Era uma manhã de terça-feira normal de trabalho. Morava e trabalhava em Porto Alegre. Estava vestindo um jaleco branco, peguei meu estetoscópio e me dirigi à sala de espera para chamar o primeiro paciente. Eram 8h53 no relógio e a TV estava ligada.
Domingo pela manhã. Dia lindo. Estava na Praça Maurício Cardoso em POA brincando com minhas filhas, acompanhado de minha esposa e de minha mãe. Desço do “avião” de brinquedo e pego o celular para ler as mensagens. Marca 11h04 no telefone.
Essas duas manhãs ficaram gravadas para sempre. Em ambas a reação foi muito parecida. Choque, incredulidade e espanto. Parece que o tempo congelou. Mesmo tendo se passado 16 anos do atentado às Torres Gêmeas e dois anos do incêndio da Boate Kiss, as memórias persistem. Felizmente, apesar das tragédias, consegui seguir minha vida. Mas infelizmente, milhares de pessoas não conseguiram. Ficaram presas nesses eventos, condenadas a reviver esses dias por todos os dias de suas vidas.
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Quando isso acontece, temos o diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático ou TEPT. Doença muito grave, altamente incapacitante que, devido ao aumento da violência, assaltos, acidentes e da maciça exposição das tragédias e catástrofes, vem aumentando na população.
É condição básica para desenvolver TEPT ter sofrido, presenciado ou sabido de um evento traumático. Quando mais intenso, mais envolvido com a situação ou mais vulnerável, maior a chance de desenvolver o transtorno. Mesmo pessoas que não estavam presentes, estando a milhares de quilômetros de distância do evento traumático ou não conhecendo diretamente os envolvidos, podem desenvolver TEPT.
No século passado, TEPT era coisa de soldado que voltava da guerra. Hoje, vivemos e assistimos guerra todos os dias. Seja no trânsito, na rua ou na TV, a guerra está entre nós. E com ela a chance de desenvolver o estresse pós-trauma.
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Os sintomas mais comuns do TEPT são medo, isolamento, revivescência (viver o trauma novamente), insônia, sobressaltos, sentimentos de impotência e incapacidade de se proteger do perigo, perda de esperança em relação ao futuro e sensação de vazio.Nas primeiras quatro semanas é normal experimentarmos alguns sintomas de ansiedade, mas costuma ir diminuindo com o passar dos dias. Após quatro semanas, se persistirem os sintomas, é grande a chance de ser um caso de TEPT.
Obrigar a pessoa a relatar ou reviver o trauma aumenta a chance dela desenvolver o transtorno. Melhor deixar a pessoa falar sobre o trauma, se ela quiser. Fé, suporte familiar e social ajudam a afastar a doença. TEPT é viver num pesadelo que não termina. Felizmente há tratamento. Busque ajuda. Quanto antes, melhor. Não viva no pesadelo.
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