Categories: Romar Beling

Tanto barulho para (quase) nada

Que vivemos em um mundo barulhento, disso já estamos informados, até porque as vias urbanas, tomadas pelo tráfego de veículos, nos brindam com poluição sonora quase em tempo integral. Mas quem circulou pelo centro de Santa Cruz nessas últimas semanas tem sido agraciado com outro tipo de supresa nada agradável: a de caixas de som instaladas junto à entrada de lojas, numa tentativa (ao menos tentativa) de atrair o consumidor literalmente no grito. 

A tais caixas juntam-se os tradicionais carros de som, que se deslocam lentamente, brindando pedestres com altos decibéis (não raro diante de loja concorrente), e, claro, ainda animadores munidos de microfone e caixas de som. Tudo junto conforma cenário que, se não afugenta por completo os clientes, de crianças a idosos, no mínimo os angustia, irrita e aparova. Um caos.

Se essa estratégia de “berrar” ofertas a uma potencial clientela efetivamente funciona, tenho lá minhas dúvidas. Mas que incomoda, nisso não há dúvida. É recorrente que alguém manifeste sua inconformidade xingando ou tapando os ouvidos com as mãos. Se, por outro lado, a legislação que deve zelar pelo convívio harmonioso em ambiente público autoriza semelhante balbúrdia, é outra dúvida que se coloca, e caberia aos órgãos competentes se manifestarem.

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À primeira vista (melhor dizendo, à primeira dor nos tímpanos), a sensação é de que, antes de atrair potenciais e almejados clientes, a gritaria os afasta. Quem tem por regra adquirir bens com mínimo de calma, escolhendo com comodidade, dificilmente o faria em meio a tamanho barulho. É claro que a crise econômica dos últimos anos complicou bastante a competitividade no comércio: ao recuar de investimentos em propaganda e marketing pelas vias convencionais, ou de concorrência leal, muitas lojas apelam para qualquer manobra, nem que isso signifique constranger ou atrapalhar a rotina do vizinho.

Mas já imaginaram se em todas as lojas de uma rua se apelasse para a mesma estratégia? Se todos decidissem colocar caixa de som junto à porta, alardeando ofertas o mais alto que pudessem? Não demoraria e alguém montaria estrutura de boate, para berrar mais alto que os demais. Por isso, quando o lojista apela para música alta, revela estar indiferente à convivência harmônica com os vizinhos e com os transeuntes. Mais do que questão de legislação, a primeira regra infringida é a do bom senso e do respeito.

Em geral, a loja vizinha ao estabelecimento que adota caixa de som é a que mais sofre. Porque essa caixa, em alto volume, é voltada para a via pública, e quase sempre berra ofertas diretamente para a porta dos lojistas vizinhos, afugentando junto os clientes (e a paciência) destes. 

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É óbvio que, em sociedade, o comércio existe com o objetivo de realizar negócios. Só assim subsiste. A missão é oferecer produtos e serviços, abastecer a população. A melhor forma de convencer, sem dúvida, é dispor de qualidade, variedade, presteza e bom atendimento. E não é preciso berrar esses diferenciais. Até porque, convenhamos, se há algo que não combina com bom atendimento é poluição sonora. Ou seja, uma deficiência já fica prontamente alardeada.

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