Passava das 20h30 dessa terça-feira e Norberto Xavier, de 67 anos, descansava assistindo a seu programa favorito na televisão, depois de mais um dia de labuta no galpão da propriedade. A satisfação era grande, pois após quase um ano de intenso trabalho ao lado da esposa Odila, de 60 anos, os fardos de tabaco estavam prontos para ser encaminhados a uma fumageira da região, fechando o ciclo de mais uma safra.
O valor obtido com a venda do produto pagaria as contas da família e ainda sobraria um lucro para investir na propriedade, em Linha Tangerinas, interior de Venâncio Aires. Mas a tranquilidade do repouso seria quebrada minutos depois, quando a porta da casa foi arrebentada por um chute. “Escutei um barulho lá fora, ouvi o cachorro acoando, mas achei que não fosse nada. Pensei em terminar o lanche antes de ir ver. Logo o cão latiu mais aqui perto e, do nada, eu ouvi um estouro na porta”, relatou Norberto.
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Dois homens encapuzados entraram na casa e renderam o morador. “Um deles colocou o revólver na minha cabeça e exigiu dinheiro e armas. Falei que não tinha.” Dona Odila, que descansava no quarto, ouviu o barulho e foi ver o que havia acontecido. “Rasgaram com uma faca pedaços de roupas, que usaram para nos amarrar, e falaram que, se a gente reagisse, eles iriam atirar”, contou a mulher.
Um dos assaltantes, que estava de capuz preto, ficou com o casal na sala, enquanto outro, de capuz branco e olhos claros, pediu a chave do galpão. “Ele disse que queria ver se tinha motosserra e roçadeira lá dentro. Mostrei qual era a chave. Ele foi lá, não conseguiu abrir e voltou me ameaçando com o revólver. Cheguei a dizer que ele não sabia nem abrir uma porta, de tanta raiva que eu estava, porque a chave era aquela”, comentou Norberto.
Os criminosos então levaram o casal para um quarto mais aos fundos e ligaram o ventilador para que eles não escutassem as conversas. Após mais de sete horas, já por volta das 4 da madrugada, tudo silenciou. “Gritei para ir ao banheiro, mas ninguém respondeu, aí rasgamos as amarras e saímos”, disse Odila. Então, as vítimas perceberam que os ladrões levaram um videogame PlayStation 2 de um dos netos e um rabicho, além uma faca carneadeira e um rádio.
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Boa parte da comida que havia na casa também foi consumida. Ao chegarem até onde o tabaco ficava armazenado, viram que o galpão, antes cheio, estava praticamente vazio. “É difícil, triste. Não gosto nem de olhar para o galpão. Quase enfartei quando vi que levaram tudo.” Ao todo, 66 fardos de tabaco, totalizando 300 arrobas, avaliados em R$ 52 mil, foram roubados.
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Após se depararem com o galpão vazio, as vítimas foram até a casa de uma filha, a alguns quilômetros do local. Lá chegando, contaram o ocorrido e acionaram a Polícia Civil.
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As primeiras constatações revelaram que as luzes fluorescentes do galpão haviam sido quebradas. Os criminosos colocaram lonas pretas em frente à estrutura para que, se alguém passasse pelo local, não pudesse enxergar a movimentação suspeita. Pela altura do galpão e pelas marcas de pneus, suspeita-se que os assaltantes tenham usado uma caminhonete para levar os fardos até um caminhão, na beira da estrada.
Uma marca da pegada de botina ficou na porta, quando o criminoso arrombou a entrada. O casal Xavier também notou que carnes foram removidas do freezer. A televisão foi retirada da estante e enrolada em um pano. Esses itens não foram levados. Os moradores suspeitam que isso tenha acontecido pela falta de espaço no veículo dos ladrões, que já teria sido ocupado pelos fardos de tabaco, cada um pesando 65 quilos. A safra seria encaminhada nesta quinta-feira, 4, pelo agricultores a uma fumageira de Venâncio Aires.
“Isso era gente que sabia, porque nos viram enfardando nos últimos dias. No tempo em que estivemos com eles, não falaram nada sobre tabaco. Perguntei de onde eles eram, me disseram que de Porto Alegre. Mas a gente sabe que eram daqui de perto. Até chamaram o meu marido pelo apelido de Beto”, revelou Odila. “A gente chega a pensar em nem plantar mais. Trabalhamos tanto e a nossa renda do ano todo se foi em uma noite, levada por esses bandidos”, lamentou Norberto.
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“NÃO TINHA SÁBADO E DOMINGO”
“Para nós, não tinha sábado, domingo ou feriado. Trabalhávamos todos os dias e há três anos não tínhamos uma colheita tão boa, pois nas outras sofremos com a seca, vento, granizo. Desta vez que podia sobrar um troquinho, não vai ter nem para pagar as contas”, desabafou Odila. Embora com poucas esperanças de reaver o prejuízo, Norberto põe fé na investigação policial. “Trabalhamos a noite inteira enfardando, para depois nos deixarem amarrados e levarem o nosso sustento. Na colônia está cada vez mais perigoso. A gente só espera que a polícia pegue eles, porque é judiaria o que fizeram com a gente.”
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Equipe cuida do caso com exclusividade
O caso dessa terça-feira não foi o único em Linha Tangerinas. Em 12 de junho do ano passado, outro agricultor teve 12 mil mudas de tabaco furtadas. A proximidade com a rodovia, de apenas 4 quilômetros, também é um atrativo aos criminosos pela possibilidade de fuga rápida.
“Já fizemos uma diligência no local, estamos coletando depoimentos e também conversamos com as vítimas. Temos uma equipe nossa trabalhando exclusivamente nesse caso. Acredito que até o final da semana ou início da semana que vem tenhamos alguma novidade”, afirmou o delegado responsável pela DP de Venâncio Aires, Felipe Cano.
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