“Ovelha não foi feita pra mato.” O ditado bastante conhecido em todo o Rio Grande do Sul define que nem sempre um “craque” em algum segmento obrigatoriamente obterá sucesso em outra função. Lembrei esse adágio ao assistir às entrevistas concedidas pelo futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Trata-se de um magistrado qualificado que alterou o perfil do Brasil e acabou, ao menos parcialmente, com a fama de que vivemos no país da impunidade. É bom lembrar que até hoje há grandes expoentes da política e do mundo dos negócios encarcerados ou usando tornozeleira eletrônica.
A Operação Lava Jato desvendou o maior esquema de corrupção do mundo. O Mensalão, escândalo que ocupou largos espaços da mídia anos atrás, é troco diante dos bilhões desviados graças à participação de inúmeros partidos. Sérgio Moro foi acusado de parcial pelos condenados, mas jamais se abalou.
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A indicação de Moro por parte de Jair Bolsonaro mudou o perfil do ministério até então anunciado. Contrapõe com equilíbrio e tecnicidade os arroubos proferidos pelo superministro Paulo Guedes, que já soma atritos com diversos setores. Não é hora de choques.
Tenho medo que Sérgio Moro não resista às mazelas históricas que maculam a política brasileira. A troca de favores, a necessidade de ceder a favores inconfessáveis, tudo em nome da tal “governabilidade” – onde o vale-tudo é norma – poderão engolir as boas intenções do ex-juiz federal paranaense.
Seria lamentável. Acredito que Moro possui o perfil ideal para estes novos tempos que ele ajudou a forjar nos últimos anos. A política é cruel. Não poucos os intelectuais, especialistas e homens honrados tragados por ela. Lembro do saudoso “Senhor Constituição” – Ulysses Guimarães – que, em disputa à Presidência da República, ficou atrás do caricato Enéas.
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Governar sem partidos é inviável, como se viu nos desastres protagonizados por Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff. Eles ignoraram as exigências dos caciques políticos e todos sabem como terminou a história.
Infelizmente há muitos torcendo para que tudo dê errado, no Brasil e no RS, nos próximos quatro anos. Espero que os governantes eleitos tenham êxito na busca de soluções para problemas crônicos que transformaram o País em uma bomba-relógio social com desdobramentos imprevisíveis.
Em solo gaúcho, onde as finanças foram espremidas ao longo de décadas, as dificuldades deverão se arrastar por mais tempo. Colocar o pagamento do funcionalismo em dia talvez tenha sido uma promessa excessiva por parte do então candidato Eduardo Leite. As despesas são, de longe, muito maiores que o total da receita. Vamos torcer, estamos no mesmo barco.
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