a longo prazo. Isso se dá porque um transtorno de personalidade pode ser confundido com uma condição transitória, outros diagnósticos psiquiátricos ou pode ocorrer em resposta a algum evento. A dificuldade aumenta quando se percebe que alguns traços não são considerados como problemáticos pela própria pessoa. Outro grande desafio é entender o contexto sociocultural em que o indivíduo está inserido.
Este diagnóstico e seu manejo têm implicações muito maiores do que classificar seres humanos em transtornos mentais. A etiologia é supostamente diversa e multifatorial, abrangendo fatores genéticos, biológicos (como hormônios, alterações na neurotransmissão e neuroanatomia), sociais e psicodinâmicos.
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Os transtornos de personalidade são divididos em 3 grupos (ou clusters): A (das personalidades consideradas “excêntricas” ou “esquisitas”), B (das personalidades “dramáticas”, “emotivas” e “erráticas”) e C (das personalidades “medrosas” ou “ansiosas”). Uma pessoa pode exibir traços de mais de um tipo de personalidade, sem necessariamente fechar os critérios diagnósticos para um ou mais tipos de personalidade. No cluster A temos os transtornos de personalidade paranóide, esquizóide e esquizotípico. Personalidade antissocial (sociopata ou psicopata), borderline, narcisista e histriônico fazem parte do grupo B. No cluster C encontramos os transtornos evitativo, anancástico (obsessivo-compulsivo) e dependente.
Eventualmente todas as pessoas podem apresentar um ou outro traço aqui descrito, mas para realizar o diagnóstico, é necessário que um somatório de outras características esteja presente, de determinada maneira, ao longo de certo tempo e que causem algum impacto importante na vida dessas pessoas ou daqueles que o rodeiam. Portanto, o diagnóstico é clínico e exige bastante do psiquiatra, uma vez que este tema gera debates e questionamentos entre os especialistas na área. Por isso é necessário cuidado e responsabilidade na repercussão e no impacto que uma suspeita diagnóstica como essa possui na vida das pessoas e seus familiares.
Infelizmente os transtornos de personalidade são mais comuns do que gostaríamos, muitas vezes não reconhecidos e geradores de sofrimento e prejuízo para a pessoa e para quem se relaciona com ela.
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