Colunistas

Tanto lá quanto aqui

Em um vilarejo na zona rural do México, a chegada inesperada de caminhonetes causa pânico entre as mulheres. Elas vivem sozinhas com os filhos, pois quase todos os homens abandonaram o lugar em busca de trabalho. E, desde cedo, as meninas aprendem: quando os carros grandes surgem na estrada, alguém vai desaparecer. Alguém como elas.

As mães não medem esforços para proteger as filhas. Cavam buracos no terreno para que elas se escondam, se for preciso. Muito antes desse momento, tomam precauções: fazem cortes de cabelo curtíssimos nas meninas, para que se pareçam com garotos; vestem-nas com roupas masculinas, de maneira a esconder seus corpos; e empenham-se para deixá-las “feias”, por exemplo, passando carvão nos dentes para dar impressão de má higiene. Tudo para evitar que virem presas fáceis. A entrada na pré-adolescência já significa estado de alerta.

Bem que poderia ser ficção, mas não. Nessa comunidade – e em várias outras –, a qualquer hora, narcotraficantes armados podem sequestrar adolescentes na rua ou em suas casas. O destino delas é se tornarem “peças” no tráfico humano para fins de exploração sexual, ou para trabalhos forçados.

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Muitas acabam mortas. A jornalista Jennifer Clement passou uma década ouvindo relatos a esse respeito em regiões mexicanas dominadas por cartéis. Isso levou-a a escrever Reze pelas mulheres roubadas, livro publicado em 2014. Em 2021, a obra tornou-se o filme A Noite do Fogo (disponível na Netflix).
Não é uma realidade tão estranha para nós.

No Rio e em São Paulo, onde o tráfico controla grandes áreas urbanas, há situações de violência semelhantes às descritas por Clement. E é claro que não precisamos nos ater a facções armadas. No Brasil, a maioria dos feminicídios e agressões vem de pessoas próximas: companheiros ou ex-parceiros.

No mês em que lembramos o Dia Internacional da Mulher (8 de março), o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Datafolha divulgaram nesta quinta-feira, 2, a quarta pesquisa “Visível e Invisível – a Vitimização de Mulheres no Brasil”. Um dado: 35 mulheres foram agredidas física ou verbalmente por minuto em 2022. Tanto lá quanto aqui, a violência bate. E com força.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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