É fácil ser um pouco feliz. Temos no pátio um pé de laranja do céu, que é generoso demais. Há anos produz abundantes frutos, certamente podendo satisfazer muitas pessoas. Já percebi que não são a melhor opção dos sabiás, que preferem outra qualidade. Talvez se soubessem quão doces elas são, revisariam seu cardápio e as incluiriam, o que tornaria ainda mais lindo seu suave e inconfundível cantar da primavera.
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A fartura de frutas a despencar dava pena. Pensei em dar um novo encaminhamento. Comecei a encher várias sacolas e em várias ocasiões as dependurei no portão de entrada. Um cartaz, escrito à mão, dizia: “laranja do céu, pode levar”. Várias pessoas passavam sem dar atenção, outras liam, mas passavam adiante. Talvez não acreditassem ou não necessitassem. Algumas liam, iam em frente, porém voltavam, aceitando a oferenda. Todas as sacolas eram levadas.
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Certo dia, observando a passagem das crianças de uma escola, vi que um primeiro menino abriu uma embalagem, tirou duas frutas, sendo seguido por vários outros, que também se serviram na medida que lhes bastava. Meu temor de que as usariam para fazer arte pelo caminho se dissipou. Em outra oportunidade, vendo várias sacolas ainda perfiladas atrás do portão, um menino me perguntou: “tio, posso levar uma?”
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Uma jovem mulher, voltando da escola com uma menina ao lado, passou, mas retornou. Tomou uma sacola e, ao me perceber, falou: “vou fazer um suquinho pro meu nenê.” E a criança que a acompanhava olhou para mim e disse: “obrigado!” A natureza nos dá de graça a oportunidade de provar a alegria. Senti como é fácil ser um pouco feliz!
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Fiquei pensando nos milhões de frutas que caem nos pátios, apodrecendo sem destino, quando poderiam chegar às mãos de quem tanto precisa. Dá um pouco de trabalho; no entanto, a recompensa não tem preço. Como diz a canção: fica sempre um pouco de perfume nas mãos de quem oferece rosas, nas mãos que sabem ser generosas. Quantas vezes temos coisas em casa sem nenhuma serventia, quando poderiam ser úteis a tantos necessitados.
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Há alguns anos, participando de um evento, ouvi uma interpretação sobre o milagre da multiplicação dos pães. Uma multidão seguia Jesus e, de repente, os discípulos se deram conta de que não haveria como alimentar a tantas pessoas. Cinco pães e dois peixes, que um menino trazia, seriam migalha para alimentar aquela gente. Padre Marcelino Svinski, um sábio, referindo-se a essa passagem, iluminou a questão, sugerindo que todos certamente tinham trazido alguma coisa para comer, só que cada um a guardava para si. O milagre promovido por Cristo foi provocar a partilha, todos pondo tudo em comum. Diz o Evangelho que ainda sobraram 12 cestas cheias, mesmo com a multidão saciada.
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Que não apenas as árvores dos nossos pátios e pomares deem fruto bom e abundante, mas que também nós, em todos os espaços em que vivemos, sejamos árvores generosas e eternos aprendizes da partilha. Aquilo que se perderia inutilmente estava tão perto de proporcionar um tão grande carinho virando suquinho pro nenê.
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