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“Todo esse tempo de espera é de muito sofrimento para a família”, diz irmã de Francine

Franciele Rocha Ribeiro é a irmã gêmea de Francine Rocha Ribeiro

Em pouco mais de 20 dias, um dos casos mais emblemáticos da história recente de Santa Cruz do Sul terá o seu desfecho. Às 9h30 do dia 18 de novembro, no Salão do Júri Juiz Gerson Luiz Petry, no Fórum, sentará no banco dos réus Jair Menezes Rosa, de 62 anos, o homem apontado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público como o autor do estupro e da morte de Francine Rocha Ribeiro. A jovem de 24 anos, que trabalhava no comércio e cultivava sonhos de atuar com fotografia, foi brutalmente assassinada no Lago Dourado.

Estuprada, espancada e estrangulada, ela foi morta por asfixia mecânica e teve ossos do pescoço quebrados em razão da força usada pelo agressor. Sete pessoas da comunidade serão sorteadas para compor o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri. A sessão, conduzida pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse, terá acesso limitado do público. Por isso, será preciso se inscrever pelo e-mail frsantcruzjz1vcri@tjrs.jus.br a partir da próxima terça-feira. O processo do caso conta com mais de 1,2 mil páginas.

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Sob forte esquema de segurança, Jair será trazido do Presídio Estadual de Candelária, onde cumpre prisão preventiva há mais de quatro anos. Ele, que nega ter cometido o crime, foi indiciado por furto (teria levado um celular, óculos e uma blusa de Francine), estupro e homicídio quadruplamente qualificado. As qualificadoras – dispositivos que podem ampliar a pena – foram elencadas pelo feminicídio (o fato de a vítima ser mulher); meio cruel (asfixia); uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima (ela ter sido amarrada) e ocultação da prática de outro crime (o réu teria tentado ocultar o estupro).

O delito aconteceu na tarde de 12 de agosto de 2018, Dia dos Pais. Uma das últimas pessoas a vê-la ainda com vida naquele início de tarde, a irmã gêmea de Francine, Franciele Rocha Ribeiro, de 28 anos, será uma das três testemunhas a falar no julgamento. Ela concedeu entrevista para a segunda reportagem da série Caso Francine: O Júri, da Gazeta do Sul. Emocionada, Franciele relembrou os momentos ao lado da irmã e contou detalhes sobre a madrugada de buscas após o desaparecimento e de como a família acompanhou o andamento do processo até agora, às vésperas do julgamento do homem acusado de ter estuprado e assassinado Francine. Confira.

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Entrevista

Como transcorreram os fatos no dia 12 de agosto de 2018?

Era domingo, Dia dos Pais. Estávamos eu, minha irmã e o noivo dela na casa do nosso pai. Nós almoçamos e depois fomos embora. Minha casa era próxima da minha mãe, onde a Francine morava, e ela queria fazer uma caminhada. Nos despedimos ali. Ela colocou uma roupa para exercício e o noivo dela a deixou no Lago Dourado. Eu fui para casa e continuei minha tarde. Mais ao final da tarde, recebi uma mensagem da minha mãe perguntando se a Francine tinha passado na minha casa ou se tinha acontecido algo. Respondi que não. Lembro de ligar para minha mãe e, lá pelas 19 horas, nos encontramos com mais alguns familiares e amigos no lago para ver se encontrávamos ela.

Logo, o Lago Dourado acabou fechando. Não encontramos ela nas próximas duas horas. Começamos a procurar no Centro e fazer buscas em outros lugares, perguntar para conhecidos. Tudo passou muito rápido. Já era quase meia-noite e não conseguíamos encontrá-la. Fomos a um mercado e tentamos olhar nas câmeras. Em um momento, achamos que tínhamos visto ela, mas não era. Foi uma noite e madrugada de buscas dos familiares. Quando era umas 3 horas da madrugada, retornei para casa, pois já estava exausta.

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Como soube que haviam localizado o corpo da Francine?

Às 6 horas o Lago Dourado reabriu e voltamos para lá. As equipes continuaram buscando, até que por volta das 10 horas, a sogra da Francine recebeu uma ligação. Lembro que ela estava sobre a rampa na beira do lago e eu mais ao lado. Vi que ela deixou o celular cair, gritou desesperada, disse que haviam encontrado ela, que a Francine estava dentro do mato, morta. Ali foi onde tudo começou. Lembro de flashes do que aconteceu. Lembro da minha mãe na noite anterior, sentada na guarita do lago e não parando de chorar. Ela não conseguia mais falar. Parece que estava sentindo o que tinha acontecido com a filha.

O meu pai encontrou o corpo. Lembro de procurar ele no meio daquelas pessoas todas e não achar. Quando olhei, vi ele caminhando na borda do Lago Dourado e corri ao seu encontro. A primeira coisa que ele fez foi olhar nos meus olhos. Ele entendeu que eu perguntei pra ele se era ela mesmo, e ele disse sim e falou ‘minha filha, ela está toda machucada’. Acabei abraçando e chorando muito com ele. Até então, tínhamos esperanças de encontrar ela viva, mesmo que os outros tenham dito que estava morta. Mas quando eu ouvi a notícia com ele falando, tive a certeza. Caminhamos abraçados. Foi muito triste. Foram momentos de tensão o tempo inteiro, e depois uma dor inexplicável. Ao mesmo tempo saber que localizamos ela, mas foi terrível encontrá-la no estado em que estava.

O que aconteceu no período entre a descoberta do corpo e a prisão do acusado?

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Como a família acompanhou o andamento do processo ao longo dos últimos quatro anos?

Com o tempo, vamos lembrando da data mensalmente. Ficamos vendo que mais um mês se foi, depois mais um ano se foi. Estamos aguardando. Tem um culpado, a gente sabe que está preso, mas não sabemos o que está acontecendo. Há uma espécie de paz e descanso que procuramos atingir quando a justiça for feita. E estamos esperando até hoje.

Todo esse tempo de espera é de muito sofrimento para a família. Minha mãe está muito aflita nos últimos dias, porque com a data do júri se aproximando, reviver todos esses momentos, e também ter consciência de fatos que até então constavam apenas no processo, dados a que não tivemos acesso, é muito difícil. É como reviver essa perda para a família, e é como se essa dor voltasse. A sensação é de viver naquela semana em que não sabíamos o que tinha acontecido. É uma cicatriz que está sempre aberta. Sempre que a gente fala, dói.

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E lembrar das circunstâncias é ainda mais doloroso. Saber que a justiça ainda não foi feita, num país como o nosso, é muito difícil. A gente vai lidando com algumas coisas com o passar do tempo, mas a saudade e a tristeza são marcas muito tristes para toda a nossa família. É algo permanente. Isso nos acompanhou nos últimos quatro anos e vai acompanhar ainda durante muito tempo. Não vai ser o júri que vai conseguir apagar. Isso vai trazer uma relativa paz de que a justiça foi feita, mas ao mesmo tempo, é uma marca muito difícil de ser atenuada.

Quais as lembranças que tu tens da tua irmã?

Eu lembro da risada, que é uma das coisas que me emociona bastante. É muito difícil, porque eu tenho filho pequeno que está crescendo. A minha irmã quis muito ser mãe. Se ela estivesse aqui, ia participar de tudo isso. Lembro de como ela trazia essa sensação de leveza, era muito dócil, carinhosa, estava sempre sorrindo, brincando. A partir daquele dia, todo mundo na família assumiu um certo tom de tristeza e pesar. Ela trazia essa leveza e isso, infelizmente, morreu junto com ela.

O que tu esperas que aconteça no julgamento?

Que a justiça seja feita. Eu espero mesmo que essa pessoa pague pelo que fez, mas a justiça dos homens sempre é falha. Tem que ter muita fé nesses momentos e eu acredito muito na justiça divina. Eu espero muito mais coisas para a minha família do que para mim mesmo. Quero que minha mãe, com esse julgamento, consiga ficar um pouco mais em paz, e ficar um pouco mais feliz. É muito triste para uma filha ver o sofrimento da sua mãe. Isso machuca muito.

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