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Taiwan: o tigre na mira do dragão

Em Taipei, capital de Taiwan, o edifício Taipei 101 se destaca, com 508 metros de altura, numa evidência de modernidade: até hoje, apenas 13 países no mundo reconhecem a autonomia do país asiático, entre eles o Paraguai

Nos aeroportos da China, sempre me chamou a atenção o fato de os embarques se dividirem entre voos domésticos de um lado e, de outro, “voos internacionais, Macau, Hong Kong e Taiwan”. Mais do que uma indicação, é uma mensagem política clara do país de Mao, que considera Taiwan território inalienável da República Popular da China. Apesar de ter hino, bandeira, moeda, passaporte e regime próprios, Taiwan não é destino internacional para os mandatários de Pequim.

O belo arquipélago da República da China, outro nome para Taiwan, tem a moderna Taipei como capital, ao norte da ilha que os exploradores portugueses chamaram de Formosa. No meu caso, o país começou a se revelar politicamente antes de desembarcar em Taipei pela primeira vez. Ao receber o visto no passaporte, percebi que, além da enfática advertência sobre pena de morte para o tráfico de drogas, a emissão tinha o carimbo da Embaixada de Taiwan em Assunção. Apenas 13 países reconhecem a independência do país asiático e o Paraguai é, de longe, o maior deles. Diante de um mercado chinês com 1,4 bilhão de pessoas e o de Taiwan, com 23 milhões, a maioria dos governos não pensou duas vezes para decidir de que lado fica.

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Segundo o ex-secretário de estado americano Henry Kissinger, quando o presidente Richard Nixon esteve em Pequim em 1972, Mao lhe disse privadamente: “Sobre a reunificação de Taiwan, não precisamos tratar neste momento. A China pode esperar, nem que seja por 100 anos”. É mais uma evidência de que a cultura e o regime chineses pensam sempre décadas e séculos à frente, uma das raríssimas vantagens de um governo não democrático que não precisa se preocupar com a próxima eleição.

O passado turbulento de Taiwan resultou em um presente que, visto de fora, parece uma bomba-relógio. Habitado pela etnia chinesa han a partir do século 13 e anexado pela dinastia Qing no século 17, o arquipélago foi ocupado pelos japoneses entre 1895 e 1945 e retomado pela China logo após a Segunda Guerra. Seguiu-se no continente a guerra civil entre as forças de Mao Tsé-Tung e as do Partido Nacionalista Chinês (Kuomintang), liderado pelo não menos autoritário Chiang Kai-Shek. Derrotados em 1949, Kai-Shek e dois milhões de seus soldados se refugiaram em Taiwan. O plano era, em poucos anos, retomar a China continental e derrubar os comunistas, o que, obviamente, jamais aconteceu.

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A verdade é que os dois lados se tornaram ditaduras brutais de partido único por décadas, orbitando em torno das personalidades dos dois líderes. O conceito da República Popular da China como “China Vermelha” e de Taiwan como “China Livre” foi mera criação da Guerra Fria e do tradicional pragmatismo americano, com seus ditadores favoritos. Pequim e Taipei concordam pelo menos em um ponto: o conceito de Uma Única China, faltando somente acertarem qual dos lados prevalecerá. Taiwan, que hoje não faz parte das Nações Unidas e participa de eventos esportivos como “Taipei Chinesa”, só teve sua primeira eleição democrática em 1996.

Com a ajuda financeira dos Estados Unidos e com o trabalho do povo local, a nação densamente povoada realizou uma reforma agrária verdadeira e, mais recentemente, se industrializou vertiginosamente, fundamentada em educação de qualidade e investimento público em pesquisa e tecnologia. Tanto esforço rendeu a Taiwan o título de tigre asiático, com Coreia do Sul, Singapura e Hong Kong.

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Nas duas últimas décadas, tenho estado em contato próximo e frequente com o povo local, e não encontro a tensão que se esperaria com relação à China continental. Todos falam abertamente sobre a questão da reunificação, conscientes de que ela, cedo ou tarde, acontecerá. A esperança dos nativos é que se dê pela via diplomática e de que Pequim trate Taiwan como o faz (um país, dois sistemas) com as regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau.

O governo taiwanês, obviamente, não encara a rusga tão serenamente, mantendo Exército, Marinha e Força Aérea armados até os dentes pelos americanos. Resta-nos torcer por cabeças frias dos dois lados, assim como de seus aliados. Não nos iludamos com nossa distância física do estreito de Taiwan, corredor marítimo por onde passam anualmente mais da metade dos navios de contêineres do mundo. Um conflito de larga escala entre os dois irmãos de sangue afetaria o planeta e faria o atual confronto entre Ucrânia e Rússia parecer uma branda discussão entre vizinhos.

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