Isolamento, baixa autoestima, depressão, decepções pessoais e amorosas e até mesmo vícios são apontados como os principais fatores que têm levado moradores do Vale do Rio Pardo a tirarem suas vidas. Os índices, embora divergentes, acenderam o sinal de alerta em Vera Cruz. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, houve 11 suicídios comprovados ao longo de 2019. Porém, esse número pode chegar a 21, conforme o Comitê de Prevenção ao Suicídio de Santa Cruz do Sul, que dá suporte ao comitê vera-cruzense.
Os números tornam-se ainda mais expressivos se considerarmos que o município tem 25 mil habitantes. A Secretaria de Saúde de Vera Cruz também confirma, pelo menos, três suicídios desde o início do ano, elevando ainda mais essa média nada desejada. Um dos casos mais recentes aconteceu no fim de semana.
O delegado Paulo Cesar Schirrmann, titular da DP de Vera Cruz, comenta que já havia enfrentado situação semelhante quando atuava em Venâncio Aires, município que também tem índices elevados de suicídios. “É difícil apontar os fatores. São pessoas que, por diversos motivos, alguns banais, sem grande importância, acabam tirando sua vida”, relata.
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Schirrmann observa que quem tira a própria vida não costuma ter antecedentes policiais. “São pessoas com vidas normais, com trabalho, estudo, famílias, que após alguma decepção ou outra situação, acabam tomando essa atitude”, conclui. O delegado afirma que a Policia Civil está empenhada na prevenção, em conjunto com órgãos estaduais e municipais.
Tabus e silêncio de quem precisa de ajuda atrapalham a prevenção
A secretária de Saúde de Vera Cruz, Liseana Palma Flores, relata que, desde 2018, a Prefeitura tem se mobilizado para prevenir novos casos. “Montou-se um comitê composto por diversos representantes e passamos a construir mecanismos para enfrentar esse problema. Dentro da secretaria, criamos grupos de apoio nas Estratégias de Saúde da Família, que alertam para a saúde mental e contam com profissionais qualificados”, aponta.
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As equipes dos núcleos são compostas por psicólogo, assistente social, farmacêutico, pediatra, educador físico e nutricionista, e devem passar a contar com um psiquiatra. Segundo Liseana, também se pretende integrar mais secretarias no combate ao suicídio, em áreas como cultura, educação e até geração de empregos, como forma de oportunizar trabalho aos pacientes que estão fora do mercado de trabalho.
Porém, o silêncio das pessoas que planejam se suicidar, e mesmo dos familiares e da comunidade, representa um desafio para as equipes. “Percebemos como existem tabus. As pessoas não costumam falar sobre o tema”, lamenta. Assim, a dificuldade em identificar prováveis casos de transtornos mentais, como a depressão, dificulta o trabalho do Comitê.
Para a secretária, tais tabus e preconceitos inibem as pessoas a buscar auxílio nos Centros de Atendimento Psicossocial (Caps). “A pessoa que está em sofrimento não tem, muitas vezes, o discernimento de buscar ajuda”, comenta. Liseana não esconde que o quadro em Vera Cruz é preocupante, ainda que se considere apenas os 11 registros oficiais de suicídio. “O sofrimento mental, muitas vezes, a pessoa esconde com um sorriso. Mas queremos ajudar a todos”, finaliza.
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Atenção aos detalhes
Enquanto os órgãos de atendimento buscam explicações para o índice de suicídios, especialistas formulam hipóteses. O assistente social Carlos Stavizki Júnior salienta, entretanto, que os estudos não são conclusivos. Ele conta que, ao longo de seu trabalho como residente no Comitê de Prevenção do Suicídio, no Hospital Santa Cruz, atendeu a diversos casos. “Não há uma faixa etária, uma idade. São jovens, adultos, pessoas mais velhas. Cada caso é específico. Buscamos dar suporte não só a quem enfrenta esse transtorno, mas a toda a família.” Porém, Carlos observa que o atendimento a pessoas mais idosas está aumentado.
Sobre os possíveis sinais apresentados por quem está planejando tirar a própria vida, ele observa que o isolamento é um dos principais. “A pessoa se isola, passa a pensar no suicídio, planeja e se programa.” Para o assistente social, o amor e a atenção são o “melhor remédio” para evitar o pior. “É preciso buscar analisar quem está passando por esse tipo de problema, chamar para conversar, dar ânimo, carinho, mudar a perspectiva”, finaliza.
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Naira Zanette, voluntária no Centro de Valorização da Vida (CVV), observa que as ligações para o 188 (o número de telefone de atendimento do Centro) vêm aumentando nos últimos meses. “Em dezembro e janeiro aumenta bastante, muito em virtude desses momentos de Natal e Ano- Novo. As ligações cresceram muito. Foram 12 mil em todo o País nos últimos 60 dias”, aponta.
Naira afirma que, nas ligações, é importante que o voluntário ouça e se coloque no lugar do outro. “Recentemente, atendi um senhor e conversamos sobre amor próprio. Ele nunca tinha ouvido falar disso. Me falou que ficou contente, que a nossa conversa mudou sua opinião, que ele passaria a ter amor por si. São coisas simples que estão na nossa volta, mas fazem a diferença”, ressalta.
Onde buscar ajuda
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Vera Cruz
Caps
Telefone (51) 3718 3709
Rua Jacobe Schneider, 131
Santa Cruz
Caps II
Telefones (51) 3715 3711 e 3713 3077
Rua Venâncio Aires, 307, Centro
Centro de Assistência Psicossocial da Infância e Adolescência (Capsia)
Telefones (51) 3711 1706 e 3715 2079
Rua Presidente Rodrigues Alves, 729, Bairro Goiás
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Unidade de Vigilância Sanitária e Epidemiológica
Telefone (51) 3715 1546
Rua Ernesto Alves, 746, Centro
Hospital Santa Cruz
Telefone (51) 3713 7400
Rua Fernando Abott, 174, Centro
Centro de Valorização da Vida (CVV)
Telefone 188
Atendimento 24 horas por dia
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