Cultura e Lazer

Theodor Amstad: o patrono do cooperativismo

Determinado e inspirado, um cidadão suíço mudou para sempre o ambiente da organização social no Sul do Brasil no começo do século 20 e firmou seu nome na história do País. O padre Theodor Amstad, nascido em Beckenried, em 1851, e que, já ordenado jesuíta na Inglaterra, em 1883, chegou ao Rio Grande do Sul em 1885, viria a ser o grande incentivador do cooperativismo, em especial o de crédito, nas regiões de colonização europeia, com ênfase nas localidades formadas por imigrantes alemães e italianos.

Em 2022, por ocasião da passagem dos 120 anos desde a criação da cooperativa de crédito pioneira, em Nova Petrópolis, esse personagem mereceu a publicação de um livro, Amstad, um visionário, de autoria do jornalista e historiador Felipe Kuhn Braun, de Novo Hamburgo, onde também é vereador. O volume, de 367 páginas, fartamente ilustrado com fotos de época, foi lançado pela editora Confebras, da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito, com sede em Brasília.

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O empenho do padre Amstad de estimular a criação de cooperativas também teve imediata acolhida em Santa Cruz do Sul. Tanto que a comunidade constituiu já em 1904 uma cooperativa financeira similar à pioneira, isto é, dois anos depois, de maneira que esse movimento associativo completa 120 anos em 2024. Como líder espiritual dos católicos, Amstad circulava por uma ampla região da Serra e dos vales, abrangendo das proximidades de São Leopoldo e de Novo Hamburgo, onde a colonização alemã se iniciara em 1824, até os vales do Taquari, do Rio Pardo e do Jacuí. Franzino, tinha por hábito deslocar-se no lombo de uma mula, que ganhara de presente, e que apelidou de Diana. Com ela, a cada ano percorria vários milhares de quilômetros.

Amstad, um visionário, de Felipe Kuhn Braun. Brasília: Confebras, 2022. 367 p.

Em dado momento, quando se constatou que, diante do grande número de filhos nas famílias de imigrantes, a terra começava a ficar escassa para as novas gerações (às quais também viabilizava educação, estudos), ele liderou a criação de novas colônias. Mais do que isso, defendeu o financiamento ou a organização dessas novas comunidades por meio do apoio financeiro das cooperativas ou de entidades. Assim, esteve diretamente relacionado com a fundação de Serro Azul, atual Cerro Largo, no Noroeste gaúcho, em cujo entorno outras levas de colonização e imigração se efetivaram, caso de Santo Cristo. E logo também de Porto Novo, atual Itapiranga, em Santa Catarina.

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Amstad faleceu em 7 de novembro de 1938, aos 86 anos, em São Leopoldo. Deixou um legado significativo em várias áreas, sendo uma delas as comunicações, com a criação de jornais e de revistas, com as quais se reportava, em alemão, a famílias de todas as colônias, mantendo-as informadas sobre temas da fé, da organização social, da educação, da saúde e da necessidade da integração e da união de forças. Firmou ainda suas lembranças no livro Memórias autobiográficas, um relato valioso das suas ações, que permanecem inspiradoras para todos.

Entrevista com Felipe Kuhn Braun

Magazine – Quais são os grandes ensinamentos ou as lições de Amstad para os dias atuais?
Acredito que o maior exemplo é o trabalho comunitário, em conjunto, em grupo, em sociedade. É esse modelo tão forte, presente, do cooperativismo, de que ninguém trabalha sozinho, e que se precisa de lideranças que façam esse elo entre as pessoas e as entidades. E temos nele uma pessoa que se dedicou à religião, à educação, à saúde, à comunicação, à história, ao cooperativismo, pensando em todas essas diversas áreas nas quais atuou, e nas quais todos podiam se ajudar.

Felipe Kuhn Braun | Foto: Divulgação

Amstad, ainda que sendo jesuíta, soube unir católicos e luteranos, ou protestantes, em torno de um mesmo ideal. Como ele conseguiu isso, e o que pode nos ensinar no mundo contemporâneo?
Ele reuniu esses dois grupos em várias oportunidades. Talvez a mais visível delas seja a fundação da Sparkasse, a caixa de crédito rural, tendo católicos e luteranos e com um diretor maçom. Incentivou a prestigiar o comércio local, não só a agricultura, mas também os artesãos, os produtos e serviços das comunidades, para o desenvolvimento e o crescimento delas.

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Teriam o associativismo e o cooperativismo sido decisivos para as regiões de colonização?
Sem dúvida, os dois foram responsáveis pelo forte desenvolvimento das regiões de colonização, especialmente alemãs, e posteriormente italianas. O associativismo é muito presente desde o início destas comunidades: trabalhavam na construção da capela, da escola, e a comunidade agia pagando a remuneração do professor; faziam arrecadações importantes para a igreja, tanto católica como luterana. O associativismo foi importante ainda nas recreações, em canto coral, orquestra, bandinha, bolão, lanceiros. O associativsmo perpassou todas essas áreas, religiosa, educacional, cultural, de entretenimento.

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Guilherme Bica

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