Em uma época na qual assuntos relacionados ao meio ambiente, aproveitamento dos recursos naturais e consumo consciente ainda pareciam distantes, uma ideia um tanto ousada inspirou uma família moradora do Bairro Santa Vitória, em Santa Cruz do Sul. Mas o que parecia difícil de ser colocado em prática em razão dos custos e limitações técnicas se tornou realidade e resiste ao tempo.
Depois de muito planejamento, em pouco tempo estaria instalado o sistema de calhas que há duas décadas capta a água do telhado e a leva até um tanque de concreto que mais parece uma piscina no quintal da residência. No reservatório de oito metros de extensão com 2,5 de largura e 1,5 metro de profundidade é feita a criação de peixes que, pelo menos duas vezes ao ano, são retirados para consumo da família. “A ideia foi do meu irmão já falecido e a obra foi feita pelo meu marido”, conta a costureira Maria Francesquet. Atualmente, o espaço é ocupado por tilápias alimentadas diariamente com ração. “Acho que tem umas 30”, estima.
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Mais do que garantir o peixe dos almoços com os netos, Maria destaca que o objetivo tem caráter ambiental, pois assegura o aproveitamento da água da chuva. E, claro, representa um passatempo para ela e o marido Guenther. “É muito bom, pois temos sempre algo a fazer. Antes eu cuidava mais, mas hoje a saúde não permite tanto”, diz ele.
Para Maria, o tanque de peixes ainda representa uma forma de preservar suas origens. Natural de Ibarama, na região Centro-Serra, ela mudou-se para Santa Cruz do Sul com 25 anos, com os filhos Roseli, Gustavo e Rosane. Hoje, aos 76 anos, a simpática senhora de cabelos brancos vê na criação de peixes e na manutenção das árvores frutíferas uma forma de se integrar à natureza. “Quem vem do interior, como eu, precisa disso. É vida”, conta, mostrando o pé de bergamotas, as mudas de amora e o pé de physalis que em breve vai ter os frutos maduros.
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No dia a dia, a família tenta aproveitar tudo o que pode. As cascas de frutas e verduras são usadas para produção de adubo orgânico. “Cuidar do pátio e das plantas é bom. Não é porque estamos em um bairro mais afastado que não vamos fazer nossa parte”, ensina.
Entusiasmada com suas atitudes conscientes, Maria tem histórias para contar. Por muitos anos trabalhou como costureira na região central de Santa Cruz. “Fiz muitos amigos e aprendi tanta coisa”, conta, enquanto vai citando o nome de alguns dos ex-clientes que ainda a procuram na atual residência. “Um dia disseram que eu era prendada. Não entendi direito o que significava. Então me explicaram que ser prendada é saber fazer coisas de casa e trabalhar”, diverte-se.
E Maria realmente é prendada. Além dos cuidados com o companheiro de vida, prepara conservas de pepino, cebola, beterraba e couve-flor para vender e presentear quem a visita. “Ainda costuro um pouco. Nada como antes, mas sempre tem alguma coisa a fazer”, revela. E, quando fala sobre o meio ambiente, ela não esconde a preocupação. “Temos de fazer nossa parte para preservar o que tem. Acho que de um jeito ou de outro estou colaborando”, afirma.
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