Tem sotaque português em InfiniMundo

O pano de fundo do longa-metragem InfiniMundo, cujas gravações aconteceram recentemente em Santa Cruz do Sul e Sinimbu, é um universo fantástico e a linguagem é literária, deixando a poesia presente no filme do diretor carioca Bruno Martins. Apaixonado por literatura, com enfoque na poesia portuguesa, Martins se deparou com o jovem talento de Laura Dutra, de 24 anos. 

O encontro foi perfeito e deu vida à personagem Beleza, em que o sotaque português de Laura se encaixou bem com a musicalidade apresentada pelo filme. “Ela é uma atriz portuguesa, e a língua portuguesa, de Portugal, fica muito bonita quando falada de uma forma poética. Os livros que me influenciaram a escrever esse roteiro, na sua maioria, são de autores portugueses”, disse Martins, em conversa com a Gazeta do Sul.

Portuguesa nascida em Lisboa, a atriz coleciona trabalhos no país europeu, mas é sua primeira experiência em território brasileiro. Entre abril e início de maio, a jovem esteve em Santa Cruz do Sul para as filmagens do longa, que foi gravado em Travessão Dona Josefa, em Rio Pardinho, e em Linha Rio Grande, no município de Sinimbu. No dia 26 de abril, ela concedeu entrevista à Gazeta do Sul no Hotel Charrua, no centro de Santa Cruz do Sul, onde ficou hospedada. 

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Para ela, InfiniMundo é um filme “por que não?”, já que não há limites para o imaginário quando se trata de uma história que se passa em um lugar qualquer, em qualquer tempo. “A gente sempre tem essa parada de ter que justificar tudo, mas a gente não tem que justificar tudo. Por que a Beleza é portuguesa? Porque sim. Porque ela pode, porque a gente tem espaço para isso. Essa é a real beleza desse filme, tem espaço para tudo”, afirma a atriz.

Em sua primeira viagem ao Rio Grande do Sul, Laura se disse surpresa com Santa Cruz e com as locações escolhidas para a filmagem do longa-metragem. No início de maio, as equipes que trabalharam nas gravações de InfiniMundo deixaram a região, após aproximadamente 15 dias de trabalho intenso.

O primeiro trabalho no Brasil deixou Laura com gosto de quero mais. A atriz salientou a vontade de voltar mais vezes ao País, principalmente a trabalho.

ENTREVISTA

Gazeta do Sul – Já tinhas vindo para o Rio Grande do Sul? Como está sendo essa experiência em Santa Cruz do Sul?
Laura Dutra – É a primeira vez. Está sendo muito bom, eu não conhecia o Rio Grande do Sul, desembarquei em Porto Alegre e vim direto para cá. Santa Cruz é linda, estamos conhecendo um pouquinho de tudo. Hoje mesmo eu fui na Catedral conhecer porque ainda não tinha visto e achei maravilhosa. Tem muita coisa rolando aqui. Eu tinha uma certa ideia de que seria uma cidade menor e me surpreendi positivamente de saber que tem muita coisa acontecendo, toda noite tem alguma coisa, barzinho, música ao vivo. Para a galera desanuviar do estresse das filmagens, também é muito bom ter essa liberdade. 

E para o Brasil vens bastante? 
Minha família é do Rio de Janeiro e os meus pais moram em Lisboa há 30 anos. Eu vim ao Brasil algumas vezes, para o Rio, mas nunca tinha trabalhado no país. Trabalho bastante em Portugal, sempre quis trabalhar aqui no Brasil e estou tendo a minha primeira oportunidade. 

O que representa essa experiência para a tua trajetória profissional?
É a primeira experiência fora de Portugal e de cinema independente, de poder construir e sonhar com esse mundo fantástico que é uma coisa super-rara de acontecer, de poder brincar com o imaginário, criar toda uma realidade paralela, então acho que tem sido muito positivo. É um filme feito com muito amor, que fala de amor e acredito que isso vá se refletir. Vai acrescentar bastante na minha carreira.

Como foi a preparação para interpretar a Beleza?
A gente esteve no Rio com o Bruno, que é o diretor, em um mês e meio de ensaios, em um trabalho bastante imersivo de a gente se conhecer, trabalho muito de corpo, de teatro, vários exercícios com a Carol Garcia ,que é nossa preparadora e é maravilhosa. É superimportante poder descobrir os personagens, conhecer as pessoas, os atores, e a gente teve essa oportunidade.

Quais foram teus últimos trabalhos?
Eu fiz uma novela na SIC (Portugal), meu primeiro papel cômico, e que foi premiado até e foi muito bacana. Fiz um seriado também para um canal aberto nacional de uma personagem muito deprimida, que fala bastante sobre o problema do bullying. Então, foi muito bom sair dessa personagem e no dia seguinte voar para cá para poder fazer um filme mais leve, com outra ideia e outra mensagem. Estou podendo relaxar, aproveitar, e limpar um pouco dos meus últimos meses lá em Portugal.

Em Portugal passa muita novela brasileira, certo? Você se inspira em atrizes ou atores brasileiros?
Sim, passam muitas novelas brasileiras, depois das novelas portuguesas. Os meus pais não tinham muito esse hábito, mas eu sempre fiquei ligada. Assisti “Avenida Brasil”, que eu acho que foi um ícone no mundo inteiro. Adriana Esteves, Fernanda Torres, Fernanda Montenegro. Tem várias musas do cinema e do teatro brasileiro que me inspiram.

Percebes diferenças entre o audiovisual brasileiro e o português?
Até agora não. Algumas coisas mudam, mas eu acho que é mais por linguagem. É todo mundo supercompetente de forma igual e está tudo muito equilibrado. Claro que a população de Portugal é mais pequena, então acaba que toda a composição do set é menor do que aqui.

O roteiro de InfiniMundo é muito baseado na poesia, principalmente portuguesa. Isso faz você se sentir um pouco mais em casa? Como ocorre essa fusão com a poesia?
O Bruno Martins é poeta também, o que ele escreve é maravilhoso. Ele também tem família em Portugal e isso foi uma das coisas que uniram a gente. A primeira vez que eu fiz o teste para a Beleza, fiz com o sotaque do Brasil. Ele descobriu que eu era portuguesa e me pediu um segundo teste com sotaque português, e ele adorou. É um filme “por que não?”. A gente sempre tem essa parada de ter que justificar tudo, mas a gente não tem que justificar tudo. Por que a Beleza é portuguesa? Porque sim. Porque ela pode, porque a gente tem espaço para isso. Essa é a real beleza desse filme, tem espaço para tudo. É engraçado, porque no set eu falo com o sotaque de Portugal e isso já me traz um pouquinho de casa de novo. É bom fazer esse paralelismo e ter essa inclusão no set, estar aqui e lembrar de casa.

Como foi a decisão de se tornar atriz?
Foi muito espontâneo. Meu pai é pintor, publicitário e diretor criativo. Sempre tive esse lado artístico bastante relacionado à minha família, e eles sempre foram muito tranquilos e me deram muita liberdade para fazer cursinhos, workshop, atividades extras. Lembro que eu tinha uns 10 anos e vi que tinha um curso de teatro, e falei para a minha mãe que eu queria fazer. Comecei a fazer, o diretor do teatro me chamou para fazer backstage quando eu tinha 12 anos, para ficar ajudando as atrizes. Fiz todo esse processo de trás de cena também, que eu acho superimportante. Comecei a ganhar alguns papéis no teatro nessa companhia e aí eu entendi que eu queria estar no palco.

Como avalias esse momento do audiovisual, com muitos projetos em streamings?
Eu acho crucial. Quanto mais projetos, mais chances de todo mundo trabalhar mais vezes ao ano. Tem novas possibilidades de tudo, de novos escritores, novos roteiristas, novos diretores, novos atores. Há mais oportunidades, mais projetos, então não são sempre os mesmos atores. Faz todo sentido a gente apoiar o streaming, mas apoiar o cinema também, com toda certeza.

CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA EM VÍDEO

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