Não tive Orkut. Nem Facebook. Nem Instagram. E não pretendo ter nessa vida. Nem na próxima, se houver uma próxima vida. Eis aí um mico que não pagarei. Cheguei a ter blog. Sobre leitura. Então me dei conta de que estava perdendo tempo demais postando comentários. Um tempo precioso, que merecia ser ocupado com algo mais importante. Conversar com as pessoas que me fazem bem, e a quem devo fazer bem. Viajar. E ler. Ler livro, revista, jornal. Impressos, de preferência. Virtual é isso que a palavra diz: um mundo que não existe, de faz-de-conta. Estar nas redes, como se diz, é ambiente de pescaria, e a maioria esquece que rede é o lugar do peixe. O dono do açude, e da rede, óbvio, está em outro lugar.
Sou um outsider do mundo digital, que nada mais parece do que um parque de diversões para gente que não cresceu, coisa um tanto patética. Funciona bem com crianças. Mas é grotesco com adultos. Eu e muitos amigos estávamos, ao longo dos anos, naqueles 0,1% das pessoas que talvez tenham intuído que o mundo virtual não é uma forma de vida. É mais uma forma de desperdiçar a vida.
Até porque cada vez que uma pessoa posta algo na internet, só por estar online, já deixa claro que não está cuidando de outra coisa, das coisas e das pessoas que a cercam. Não deveria surpreender, pois, que tantos relacionamentos acabem tão rápido e sejam tão fugazes em tempos eletrônicos. Sempre aparece alguém do mundo real para cuidar dos que têm a desventura de estar ao lado de alguém muito ocupado com o mundo virtual.
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Estar off-line para mim foi apenas e tão somente tomada de consciência, gesto desesperado para (tentar) manter um pouco de sanidade num mundo cada vez mais insano. E aí, nos últimos tempos, soube de uma nova moda. De repente comecei a ler que um crescente número de “estrelas” do mundo virtual, seguidas por milhões em seus Instagram e Fakebook, anunciaram a decisão de fazer um… “detox digital”. Foi o termo que criaram para a nova jornada em busca do (re)conhecimento. Centenas de pessoas do mundo artístico (ou coisa que não o valha) anunciaram em suas páginas que ficariam por um tempo fora, fazendo uma… “desintoxicação”. Se alguém opta por se desintoxicar é porque admite que está intoxicado – inclusive por esses mesmos que o seguem. Estar online ficou cafona até mesmo para quem vive online.
Mundo doido! Até para largar de mão as tais mídias sociais as pessoas precisam fazer jogo de cena, e, em mais uma “bostagem”, como diz um amigo, anunciar sua retirada. Obviamente momentânea, pois duvido que aguentem ficar longe da droga por muitos dias. Para quem pensa num detox digital, vale perguntar: quando foi a última vez que fez postagem na internet? Se fizer menos de um mês, nem vale a pena levar a sério. E quando foi a última vez em que leu, inteiro, um livro formador? Se fizer um mês, desculpa, mas o caso é grave. E… bem: ainda não inventaram botox cerebral.
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