Ex-jogador de futebol, Paulo César Fonseca do Nascimento, mais conhecido como Tinga, de 45 anos, foi um dos palestrantes do Seminário Anual de Sustentabilidade da China Brasil Tabacos (CBT), realizado na manhã de quinta-feira, 17, no auditório do bloco 18 da Unisc. O evento contou com a presença do presidente da China Tabaco Internacional do Brasil (CTIB) e Conselho da China Brasil Tabacos (CBT), Xinghua Zhou, e também do diretor de Operações da CBT, Ricardo Maciel Jackisch.
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Tinga falou para aproximadamente 300 pessoas entre colaboradores do setor administrativo e também com agentes de atuação nas lavouras, como os orientadores agrícolas, supervisores e coordenadores. O título da palestra apresentada pelo ex-atleta é “Gestão além da planilha”, uma alusão ao papel essencial da gestão de pessoas nas empresas além dos números.
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Tinga ganhou o apelido por ser cria da Restinga, bairro periférico da Zona Sul de Porto Alegre. Aos sete anos, viu o pai abandonar o lar após a separação. A mãe trabalhava das 7 às 19 horas e ainda fazia a limpeza do salão no Clube Teresópolis nas madrugadas de sexta-feira e sábado. O fim de semana era de felicidade para o garoto, que via a geladeira cheia das sobras que a mãe recolhia dos eventos.
O menino Paulo aprendeu a lição que era necessário trabalhar bastante para encher a geladeira. Foi isso que o motivou a persistir após a reprovação em três testes no Internacional, clube do coração. No quarto teste, trocou de destino. Encarou uma hora de ônibus até o Olímpico. Aprovado desta vez, passou três anos na base até estrear no profissional.
“Já tinha pensado em desistir. Tudo na vida é uma questão de tomada de decisão. Antes de embarcar no ônibus para o quarto teste, três amigos estavam na esquina. Eles queriam que eu me juntasse a eles para ganhar R$ 50,00 por dia para ficar vigiando quando a polícia aparecia. Tomei a decisão de subir no ônibus.”
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Tinga é grato ao trabalho, que foi o meio para a conquista dos seus sonhos. Apesar de ter estudado até a quinta série, chegou a iniciar a EJA após pendurar as chuteiras. Contudo, passou a exercer outro tipo de estudo. Começou a fazer perguntas. Para ele, a curiosidade move o mundo e acelera caminhos.
“Quando cheguei na EJA, lá na Rua dos Andradas, os colegas cochichavam. Queriam saber a razão de eu estar lá. Eu não entendia os conteúdos, mas tinha vergonha de perguntar. Na primeira vez que questionei a professora, os outros alunos perceberam que eu tinha as mesmas dificuldades que eles. A partir daquele momento, criei a #curiosidadenãotemcura.”
O ex-atleta chegou a uma conclusão ao tornar-se um questionar. “Vivemos uma crise de confiança”, vaticinou. Agora empresário no ramo de turismo, com uma agência em Porto Alegre, Tinga compreendeu que ser confiável é um diferencial. Outro aspecto destacado por ele é a coragem em tomar decisões. Como exemplo, usa as aulas práticas de direção. Apesar de vários detalhes necessários que precisam ser observados para dirigir, depois que aprendemos, torna-se algo natural e corriqueiro.
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“Assim como dirigir, podemos fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo. É importante trabalhar em equipe. As formigas estão sempre contribuindo umas com as outras. Não vemos uma furar a fila quando carregam as folhas para o ninho. Também precisamos vestir a camisa ao sermos fiéis com nossos sonhos.”
Na visão de Tinga, o melhor custo-benefício é a gestão de pessoas. Conhecer melhor os outros e conversar bastante. É justamente a ideia de ir além da planilha. Outro aspecto é o tratamento dos gestores em relação aos subordinados. “O gestor não deixará de ser respeitado se almoçar com os demais funcionários no chão de fábrica. Vai demonstrar valorização e equidade. Uso o exemplo do avião que está na pista de pouso e podemos ver. Está próximo da gente. É diferente do mesmo avião quando está nas alturas, pequeno e distante.”
Movido pela curiosidade, Tinga conversou com o empresário Clóvis Tramontina e entendeu a lógica de funcionamento de uma grande empresa. Também esteve na Marcopolo, onde montou o ônibus utilizado no projeto social “Fome de aprender”. A iniciativa atende 200 moradores de rua com refeições diárias e dispõe de livros para estimular a educação nas comunidades carentes.
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Nas visitas aos municípios para fazer as palestras, Tinga gosta de visitar um hospital e um projeto social. Principalmente aos pacientes mais debilitados, ele pergunta o que cada um gostaria de ter. A resposta unânime é tempo. “Precisamos valorizar o tempo. Gastar nosso tempo com qualidade. No fim, é o que todos queremos ter. Não adianta acumular dinheiro e patrimônio se a gente não tiver o bem mais precioso. Cada momento é importante e precisa ser desfrutado da melhor forma possível.”
Tinga foi o único jogador campeão por Grêmio e Internacional. Teve duas passagens em cada clube. Em abril de 2016, recebeu o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. No Grêmio, teve os títulos da Copa do Brasil de 1997 e 2001 como os mais marcantes. No Internacional, foi tricampeão gaúcho e da Copa Libertadores em 2006 e 2010. Com gol na final e expulsão por tirar a camisa.
“Foram 30 minutos de angústia. Eu estava no vestiário e só ouvia os barulhos do Beira-Rio. O São Paulo ainda empatou no fim. Foi um momento de aprendizado. Se tivesse uma virada, eu seria apontado como vilão. Seria odiado até hoje. Na comemoração, todo mundo foi para a Churrascaria Barranco. Eu fui para a casa e fiquei com a minha família. O presidente Fernando Carvalho me ligou. Queria que eu fosse. Eu disse que estava no único lugar que me receberia da mesma forma se a gente tivesse perdido o título. O que ficou de lição é isso. Nunca pense que é o melhor ou o pior.”
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Tinga tem o agora vizinho Dunga como umas referências. O capitão do tetra o auxilia em projetos sociais em Porto Alegre. Ele ainda cita Pelé como exemplo maior, além dos treinadores como quem trabalhou. Para ele, os professores ensinaram muito sobre o que não fazer para dar certo. O eterno capitão Fernandão é outro nome na lista de pessoas a seguir.
Sobre liderança, Tinga acredita que os grandes líderes têm prazer em formar novos líderes. Para exercer liderança, ele aponta que as palavras não são necessárias em diversos momentos. A postura, a entrega e comprometimento contam mais na maioria das vezes. Em uma equipe, é importante somar os potenciais, segundo ele. O melhor de cada um é um ingrediente para o sucesso, seja no esporte ou em uma empresa.
Tinga brinca sobre a linha de impedimento. Na época dos campinhos da várzea, era uma regra que não existia. Na base e depois como profissional, precisou se adaptar e ficar atento com a posição legal. “A linha de impedimento é imaginária. Não existe fisicamente. Eu digo isso toda vez que falo com os jovens. Serve de exemplo para toda a sociedade. A gente não vê, mas ela existe. Todos respeitam. Não podemos cruzar a linha e ficar em posição ilegal.”
Tinga atuou entre 1997 e 2015. Além da dupla Gre-Nal, jogou no Kawasaki Frontale (Japão), Botafogo, Sporting (Portugal), Borussia Dortmund (Alemanha) e Cruzeiro. Disputou quatro jogos pela Seleção Brasileira. Entre 2016 e 2017, foi gerente de futebol no Cruzeiro. A carreira do meio-campista foi de 594 jogos e 58 gols.
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