Caminhar pelas vias de uma cidade, como é o caso de Santa Cruz do Sul , é talvez o melhor e o mais prazeroso exercício de imersão num universo social. Mal existe interação com uma comunidade quando ela é mediada pelo vidro de um carro ou de outro meio, a partir do qual se mira o ambiente urbano como se fosse de dentro de um aquário. Andando a pé, sentindo a cidade no convívio com os demais cidadãos, no comércio e nos serviços; circulando entre as gentes (para quem isso é fisicamente viável, obviamente), a cidade se revela. E nós nos revelamos junto dela.
Santa Cruz do Sul é encantadora, sem sombra de dúvida. Nem pequena demais, que deixasse de oferecer comodidades hoje largamente buscadas pela sociedade, nem grande demais, que acabasse por se privar da humanidade que qualquer aglomerado sadio deve manter. Espantamo-nos (e devemos manter intacta a capacidade de espantar-nos, diria Gullar) diante de ocorrências, mas estas ainda estão em nível menos afrontoso à coletividade do que a violência de centros maiores.
Ou seja, caminhar, andar por Santa Cruz, nos diversos horários, ainda é possível, e que se faça de tudo para que siga sendo possível por muitos anos, para conforto e bem-estar das próximas gerações. Mas se a vista se mostra aprazível ao caminhante, se oferece um bom clima social, um problema não pode ser ignorado. Está difícil caminhar pela cidade por causa das… calçadas! Fica escancarado aos olhos (no caso, aos pés) o quanto estão irregulares e malconservadas as vias para pedestres.
Agora, quando se aproxima o inverno, a ameaça aumenta. Como bem sabe quem circula pelo Centro, a pegadinha dos respingos de água em função de lajes soltas é constante. E o risco do tropeção surge a cada passo. Em mais de uma ocasião, testemunhei acidentes envolvendo crianças e pessoas idosas. E já se tornou fato comum ver alguém em maus bocados porque tropeçou em laje desnivelada ou derrapou em superfície lisa.
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Disso se depreende que, mais do que asfalto para que carros passem voando, a civilidade pede calçadas limpas, conservadas e de material que facilite o andar. Se há espécies florestais, como as tipuanas, cujas raízes forçam as lajes, não se precisa ser gênio para concluir que o problema do desnível não é das árvores. Não são elas as vilãs. Há soluções simples, que prezam pelo equilíbrio. Elas aparecem em tantas cidades pelo mundo. E quem deve buscar a solução é o especialista, o que estudou e se formou exatamente para tal. Tentar resolver o problema tirando a árvore não seria uma solução: seria um atestado de incompetência.
E cabe ao poder público buscar a melhor alternativa. Não é viável querer unidade no material e na solução estética transferindo a responsabilidade a proprietários de imóveis. Um órgão competente no município talvez devesse chamar a si a responsabilidade de sugerir a solução. Quanto antes isso for feito, mais os santa-cruzenses sairão lépidos e faceiros por aí para curtir sua cidade, levar os filhos a passear e ir às compras. No meio do caminho é bom que só haja uma laje para pisar, e não para tropeçar.
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