Escrevo ainda sob o impacto do vendaval de domingo que atingiu todo o Estado. Milhões de gaúchos ficaram sem energia elétrica, inúmeras comunidades registraram pesados prejuízos e teremos, ao longo do tempo, notícias sobre perdas em diversos segmentos, principalmente na agricultura.
Fenômenos climáticos costumam ser repetitivos. Em países desenvolvidos funciona uma estrutura para minimizar os efeitos, salvaguardar vidas, mitigar perdas. Os efeitos devastadores dessas desditas arrastam não somente conquistas materiais das pessoas mais humildes, mas também suas esperanças, sua força, sua crença na vida.
A força avassaladora da natureza é ignorada pelo homem, que insiste em desafiar o que os cientistas preconizam há décadas. Poluição, devastação florestal, produção irracional de lixo sem destinação correta e o uso de combustível fósseis sem controle constroem as condições para a ocorrência de tragédias.
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Some-se a tudo isso a escassez crônica de recursos para prevenir esse tipo de ocorrência. Já faz parte do inventário de desventuras a proliferação de promessas.
Não faltarão recursos para implementar medidas de prevenção e também para adquirir equipamentos de proteção, bem como promover treinamentos e determinar a retirada das populações residentes em áreas de risco.
Trata-se de um discurso monocórdico que não apenas irrita, mas revolta, porque sabemos serem medidas que jamais serão implementadas. Nessas ocasiões se multiplicam os “salvadores da pátria” que, com a conivência da mídia, asseguram tratar-se da última fatalidade.
Em países cuja história é marcada por conflitos, os treinamentos são rotina. Crianças, jovens, adultos e idosos são submetidos a exercícios, preparados para casos de calamidade iminente. Técnicas sofisticadas são empregadas para motivar que as pessoas absorvam noções básicas de proteção, primeiros socorros e comportamento pós-catástrofe.
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Sem guerras, furacões, terremotos ou vulcões, o Brasil sempre gabou-se de sua condição de “país bonito por natureza”, protegido pelo Criador. Essa postura, somada à falta de compromisso de quem deveria zelar pelo nosso bem-estar, gerou uma complacência diante de eventos que nem sempre são “acidentes”. O currículo escolar, quase sempre distante das necessidades e anseios da realidade moderna, carece de noções fundamentais em caso de incidentes de grandes proporções.
Enquanto tudo isso continuar apenas em nosso imaginário, vamos acumular vítimas, somar prejuízos e enumerar vidas destruídas a cada ano. Não basta lamentar, socorrer ou acudir. Impõe-se prevenir, investir com critério e agir com efetividade.
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