Como a terra não é plana e Tóquio está 12 horas à frente do nosso horário oficial, acompanhar as principais atrações das Olimpíadas exige um tanto de sacrifício no sono. Apesar deste inconveniente, a torcida pelos atletas brasileiros nos jogos olímpicos empolga mais que pela seleção de futebol que disputou a Copa América há poucos dias. Uma prova simples disso: as lágrimas da Fadinha Rayssa após conquistar a medalha de prata no skate street comoveram muito mais que as de Neymar ao perder a final para a Argentina, no Maracanã.
Os Jogos Olímpicos nos revelam muitas coisas, não apenas sobre a realidade do Japão, lá no outro lado do mundo. Quantos sabiam, por exemplo, detalhes sobre as manobras com os skates ou sobre as pranchas de surfe antes das Olimpíadas? Tanto é que, na quarta-feira, os principais comentários esportivos se relacionavam ao julgamento (injusto ou não), com a diferença na pontuação a um aéreo nas ondas na semifinal do surfe disputada por Gabriel Medina e pelo japonês Kanoa Igarashi.
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Outro aspecto que chama a atenção são as histórias de vida de muitos dos atletas brasileiros. Nas mesmas provas onde Gabriel Medina não se classificou para a final na Praia de Tsurigasaki, outro brasileiro se tornou o primeiro campeão olímpico na modalidade surfe. Ítalo Ferreira, de 27 anos, ainda pequeno começou a pegar ondas na tampa de isopor do pai pescador e progrediu aos poucos para pranchas emprestadas de seus primos, antes de ser descoberto aos 12 anos.
Já a maranhense Rayssa Leal, com apenas 13 anos, levou muita gente a deixar de lado o preconceito de que skate não é esporte para mulheres ou de que a prática dessa modalidade é para desocupados. E quem não se comoveu com as lágrimas dela após conquistar a prata no skate street, tornando-se, em Tóquio, a medalhista mais jovem do Brasil nas Olimpíadas? Na preparação dos brasileiros não faltaram nem mesmo casos inusitados. Medalha de bronze nos 200 metros nado livre, Fernando Scheffer, natural de Canoas, teve até treino em um açude, pois as piscinas estavam fechadas em razão da pandemia de Covid-19.
A vice-campeã olímpica no individual geral da ginástica artística, Rebeca Andrade, de 22 anos, manteve-se no esporte desde os quatro anos de idade, mesmo diante de todas as dificuldades da vida, como falta de dinheiro até para se deslocar ao ginásio onde treinava. Nem mesmo as três cirurgias no joelho a fizeram desistir. E o triunfo é ainda mais significativo diante do fato de Rebeca ter finalizado sua apresentação no individual geral com a música Baile de Favela, um funk do MC João, típico da periferia, em uma das modalidades que é um dos símbolos das Olimpíadas.
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Todas essas histórias são muito bonitas. Mas, por outro lado, mostram o quanto o Brasil ainda carece de investimentos no esporte e na educação. As duas áreas andam juntas. Basta ver que grande parte das escolas que se destacam em qualidade de ensino contam com boa estrutura para a prática de esportes. O esporte, como um instrumento pedagógico, é capaz de agregar valor à educação, ao desenvolvimento das individualidades, à formação pessoal para a cidadania e à orientação para a prática social.
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