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Tráfico motivou todos os homicídios de 2019 em Rio Pardo

Como usuárias ou traficantes, as sete pessoas que foram assassinadas em Rio Pardo este ano tinham alguma relação com o tráfico de drogas. A afirmação é do delegado Anderson Faturi, que comanda a Polícia Civil no município. De acordo com ele, o número de mortes violentas ficou dentro da média em 2019, mas o perfil dos homicídios mudou, tornando mais difícil a elucidação desses crimes.

z“Nos anos anteriores nós tínhamos casos relacionados ao tráfico, mas também havia crimes passionais, resultantes de brigas e outras questões, que são mais fáceis de elucidar porque as pessoas falam sobre eles. Os crimes de tráfico são mais complicados, porque ninguém quer contar o que viu”.

Segundo Faturi, embora desafiadora para a polícia, a mudança no perfil dos homicídios, pelo menos, não atinge a comunidade que não tem envolvimento com a criminalidade. “Se não tivesse o tráfico, não teríamos homicídios este ano, porque nenhuma das vítimas morreu em latrocínio ou outro crime que ferisse a comunidade, mas sim por conta de escolhas de vida que fizeram.”

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Embora a autoria dos assassinatos ainda seja um mistério, a motivação dos crimes está bastante clara para a polícia. “Geralmente as execuções acontecem quando eles entram em atrito com a facção que comanda o tráfico na região: ou porque pegaram de um fornecedor que não deviam, dentro da própria facção; ou porque pegaram de uma outra facção ou ainda porque não acertaram aquilo que deviam.”

Facções de fora disputam território

Segundo o delegado Anderson Faturi, além das desavenças dentro da facção Os Manos, que domina o tráfico de entorpecentes no Vale do Rio Pardo, a disputa com outros grupos, como os Bala na Cara, pode estar por trás dos assassinatos.

“O acréscimo dessas facções na região nesses últimos anos aumentou muito os homicídios. Estamos notando que, desde o ano passado, os Bala na Cara estão tentando conquistar espaço no município, dando drogas para alguns traficantes tentarem vender por aqui. Pelo menos três mortes de 2018 aconteceram por conta disso”, revelou.

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O homicídio de Oriliomar Fonte de Freitas, o Ozi, está entre elas. “Nós temos duas informações sobre esse caso. Uma delas é de que o Ozi estava tentando vender crack para Santa Cruz e foi alertado de que deveria parar. E a outra é de que ele estava pegando essa droga com os Bala na Cara, porque o crack estava escasso naquela época. E isso levou à morte dele”, detalhou.

Conforme o delegado, a chegada da nova facção preocupa a polícia, já que os integrantes são conhecidos por atuarem de forma violenta, inclusive decapitando suas vítimas. “Isso não costuma afetar a comunidade em geral. Mas sabemos que eles também já balearam inocentes nas execuções, por acidente.”

Ao contrário de anos atrás, em que os usuários eram alvos dos executores quando ficavam em dívida com os traficantes, hoje a lógica da organização criminosa mudou. “Há muito tempo eles pararam de matar o usuário, porque entendem que ele pode pagar com serviços, levando droga de um lugar para o outro, por exemplo. Já a chance do traficante acertar o que deve é menor, porque são valores altos e que tendem a virar uma bola de neve. Então, para eles, é mais fácil eliminar aquela pessoa – e aí entra o homicídio – e colocar outra no lugar”, detalhou o delegado Faturi.

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Caso a caso

Fevereiro

Dia 12 – Marcos Valderi Hopp Rodrigues, de 33 anos. Foi encontrado queimado em Rincão Del Rey, no interior de Rio Pardo. Ele era morador de Santa Cruz do Sul e havia desaparecido meses antes. Por causa disso, a 2ª DP de Santa Cruz investiga o caso. A suspeita é de que o corpo de Marcos tenha sido apenas desovado em Rincão Del Rey – por isso, sua morte não está computada entre os homicídios ocorridos este ano em Rio Pardo. Ele seria traficante e morreu em um acerto de contas.

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Maio

Dia 2 – Ademir da Silva Figueiredo, conhecido como Diabo Loiro, foi baleado em um bar na Avenida Bom Fim, no Bairro Nossa Senhora do Rosário. Era um traficante de longa data no município, e teria sido avisado para parar de atuar no ponto onde vendia os entorpecentes. Sem dar bola para os avisos, acabou sendo assassinado.

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Dias 19 e 20 – Jeferson de Oliveira, de 29 anos. Estava em casa quando dois homens chegaram, chamaram pela vítima e um deles atirou. Jeferson chegou a ser levado para atendimento médico em Porto Alegre, mas não resistiu. No dia seguinte, Adair José Linhares, conhecido como Dadá, foi morto em casa de forma semelhante. Os dois teriam sido executados em acertos de contas, mas a polícia não tem confirmação sobre uma possível relação entre os dois casos.

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Agosto

Dia 18 – Rodrigo Severo Gassen, 30 anos. Morto a tiros na localidade de Morro das Pedras. A polícia descobriu que ele foi assassinado por um vizinho, de onde estaria tentando furtar objetos a fim de conseguir dinheiro para as drogas. O suspeito foi indiciado por homicídio.

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Setembro

Dia 13 – Davi Messias Garcias Bernardes, de 22 anos. Encontrado baleado e queimado próximo a Rincão Del Rey. Era natural de Santa Cruz. Por meio de depoimentos e de uma perícia no celular da vítima, a polícia descobriu que Davi estava envolvido com o tráfico, embora não tivesse antecedentes. Não há nenhum indício sobre a autoria do assassinato.

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Novembro

Dia 7 – Ana Lúcia Moura, de 49 anos. Assassinada com golpe de faca, às margens da BR-471. Ela estaria se prostituindo para conseguir dinheiro para sustentar o vício quando foi morta. O homem fugiu do local e ainda não foi identificado. A investigação está em fase avançada.

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Dezembro

Dia 8 – Luiz Fernando Toledo, 54 anos. Morto a tiros às margens da BR-471, em um conhecido ponto de tráfico de drogas. No mesmo local, o traficante Ozi foi morto em outubro do ano passado. A investigação também é considerada avançada pela polícia.

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Vício que mata

Até a tarde dessa quarta-feira, 11, conforme o delegado, apenas a morte de Rodrigo Severo Gassen, ocorrida no dia 18 de agosto no Morro das Pedras, já havia sido desvendada por completo.

Usuário de drogas, Gassen é uma das vítimas cuja morte teve uma ligação indireta com o tráfico. “Ele foi assassinado por um vizinho após diversas tentativas de furtar a propriedade dele, mas o objetivo da vítima com esses furtos era conseguir dinheiro para adquirir entorpecentes. Conseguimos identificar essa situação e o vizinho foi indiciado”, relatou.

Outro caso envolvendo uma usuária aconteceu no dia 7 de setembro e teve como vítima Ana Lúcia Moura, de 49 anos. De acordo com o delegado, ela estaria se prostituindo quando foi atingida por uma única facada em um órgão vital.

O crime aconteceu em um matagal na entrada do Jóquei Clube de Rio Pardo, à esquerda. Nesse local, a polícia encontrou a bolsa e os documentos de Ana. “Ela chegou a pedir socorro para os moradores das proximidades e falou o primeiro nome de um homem, que não conseguimos identificar. Infelizmente, ela faleceu antes de fornecer mais detalhes. O autor do crime provavelmente se aproveitou da proximidade da BR-471 para fugir.”

A investigação do caso está em fase avançada. “Essas foram as duas mortes que tiveram uma ligação indireta com o tráfico, porque a Ana também era usuária e fazia programas para conseguir dinheiro para as drogas. Todos os outros foram acertos de contas”, afirmou Faturi.

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