O presidente da República, Michel Temer, indicou nesta quinta-feira, 26, que o Mercosul poderá chegar, em setembro, a um termo de acordo de livre comércio com a União Europeia. As tratativas começaram no fim da década de 1990, e ainda há cerca de trinta questões pendentes, segundo ministros do governo. Temer negou que o acordo fechado pelos Estados Unidos com a União Europeia afete as negociações do Mercosul com o bloco.
“As questões relativas à aliança do Mercosul com a União Europeia ainda estão em tratativas. Nada atrapalha o fato de os Estados Unidos fazerem uma aliança com a União Europeia, uma aliança, aliás, tarifária, zero tarifa. As conversações continuam, há uma reunião marcada novamente em setembro. Eu e o presidente Macri (Argentina) nos esforçamos muito para isso ao longo do tempo. E não é improvável que em setembro se consiga fechar esse acordo. Eu acredito”, disse o presidente durante a 10ª Cúpula dos Brics, realizada na África do Sul.
A visão de Temer é compartilhada pelo ministro da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Marcos Jorge. Ele não acredita que a aproximação entre Estados Unidos e Europa possa adiar ainda mais o acordo entre Mercosul e UE. “No Brasil, tratamos de diversos acordos com várias equipes. O lado europeu também tem estrutura para tratar com os Estados Unidos e conosco. São tocadas paralelamente, e uma coisa não se sobrepõe à outra”, afirmou.
Publicidade
LEIA MAIS
- Em cúpula vazia, Mercosul e Aliança do Pacífico buscam se unir contra Trump
- Brasil busca esclarecimentos sobre morte trágica de brasileira na Nicarágua
Segundo o ministro Blairo Maggi (Agricultura), um dos entraves ao acordo é a tarifação zero do vinho nos blocos. Além dos europeus, que possuem forte produção e exportação da bebida, Uruguai e Argentina, também produtores tradicionais na América do Sul, são a favor. Mas, segundo o ministro, a ainda incipiente indústria nacional poderia ser extremamente prejudicada com a medida, afetando inclusive o turismo na Região Sul do País.
Brics
Publicidade
Temer disse que as reuniões ao longo do dia foram produtivas por terem acertado a instalação de uma sede do Novo Banco de Desenvolvimento no Brasil. “Estamos levando para São Paulo uma sucursal do Banco do Brics e também um escritório a Brasília, além de um memorando de cooperação aérea entre os vários países “
O presidente russo, Vladimir Putin, foi outro que demonstrou interesse em abrir um escritório do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD, mais conhecido como Banco dos Brics) em seu país, onde já há 21 projetos com a instituição. De acordo com ele, com o Banco dos Brics, as empresas de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul passarão a ter mais acesso ao crédito e poderão, portanto, apresentar um melhor desenvolvimento. O Brasil prepara para abrir um escritório da instituição em São Paulo e uma filial em Brasília.
No início de seu discurso, seguido ao do brasileiro Michel Temer, ele enfatizou que Mandela deixou um legado que precisa ser refletido nas atividades do Brics, destacando o caráter de “parceria estratégica”. “Os países do Brics reagem em conjunto contra ameaças e desafios”, disse, citando entre outros, terrorismo, extremismo e o tráfico de drogas.
Publicidade
Visitas
Sem divulgar o compromisso, o presidente Temer visitou antes da reunião bilateral com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, a Fundação Nelson Mandela. A visita reservada era negociada há dias pela diplomacia brasileira com a Presidência e a fundação. A equipe da Presidência da República informava apenas que Temer havia se deslocado para o hotel onde se hospeda, enquanto o presidente passeava pela fundação e o museu de Mandela.
No local, o presidente se encontrou com uma neta do ex-presidente sul-africano, a ativista social Ndileka Mandela, e o CEO da fundação, Sello Hatang. “É uma coisa emocionante. Eu recomendaria fazer uma visita, porque a história dele marca não só a África como o mundo todo e marcou muito o Brasil”, disse Temer, lembrando ter recebido Mandela no Brasil, quando era presidente da Câmara dos Deputados
Publicidade
Temer também disse ter se reunido em privado com Vladimir Putin, presidente da Rússia, ao longo do dia, e que discutiram relações para além da economia. “Putin propôs, numa reunião mais individualizada que tivemos, antes de entrar na sessão plenária, que fizéssemos nossos povos se unirem mais. Significa atividades como uma partida desportiva, uma espécie de campeonato entre os países do Brics, a cinematografia, fazer um festival de cinema e introduzir a cultura nas nossas relações.”