Mais de 63 milhões de brasileiros estão com dívidas atrasadas. Grande parte desses, com o CPF negativado. Pior ainda que endividado e com o CPF negativado é estar inadimplente, quer dizer, não consegue pagar suas contas com o que ganha ou porque simplesmente não tem mais salário ou renda. Numa situação dessas, alguém em sã consciência poderia sugerir que a solução do problema pode estar em ter o CPF negativado – no popular: com o nome sujo?
Existem inúmeras causas que levam as pessoas ao endividamento, sendo que algumas são provocadas por fatores alheios à pessoa, às vezes imprevistos, como o desemprego, a perda de um negócio, uma doença mais séria, um acidente. Outras, entretanto, são apenas justificativas como: 1) culpar os outros – o governo, o patrão que paga pouco, a família; 2) não ter controle sobre o dinheiro; 3) usar o cheque especial permanentemente; 4) abusar do cartão de crédito; 5) viver de aparências. Muitas pessoas incorrem em mais de uma dessas causas, quando não todas. Em resumo, excluídas causas externas, a maioria dos problemas financeiros é consequência de decisões erradas, muitas vezes por falta de educação financeira ou baseadas no impulso ou na emoção.
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Em geral, a ciranda financeira começa com o não pagamento, por falta de dinheiro ou outra prioridade, de alguma prestação da casa ou do carro, mas sempre com o propósito de, no mês seguinte, por tudo em dia. Inicia o novo mês e a história se repete. Com o salário não sendo suficiente para pagar todas as contas, acertam-se as prestações da casa e do carro, mas fica para trás a fatura do cartão de crédito, às vezes também a conta de luz e água. O que era ruim piora pois as multas e juros por atraso de pagamentos “comem” mais um pedacinho do salário. Quando se dão conta, a pessoa ou família estão com dívidas em vários lados, apelando para empréstimos consignados ou, quando essas portas se fecham, com familiares, amigos, colegas. Para o endividado, pegar dinheiro com familiares ou pessoas próximas é uma boa porque não há taxas nem juros, como nos bancos. Já para quem empresta, pode ser um mau negócio, porque não há garantia do pagamento. Além do dinheiro, corre-se o risco de perder também a amizade do parente ou amigo.
Este é o momento, então, que Reinaldo Domingos, educador e terapeuta financeiro, criador da DSOP Educação Financeira, além de outras atividades, vê como a oportunidade de a pessoa ou família fazerem uma faxina em suas finanças e se reestruturarem financeiramente. Em vídeo, donde tomei emprestado o título deste artigo, Reinaldo conta que sugeriu a um devedor pedir a seu credor inscrevê-lo em cadastro de negativados. Assim, pelo menos, o devedor abandona o hábito de buscar cada vez mais crédito, só piorando sua situação.
Mas, ninguém deve se conformar com o nome sujo. Afinal, o nome é um patrimônio pelo qual todos prezamos. Estar inadimplente e, pior ainda, com o nome negativado, é muito estressante para a maioria dos consumidores. Procurar os credores, explicar a situação e pedir um tempo, dizendo que “devo, não nego, pago quando e como puder”. Ao mesmo tempo, tomar algumas providências: 1) fazer um diagnóstico da situação financeira atual: saber a quantia de dinheiro que entra e que sai mensalmente; apurar de quanto precisa para as contas do dia a dia; fazer um levantamento minucioso das dívidas, separando as de sem valor (carnês, cartão de crédito, cheque especial) e as com valor (casa, moto, carro, energia elétrica, etc); 2) priorizar as dívidas de valor: não sendo pagas, podem acarretar a perda do bem ou o corte de serviços essenciais; 3) fazer um orçamento financeiro, priorizando o pagamento das dívidas, e segui-lo à risca; 4) guardar algum dinheiro: mesmo estando endividado, apartar um valor mensal para realizar sonhos, sendo que um deles pode ser o pagamento de dívidas; afinal, são os sonhos que movem as pessoas; entregar o valor poupado a uma pessoa de confiança, para não sucumbir à tentação de usá-lo para outra finalidade; 5) tão logo as dívidas sejam pagar, pedir aos credores a retirada do nome do SPC e outros órgãos de cadastro de negativados.
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Ter dívidas nem sempre é problema. Muitas vezes, pode ser uma estratégia financeira. Mas, é preciso ter certeza de que conseguirá pagá-las. Tão importante quanto evitar dívidas desnecessárias é renegociá-las. Na negociação, pouco adianta conseguir um bom desconto da dívida, se não tem condições de pagar o total ou, se for o caso, do valor da parcela mensal. O acordo tem que caber no bolso.
Por fim, é importante identificar, nas finanças, questões temporárias, causadas por circunstâncias inesperadas, e as questões que se se repetem frequentemente. Essas são as mais complicadas pois indicam que algo está errado e muitas vezes a pessoa ou família não se dão conta ou nem sabem o que é. É por isso que, hoje, se fala e se escreve tanto em Educação Financeira, já incluída na grade de milhares de escolas, no Brasil, sendo mais abrangente que só finanças pessoais. Finanças pessoas tratam de técnicas, como elaborar um orçamento, saber fazer alguns cálculos, pesquisas, enquanto a Educação Financeira inclui as técnicas, mas aborda, também, o comportamento financeiro das pessoas e famílias.
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