Nasci na colônia, no município de Arroio do Meio, localizado no Vale do Taquari, há 61 anos. Minha casa ficava distante três quilômetros da cidade, trecho ligado por uma estrada de chão batido. Para chegar à escola, era preciso enfrentar barro, poeira e geada todos os dias, de acordo com a estação do ano. Já meus filhos, hoje adultos, nasceram em Porto Alegre, em uma realidade muito diferente. Seria injusto, mas é inevitável comparar os métodos e conteúdos de educação de épocas tão díspares, embora os alicerces da formação humana pouco tenham se alterado.
Quando um casal amigo informa que terá “a visita da cegonha” sou tomado de um misto de alegria e pavor, apesar do esforço para disfarçar, principalmente quando se trata do primeiro filho e de pessoas próximas a mim. Assisto a cenas deprimentes todos os dias em shoppings e supermercados em que as crianças parecem adestradas para torturar os pais através de humilhações que resultam em chantagem para ganhar um presente, um lanche, um agrado material.
Meu maior temor, se me tornasse pai nos dias de hoje, sem dúvida seria em relação ao uso da tecnologia. Não apenas pela minha confessa inabilidade e pouca intimidade, mas pelo caráter invasivo que nos torna a cada dia mais vulneráveis. Estamos diuturnamente à mercê de golpistas. Alguns são criminosos assumidos, que usam vários estratagemas. Outros nos tornam reféns através da captura – ou compra – de dados que deveriam ser confidenciais e fornecidos somente com a nossa expressa autorização. Isso, porém, é teoria legal, que não se aplica no cotidiano de todos nós.
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“O melhor e o pior deste mundo moderno entram pelo celular”, costumo dizer aos futuros pais, tentando fazer um alerta quase sempre ignorado. Fico impressionado ao ver crianças com 10, 11 anos portando modernos celulares com dispositivos que permitem acessar todo tipo de conteúdo.
O grande desafio é descobrir como desenvolver mecanismo de controle do acesso, fiscalizar os conteúdos, determinar a frequência de uso no cotidiano. O desafio é ainda maior porque nossos jovens precisam desenvolver habilidades para manusear smartphones e toda essa parafernália.
A pandemia mostrou que (quase) tudo pode ser feito usando a tecnologia. Ensino, home office, aulas de personal e toda a rotina estão ao alcance através do simples digitar. No ensino, é impossível mensurar os prejuízos sociais que as crianças sofrerão desprovidas do convívio com os coleguinhas, professores e funcionários. É uma experiência inédita mundo afora, cuja importância na formação humana é impossível de reproduzir através do celular. O cotidiano de brincadeiras lúdicas, de troca de experiências – e até do lance –, foi bruscamente interrompido. Como será o futuro desta gurizada?
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