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FORA DE PAUTA

Tempos (in)alteráveis

Dias atrás estava olhando publicações aleatórias em minhas redes sociais e uma em específico me chamou atenção. Era a fotografia de uma amiga minha que compartilhava uma reflexão. Ela é psicóloga e frequentemente coloca indagações em seu perfil para as pessoas que acompanham seu conteúdo. Na frente de sua fotografia, que mostrava um momento de lazer, ela escreveu a seguinte questão: “Como está a sua vida hoje?”. Na publicação seguinte, respondeu à própria pergunta dizendo que a sua rotina estava tão corrida que ela não sentia mais o prazer de suas vivências.

Poderia ter sido uma publicação que passaria despercebida por mim, mas aquelas poucas palavras me tocaram. Já estive na mesma situação que ela. Os dias diferentes, mas as ações praticamente iguais. Acordar, comer, trabalhar ou estudar, dormir. Em poucos minutos, considerei todas as outras pessoas que também se deixam engolir pelos mesmos hábitos. Em que momento nos tornamos inalteráveis?

Sonhos e objetivos fazem parte da nossa existência. Estudamos e trabalhamos sempre pensando no que virá. Mas o que acontece com o agora? É tocante imaginar que existe alguém especial que está esperando uma ligação para saber se estamos bem, ou para jogar conversa fora. O livro em cima da cabeceira possui uma fina camada de pó, já que não é lido por ninguém há dias. A cadeira em frente à porta de casa já não recebe mais visitas, pois nunca há tempo para contemplar o viver.

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A partir dessas observações, permito-me pensar que muito disso se deve à velocidade atual das coisas. As tecnologias cada vez mais avançadas permitem que possamos facilitar as ações no nosso dia a dia, mas também nos prendem o bastante para que deixemos de lado vínculos importantes. E por mais que esse fato doa, é necessário que saibamos que a tristeza é um sentimento tão breve quanto a felicidade.
Uma vez, li uma frase que hoje carrego comigo em muitas situações: “O que você faz depois do erro é o que importa”.

É um alívio desfrutarmos de tempo suficiente, ainda que finito, para aproveitarmos as coisas simples da vida, como um bolo acompanhado de uma xícara de café que a mãe faz em um final de tarde qualquer. Para Caio Fernando Abreu, tudo que parece meio bobo é sempre muito bonito, porque não tem complicação. Vamos lembrar das coisas simples. Ainda temos chance de mudarmos os tempos inalteráveis.

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