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Tempo Rei

Tenho um pressentimento de que não haverá mais paz entre nós. Não bastassem os elevados níveis de violência urbana, consequência da desorganização e falência do Estado, sobretudo tocante ao gerenciamento da justiça e dos órgãos de repressão, avoluma-se o desemprego entre os jovens. O ócio é a moradia favorita do demônio, diz a cultura popular. 

Mas meu pressentimento negativo também se baseia no nível das argumentações atuais, que beiram a histeria e a desonestidade intelectual. Uma importante parcela do pensamento nacional insiste na retórica irresponsável e inconsequente, aprisionados psicológica e ideologicamente por pessoas e partidos que já não têm mais nada a oferecer à nação.

Não à toa, cansado de discussões fanáticas e inúteis, não retruco mais ninguém nas redes sociais. Mas esta semana recaí no erro e fui “atropelado”, ainda que singelo meu comentário divergente.

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Refeito da fratura emocional, lembrei das palavras do teólogo Ricardo Gondim, no célebre texto Tempo que foge (esse texto também é atribuído a Mário de Andarde (1893-1945), sob o título de O valioso tempo dos maduros, porém sob contestação de Gondim. Transcrevo:

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades (…). Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

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Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral. 

As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade. 

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Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, o essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!”

TI

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