Santa Cruz do Sul

Transparência é uma das medidas adotadas pela nova gestão da Asan; conheça diretoria

Há quase um ano, em 20 de janeiro de 2024, os colegas Julian Kober e Alencar da Rosa – repórter e fotógrafo da Gazeta do Sul, respectivamente – foram acionados para cobrir uma atividade solidária a ser realizada por um CTG de Santa Cruz do Sul aos residentes da Associação de Auxílio aos Necessitados (Asan), lar de idosos que fica na Rua Padre Luiz Müller, Bairro Bom Jesus. Na chegada, porém, uma surpresa. O que era para ser um encontro leve se transformou em discussão.

A Gazeta foi proibida pela então gestão de acessar as dependências da Asan para registrar o dia diferente que os idosos passariam. A situação estranha chamou a atenção da equipe, que foi embora e não desenvolveu a reportagem. Na mesma época, policiais civis também realizaram uma ação no local. Nesse caso, não foram barrados, mas seus passos dentro da instituição, como os próprios agentes revelariam mais tarde, eram monitorados e vigiados de perto.

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Essas ações anormais em uma instituição que ao longo dos anos se tornou uma das mais queridas da região foram explicadas meses depois, quando o que acontecia no local veio à tona. A comunidade que sempre auxiliou a Asan com doações ficou em choque ao descobrir que um grupo de pessoas movia ali um esquema de desvios de verbas, doações e cestas básicas. O caso ganhou repercussão em todo o Estado.

Conforme as apurações, mais de R$ 1 milhão foi desviado nos últimos anos. O grupo envolvido foi totalmente afastado do lar de idosos, e um processo está em andamento para apurar responsabilidades. Para os investigadores, ficou claro que a gestão da época não queria que uma equipe de reportagem ou a própria polícia obtivessem informações sobre o esquema a partir de funcionários que trabalhavam no local e não aceitavam o que estava sendo feito.

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Com vontade de passar uma borracha nessa mancha criada em uma história de mais de sete décadas, a nova gestão da Asan abre suas portas sem receio para o ano de 2025. A nova diretoria recebeu a Gazeta para relatar como a entidade vem trabalhando para recuperar a credibilidade perante a comunidade. “Estamos com uma equipe completamente nova. Precisamos que a comunidade dê um voto de confiança para a nova gestão que assumiu após essa situação toda”, disse o novo coordenador, Diogo Rafael Guedes.

Ele trabalhava há oito anos na Asan e chegou a ser demitido pela gestão anterior, quando começou a identificar os desvios que ocorriam. Mas foi recontratado pelo novo presidente, Rodolfo José Eidt, que vem batalhando para recuperar as doações. “Depois que tudo aconteceu, a imagem da instituição desgastou-se muito e passamos a não receber mais nada. Ainda ouvimos muitas reclamações de pessoas que costumavam doar”, afirmou o presidente.

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Muitos dos que atuam na nova gestão faziam parte do conselho da Asan e abandonaram os postos quando viram os problemas, apontando irregularidades para as autoridades. Agora, esse grupo que denunciou os casos está de volta. “Questionamos muitas coisas na época e estávamos atentos, mas a autoridade e a soberania eram muito grandes em cima da gente”, complementou Eidt.

Segundo o presidente, uma parte da comunidade entendeu que o dano foi causado por um grupo específico, e que a entidade não foi responsável. Mesmo assim, o caso provocou desconfiança em uma grande parcela dos doadores. “A situação reduziu a zero as doações. Desde que assumimos, conseguimos recuperar uns 20% do que era. Mas é preciso mais. Os residentes não podem ser duplamente penalizados”, salientou Rodolfo Eidt. “Porque eles, que em alguns casos foram inclusive abandonados por familiares, também foram vítimas dos desvios que aconteceram e não merecem passar por tudo isso.”

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Futuro com valorização e cuidado

Uma das novidades a serem apresentadas pela nova diretoria é a valorização dos colaboradores. Em contrapartida à retirada de benefícios como vale-transporte e auxílio-combustível pela antiga gestão, agora houve acréscimo de um vale, que pode servir para custear alimentação ou abastecimento. O lar de idosos conta com 52 funcionários, para atender 75 residentes. Os salários também foram readequados. “Tínhamos uma funcionária que foi investigada, muito próxima do antigo administrador, que recebia R$ 8 mil mensais, enquanto outras pessoas que trabalhavam no dia a dia recebiam R$ 1,5 mil. Ninguém parava, pois logo saíam para buscar algo melhor. Foi feita uma redefinição de valores e criamos um padrão para cuidadores e o pessoal da cozinha, o 1 e 2”, comentou Diogo Guedes.

Segundo o administrador, o padrão 1 remete aos colaboradores mais recentes e o 2 é para quem está há mais tempo na casa. “Então, conforme vai demonstrando o teu serviço, recebe uma promoção”, explicou. Outra novidade é uma grande campanha de associados, que visa não só angariar recursos via Pix, boleto ou transferências diretas para manter e melhorar a estrutura da Asan, mas também gerar mais transparência. “Isso vai ajudar muito porque, tendo mais associados, teremos mais gente competente para ajudar a observar, acompanhar e sugerir melhorias”, comentou o presidente Rodolfo Eidt.

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Ainda na última semana foi lançado um novo estatuto, reformulado da versão antiga, que era de 2007. “O anterior era muito vulnerável. Criamos normativas importantes, principalmente tirando do presidente, independente da gestão, alguns poderes. Tudo terá que ser discutido em assembleia”, disse Rodolfo. As refeições foram melhoradas, com mais variedade de alimentos. As medicações estão sendo cuidadas e itens básicos, como fraldas, estão dispostos, sem mais racionamento, como a investigação apontou que ocorria.

Terapias educacionais e oficinas internas e externas também são oferecidas, assim como cinema e musicoterapia, que estimulam capacidades de comunicação, ativando aspectos psicológicos, biológicos e culturais. Caminhadas no entorno do Lago Prefeito Telmo Kirst também estão dentro da proposta de mais socialização para os idosos. “Introduzimos nas atividades para eles, como hidroginástica, fisioterapia mais incrementada e passeios externos. Não estão mais quase que confinados, como antes”, afirmou o novo administrador.

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Ele confirmou que uma excursão para a praia neste verão deve ser realizada. “Eles nunca viram o mar. Vai ser uma experiência incrível. Estamos juntando recursos por meio de uma vaquinha para ajudar nessa viagem, que pretendemos realizar em fevereiro”, salientou. Quem quiser se associar ou saber mais sobre como ajudar a Asan, deve entrar em contato pelo telefone (51) 3713 3990 ou pelo WhatsApp (51) 99617 0158.

“Estamos trabalhando e vamos conseguir recuperar a credibilidade”, afirma Eidt

Conforme a nova gestão da Asan, o Ministério Público chegou a abrir um procedimento para repassar a instituição ao Município. Contudo, os trâmites não foram concluídos por uma série de fatores, como o ano eleitoral. Foi nesse momento que o conselho que havia saído diante das irregularidades cometidas voltou. “São 76 anos buscando levantar uma reputação, aí do nada acontece algo assim. Mas estamos trabalhando e vamos conseguir recuperar a credibilidade com as pessoas. A Asan é uma instituição amada por muita gente, e muitos trabalham querendo o bem de todos os idosos”, ressaltou o novo presidente, Rodolfo José Eidt.

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Ele citou como exemplo o caso de dona Gladys, que tem 85 anos e já atua há 65 como voluntária, fazendo corte de cabelos de idosos. A situação financeira da associação vem melhorando, mas não era assim até bem pouco tempo. “Quando assumimos, no caixa só tinha R$ 2,6 mil de recurso próprio. Não dá pra entender o que fizeram com o valor que tinha aqui. Uma instituição de 76 anos com um caixa de R$ 2,6 mil, e dívidas. Antigamente, existia uma norma de deixar no mínimo o valor para três folhas de pagamento de funcionários”, observou Eidt.

Segundo a nova diretoria, uma das justificativas para essa condição financeira deplorável foi o fato de o presidente da gestão investigada ter colocado como administrador um homem que entrara na Asan em abril de 2019, para prestar serviços comunitários. Ele cumpria pena de sentença transitada em julgado na Justiça Federal. “Não tem como explicar. O próprio ingresso dele foi manipulado. Sequer passou por assembleia a entrada dele aqui. Nós lançávamos as horas, e no outro dia passou a ser o nosso chefe. Ele nem terminou de cumprir o serviço comunitário quando assumiu”, comentou Diogo Guedes.

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Ainda de acordo com o novo administrador, funcionários que trabalharam durante 15 e até 20 anos foram desligados pela gestão investigada, uma vez que começaram a suspeitar das fraudes.

Nova gestão

  • Diretoria
    • Presidente: Rodolfo José Eidt
    • Vice-presidente: Maria Teresa Schiefferdecker
    • Primeiro-tesoureiro: Vanda Ulrich
    • Segundo-tesoureiro: Julio Arruda
    • Primeiro-secretário: Glacy Falleiro
    • Segunda-secretária: Lisete Picolli
    • Administrador: Diogo Guedes
  • Conselho fiscal
    • Fernando José Rabuske
    • Gardênia Quadros Goettert
    • Leandro Ferreira
    • Lizete Maria Brum
    • Virginia Maria Muller
  • Conselho deliberativo
    • Clairton Ferreira (Tim)
    • Elpidio Vieira
    • Fernanda Penna Albertani
    • Gladys Lenz Arend
    • Maria Lúcia Pereira Dias
    • Ana Lucia Dallafavera Grotto

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Cristiano Silva

Cristiano Silva, de 35 anos, é natural de Santa Cruz do Sul, onde se formou, na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), em 2015. Iniciou a carreira jornalística na Unisc TV, em 2009, onde atuou na produção de matérias e na operação de programação. Após atuar por anos nos setores de comunicação de empresas, em 2013 ingressou no Riovale Jornal, trabalhando nas editorias de Geral, Cultura e Esportes. Em 2015, teve uma passagem pelo jornal Ibiá, de Montenegro. Entre 2016 e 2019, trabalhou como assessor de imprensa na Prefeitura de Novo Cabrais, quando venceu o prêmio Melhores do Ano na categoria Destaque Regional, promovido pelo portal O Correio Digital. Desde março de 2019 trabalha no jornal Gazeta do Sul, inicialmente na editoria de Geral. A partir de 2020 passou a ser editor da editoria de Segurança Pública. Em novembro de 2023 lançou o podcast Papo de Polícia, onde entrevista personalidades da área da segurança. Entre as especializações que já realizou, destacam-se o curso Gestão Digital, Mídias Sociais para Administração Pública, o curso Comunicação Social em Desastres da Defesa Civil, a ação Bombeiro Por Um Dia do 6º Batalhão de Bombeiro Militar, e o curso Sobrevivência Urbana da Polícia Federal.

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Cristiano Silva

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