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FORA DE PAUTA

Todo lugar conta

Já ouvi que conto muito as coisas. Não digo que a afirmação não faz sentido, durante a vida escolar tive poucas dificuldades em matemática. Quando percebo, involuntariamente estou contando andares de prédios, listas de roupas, ou simplesmente tempo, como dias desde algum acontecimento não muito relevante.

Contar o tempo é um dos maiores males da sociedade moderna. Não vou fugir do mérito do quanto isso facilitou nossas vidas e permitiu soluções práticas e organizadas. Mas depois de a humanidade ser bombardeada com dispositivos eletrônicos que mostram as horas como pré-requisito de fabricação, gerações inteiras se tornaram cronicamente ansiosas por não conseguirem fugir de ver as horas.

Tempo e espaço estão sempre atrelados. Não me arrisco a dar uma explicação científica para isso, mas gosto de me ater a um sentido poético. Principalmente falando de viagens. Desconsiderando alguns fatores, é uma equação simples: quanto mais longe você vai, mais tempo irá levar.

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E acho que minha preferência nem é por olhar para tão longe. Lembra que eu gosto de contar as coisas? Pois bem, 64. Dos 497 municípios que instalaram prefeituras neste pedaço de terra que com tanto orgulho chamamos de Rio Grande do Sul, posso dizer que conheço 64 deles.

É complicado dizer se esse é um número alto. Um pouco menos de 13% do total. Sou filho de um auditor externo acostumado a viajar aos cantos mais específicos das terras gaúchas. Desde criança, o que agora percebo que até não faz tanto tempo, já era aficionado por placas e mapas, todos apontando destinos que eu nem podia saber se eram reais.

Mas a vontade de vê-los reais é alta. A maravilha da tecnologia me permite ficar horas vendo fotos, vídeos ou a sensacional ferramenta de Street View do Google Maps. Com eles, já “visitei” quase todas as regiões do Estado. Só aumentando o anseio por desbravar cada canto. Já nasci na era digitalizada, mas percebi que nada substitui a experiência real de viver as histórias que suas ruas contam. Ou até mesmo sentir o cheiro do lugar. A última adição da minha contagem, a simpática Ilópolis, particularmente cheirava a erva-mate.

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Pensando mais, no alto dos meus 17 anos, talvez 64 seja muito. Até demais. Foi pouco tempo para conhecer cada lugarzinho. A contagem inclui locais de poucas memórias, talvez uma e outra imagem ou cor. Inclui até aqueles que, não fosse um relato, nem lembraria que estive quando criança. Contando apenas lembranças concretas, corto algumas dezenas do número original.

Ainda assim, para alguém que sequer tem a idade legal para tirar uma carteira de habilitação, dependendo da boa vontade dos pais de “dar uma banda” para lá de Santa Cruz, é bastante. E não o bastante. Acho triste a sensação de que algo já foi suficiente e agora nem dá mais motivos para fazê-lo.

Ainda vi muito pouco. Conforme a independência chega, tenho 434 novas memórias para escrever. Mais algumas para atualizar. Não sei como ir, quanto tempo ficar, quem me acompanhará. Só sei que seguirei contando.

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