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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

Tempos difíceis

– Por que tu me mandas esses vídeos de bolsonarista raiz?
– É que tenho esperança de que tu, uma mulher inteligente, perceba o quanto está errada.
– Tu sabes que isso não vai acontecer. E mesmo assim, faz questão de me provocar. Deves ter notado que nem respondo mais. Mas esse último sobre a PL do estupro… Achei um desrespeito. Ainda mais vindo de um homem.
– Então porque sou homem não posso tocar no assunto?
– Se for para defender prisão para mulheres, acho melhor ficar quieto.
– Que absurdo.
– Absurda é essa proposta.
– Então tu acha certa a lei atual, que permite o aborto legal em qualquer tempo da gestação?
– Acho. Porque estamos falando de situações excepcionais, que atingem principalmente meninas vulneráveis.

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– Mas por que a vítima precisa esperar tanto? Por que não recorrer muito antes?
– Entre o terror do estupro e o aborto, o caminho é longo e doloroso. Muitas vezes são crianças violentadas dentro de casa. Estamos falando de um mundo onde a realidade não é de privilégios e facilidades.
– São mais de cinco meses… Até a 21ª semana e seis dias qualquer mulher vítima de estupro poderá abortar na rede pública. Após essa fase, um feto sobrevive fora do útero. É por isso que a proposta fixa esse prazo. Porque é praticamente um bebê.
– Essas afirmações são polêmicas. Mesmo a Medicina se divide quanto a isso. E o Direito, e a Filosofia. Nem todos acham que os direitos do feto podem se sobrepor aos direitos da mãe, ainda mais em casos de estupro. Aliás, a própria ideia de que um feto seja uma pessoa é questionável.
– Eu não tenho dúvidas. A nossa vida é concedida por Deus e só a ele cabe definir quando ela deverá ser encerrada. Sou contra o aborto em qualquer tempo. Mas se vamos admitir exceções, que ao menos haja prazo e punição para quem não cumprir.

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– Ah, agora Deus entrou na história. Vamos lá. Se Deus criou homens e mulheres, e apenas às mulheres deu o dom da gravidez, não te parece que cabe a elas, e apenas a elas, decidir sobre seus corpos?
– Isso é uma tolice.
– Tolice nada. Nosso corpo, nossas regras. Queria ver se fosse com o corpo de vocês…
– A tua visão é muito estreita e completamente material.
– Claro que é material. Estou falando da vida concreta, não de crenças. Estou falando de pobreza, de marginalidade, de crianças abandonadas, do imenso passivo social desse País.
– Não adianta. Pra ti, é errado defender a vida de alguém que ainda não nasceu.
– Pois eu acho que esse projeto nem é uma defesa da vida. É uma punição às mulheres. É mais um ato de misoginia.
– Que exagero. Acho que a maioria dos brasileiros aprovaria se houvesse um plebiscito.
– E eu acho que você não conhece bem os brasileiros.

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