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Tbilissi, Geórgia: os lobos do Cáucaso

Foto: Arquivo Pessoal

Em Tbilissi, a Avenida Shota Rustaveli termina na bela Praça da Liberdade

Em 1993, na mudança da Rússia para a Alemanha, deixei para trás dezenas de livros que havia comprado em Moscou. No final do mesmo ano, para resgatar uma parte deles, combinei um encontro em Viena com um amigo que viria da capital russa. Além dos livros, ele trazia na bagagem conhaque georgiano.
Ao abrirmos a mala, notamos que uma das garrafas do saboroso destilado havia se quebrado, ensopando as páginas de várias obras. Até hoje, abro aqueles livros e sinto o agradável aroma que impregnou o papel, as memórias e, em mim, a vontade de conhecer a Geórgia.

Há muita confusão em torno do nome do país, sendo amiúde confundido com o homônimo estado nos EUA, este uma homenagem ao rei britânico George II. Já o nome internacional do montanhoso país no sul do Cáucaso não se refere, como muitos acreditam, a São Jorge, embora o santo seja quase uma divindade na religião ortodoxa local.

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Localmente, o país se chama Sakartveil (terra dos cartevélicos), referência aos antigos povos protogeorgianos. Os 5 milhões de habitantes da Geórgia usam idioma e alfabeto próprios, sem conexão com outras línguas vivas. Acredita-se que o vernáculo tenha raízes linguísticas na antiga Mesopotâmia. O nome Geórgia remonta à história de lutas dos caucasianos contra os persas aquemênidas, poderosos imperialistas dos séculos 5 a 3 antes de Cristo. Gürg, em persa, quer dizer lobo, apelido que os povos do atual Irã deram aos georgianos pelo hábito de atacar à noite.

Três séculos antes de Cristo, os persas de Dario II foram expulsos por Alexandre, o Grande, mas o apelido do país ficou eternizado. A Geórgia possui imensa riqueza histórica e cultural, difícil de ser resumida adequadamente. A geopolítica foi determinante para o destino da pequena nação, desconfortavelmente situada no passado entre os impérios romano e persa.

No ano 338 d.C., uma grega chamada Nina visitou a Geórgia e acabou convencendo a rainha Míriam III (284-361) a se converter ao Cristianismo, fazendo do país um dos primeiros a adotar a religião cristã. Mais tarde, apesar da constante pressão muçulmana dos vizinhos persas e turcos, o país manteve sua crença. A invasão mongol, em 1220, foi implacável e a virtual destruição da Geórgia foi consumada pelas tropas de Tamerlão (1336-1405), imperador turco-mongol do atual Uzbequistão.

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A resistência ao Islã, contudo, prosseguiu em meio às guerras entre otomanos e persas. No final do século 18, para proteger seu povo, o Rei Erekle II decidiu se unir com outra nação cristã, a poderosa Rússia Imperial. Os russos venceram os iranianos em 1813 e a Geórgia foi incorporada ao vasto império. Seguiu-se a dominação soviética, até a queda da cortina de ferro e a independência da nação, em abril de 1991.

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O período pós-independência foi deveras turbulento. Destaca-se a Revolução das Rosas, em 2003, movimento pacífico que resultou na renúncia do presidente pró-russo Eduard Shevardnadze, marcando o final efetivo da era soviética no país. O título da revolução provém do épico momento em que os manifestantes, liderados por Mikheil Saakashvili, invadiram pacificamente uma sessão do parlamento carregando rosas nas mãos.

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Na capital Tbilissi, há muito para ver e aprender. A cúpula dourada da Catedral da Santíssima Trindade domina a paisagem urbana. A Praça da Liberdade dá origem à bela Avenida Shota Rustaveli, onde uma caminhada pelo bulevar que homenageia o poeta georgiano do século 12 mostra a influência soviética, da arquitetura brutalista à farta oferta de livros pelas calçadas. Um teleférico leva da cidade antiga, às margens do Rio Kura, até o topo do castelo Narikala, de onde se tem uma vista espetacular da cidade.

De acordo com achados arqueológicos, a vinicultura na Geórgia tem mais de 7 mil anos. Ao desembarcar na bela capital Tbilissi e passar em frente às lojas do aeroporto, o perfume dos conhaques locais me fez lembrar imediatamente do resgate de livros russos de três décadas antes. Foi uma inesquecível recepção no país que me conquistou pelo aroma bem antes de conhecê-lo pessoalmente.

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