O mero boato de uma suposta traição, cometida por sua companheira, foi o estopim para um traficante apenado da facção Os Manos dar a ordem para a execução de um jovem de 18 anos em Santa Cruz do Sul. Vitor Gabriel Nunes foi assassinado com quatro tiros de pistola calibre 9 milímetros em 28 de abril deste ano, na Rua Canguçu, no Bairro Esmeralda. Os detalhes a respeito do caso foram apurados em uma investigação da 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP), que apontou cinco pessoas envolvidas na trama.
Em operação na manhã desta quarta-feira, a Polícia Civil prendeu preventivamente um homem de 23 anos, que teria sido o executor dos disparos, e apreendeu um adolescente de 17, que teria envolvimento no crime e foi flagrado por tráfico de drogas durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em sua casa. Na oportunidade, foram apreendidos um tijolo de maconha pesando 100 gramas, comprimidos de ecstasy e uma balança de precisão.
Essas duas ordens judiciais foram efetuadas em dois imóveis da Rua José de Oliveira Lopes, no Bairro São João. Outro mandado de busca chegou a ser cumprido em uma residência da Rua Norberto Harald Schmidt, no Bairro Country, mas nada foi localizado. A ofensiva desta quarta-feira contou com o apoio de agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).
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Além dos dois detidos, foram apuradas as participações de três apenados no crime, que tiveram também prisões preventivas decretadas pela Justiça pela morte de Vitor Gabriel Nunes. Um deles, que deu a ordem para a execução, tem 30 anos, e atualmente cumpre prisão na Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva). Outro, que está na mesma casa prisional, tem 35 anos e teria auxiliado na organização do crime.
Esse homem, que no caso do Esmeralda teria cooptado o rapaz de 23 anos para ser o executor, já foi pronunciado pelo Judiciário para responder no Tribunal do Júri por outro homicídio que causou repercussão na cidade: o da morte de Erickson da Silva Pires, 26 anos, no dia 17 de maio de 2021, na esquina das ruas Doutor Guilherme Hildebrand e Professor Antônio Koehler, na chamada Nova Imigrante, Bairro Arroio Grande.
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O outro apenado envolvido na morte de Vitor tem 36 anos e cumpria prisão domiciliar na época do homicídio no Esmeralda. Ele teria fornecido a pistola para o executor cometer o assassinato. Esse mesmo homem, posteriormente, saiu da cidade após pedir transferência para Santa Catarina. Nesse meio-tempo, outra condenação, esta da Justiça de Santa Maria para ele, transitou em julgado.
Com um acréscimo de pena, passou a cumprir regime fechado no estado vizinho. Ele é o ex-companheiro de Lisiane Vieira Bicca, de 40 anos, que foi assassinada no dia 26 de junho na Rua José de Oliveira Lopes, Bairro São João, em Santa Cruz do Sul. Investiga-se que o homem teria sido o alvo inicial de dois matadores naquele dia.
A polícia apurou como Vitor chegou ao local. Morador do Condomínio Terra Nova Moradas, no Bairro Pedreira, ele foi acionado na madrugada do dia 28 de abril por uma pessoa de dentro da facção criminosa para ir à Rua Ganguçu. Ele deslocou-se em uma motocicleta que não era sua, mas de outras pessoas ligadas à criminalidade.
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“Essa pessoa que atraiu ele, já sabendo que era do grupo, pediu para que o executor levasse a moto embora após o homicídio”, revelou o delegado. Uma conversa apurada pela 2a DP comprova o fato. Na mensagem, o mandante do crime, de 30 anos, que acreditava ter sido traído pela companheira, afirmou:
“Temos que pegar a moto, que a moto é nossa.” Em outra mensagem interceptada, há uma tentativa de dificultar o posterior trabalho policial.
“Ô meu, leva um martelo”, disse o líder. Um dos seus subordinados na prática do homicídio questionou o porquê de levar a ferramenta. “Ele respondeu que era para o executor quebrar o celular da vítima que foi atraída à emboscada, ou seja, imaginando que se a gente pegasse o celular teria um alinha para identificar ao menos alguém que teria participado. Teve essa determinação, mas o celular da vítima ficou na cena do crime”, disse Alessander Zucuni Garcia.
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Vitor teria ocultado o aparelho em suas roupas íntimas. Nas buscas, o homem preso nesta quarta-feira não localizou o item, que foi apreendido pela polícia posteriormente. Os envolvidos no assassinato vão responder por homicídio duplamente qualificado, com as qualificadoras – dispositivos que podem ampliar a pena – de motivo fútil (suposta traição) e recurso que impossibilitou a defesa da vítima (emboscada).
A responsabilidade do adolescente de 17 anos no homicídio ainda vai ser apurada. Em razão dos entorpecentes encontrados em sua casa, ele vai responder a ato infracional correspondente ao crime de tráfico de drogas. Após registro, ele foi entregue a um adulto responsável. O homem de 23 anos, que já havia sido identificado pela 2ª DP em assaltos a dois mercados e um posto de combustíveis nos últimos meses no município, foi conduzido ao Presídio Regional de Santa Cruz do Sul.
A análise de um sexto envolvido, que teria prestado algum tipo de auxílio no delito, ainda não está descartada. Os nomes dos envolvidos foram mantidos em sigilo. “Foi um crime grave, que criou uma certa repercussão na comunidade. Essa investigação é um trabalho importante que desvenda mais um homicídio, apurando não somente quem executou, mas quem determinou a morte”, finalizou o delegado Alessander.
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À reportagem da Gazeta do Sul, o delegado Alessander Zucuni Garcia revelou detalhes da investigação. Segundo ele, a 2ª DP angariou elementos definitivos de que o crime foi passional. A ordem para executar Vitor Gabriel Nunes foi motivada por uma suposta traição da companheira do traficante apenado de 30 anos, com a vítima. “É um fato lamentável, uma vez que, fora a gravidade do delito, esse grupo se acha no direito de executar alguém por uma simples desconfiança”, comentou o delegado.
“Esses indivíduos organizaram e determinaram a morte desse jovem. Atraíram ele até o local, onde passou a ser alvejado sem qualquer chance de defesa, já que foi uma emboscada. Temos elementos importantes da participação desses indivíduos e, com base nisso, representamos pelas prisões deles ao Judiciário, que foram decretadas”, explicou Alessander.
Conforme o titular da 2ª DP, houve dois episódios imediatos, no dia seguinte ao homicídio no Esmeralda, que chamaram atenção das forças de segurança: um atentado a moradores de uma residência no Bairro Aliança, em que um homem e até um cachorro foram alvejados; e outro na BR-471, na altura do Bairro Schulz, em que um adolescente foi baleado.
“A gente entendeu, pela dinâmica e pelos envolvidos, que essas situações foram represálias em função da morte do jovem. Há um indicativo de que ele estava envolvido no mundo do crime e, em função disso, tinha comparsas, pessoas que se doeram por ele dentro da organização criminosa”, revelou o delegado Alessander Garcia.
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