De Helsinque, na Finlândia, um navio me levou até Tallinn, na Estônia. Das possíveis formas de chegar em um país, a que mais me encanta é a via marítima. Talvez pelo véu histórico e romântico de descoberta que navegação e portos representam, mas também por, ao contrário da aviação, nos aproximar lentamente, com mais prazer e atenção, do real espírito de um lugar e de seu povo, algo difícil em aeroportos, todos parecidos e desprovidos de alma.
Entradas náuticas e terrestres nos fazem saborear distâncias de forma mais leve e poética. Mais ainda quando gélidas rajadas apontam para uma cidade magnífica como Tallinn, com uma atmosfera medieval preservada que proporciona uma viagem também no tempo.
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Após séculos de dominação por dinamarqueses, suecos, russos, nazistas e, desde 1991, radiante por cortar as amarras soviéticas, a Estônia reconectou avidamente seus laços com vizinhos nórdicos, em especial a Finlândia, com a qual divide origens linguísticas e étnicas. O resultado foi rápido, com crescimento do turismo, desenvolvimento econômico e alta tecnologia. Entre outras inovações, a Estônia foi o primeiro país a adotar um sistema seguro de eleições eletrônicas, que contempla ainda o voto online. Além disso, é um dos países com maior conectividade do planeta, com 99% dos serviços públicos via internet.
Tallinn conquista em cada olhar. Um ótimo ponto de partida é a prefeitura, a mais antiga da Europa, na Praça Raekoja, coração da Cidade Baixa. A torre de 77 metros de altura proporciona uma bela vista da cidade e do Mar Báltico. Outro ponto de observação espetacular é a torre da Igreja de Santo Olavo, muito usada por espiões da KGB no período soviético.
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Na área da cidade conhecida como Toompea, destacam-se a Praça do Castelo e a bela Catedral de Alexandre Nevski, homenagem ao guerreiro canonizado pela Igreja Ortodoxa Russa que conquistou a Estônia no século 13. Próximo dali, de grande interesse histórico e arquitetônico, estão o Forte de Tall Hermann, de 1371, e o Palácio de Pedro, o Grande, onde o czar e sua esposa, a futura imperatriz Catarina I, passavam longos períodos. Seguindo o exemplo de outros estados bálticos, o Museu da Ocupação e da Luta pela Liberdade retrata os anos de repressão de alemães e soviéticos.
Da proa da embarcação que me levou à Estônia, observei prédios e torres da fascinante capital. Se pudessem, o que diriam aquelas construções que, entre ventos meteorológicos e geopolíticos, testemunharam tanta história, pensamentos e ações? O período medieval gerou a semente do mundo de hoje, com o pensamento científico, o racionalismo e outros avanços. Teríamos, contudo, errado na dose no que se refere ao vigente materialismo consumista? Onde chegaremos com a estrutura da atual sociedade, regida de maneira geral por princípios incultos, imorais e inclementes, no que chamamos equivocadamente de economia? Será que um dia entenderemos a existência com lentes dignas da condição humana?
A lenta aproximação marítima de Tallinn me deu tempo de refletir e constatar mais uma vez que, mais importante que destinos ou objetivos alcançados, a caminhada e aqueles que nos acompanharam interessam mais. Somos, afinal, uma coleção de pessoas e jornadas, muito mais que um repertório de destinos.
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