Em 1954, a baiana Marta Rocha foi eleita a primeira Miss Brasil. Naquele ano, no concurso Miss Universo, na Califórnia, ficou em segundo lugar, atrás da americana Miriam Stevenson, com uma votação muito próxima. Reza a lenda que Martha Rocha perdeu o título de Miss Universo por ter cerca de 6 centímetros a mais de quadril – versão que a própria sempre desmentiu.

Ou seja, não é de hoje que os concursos de beleza exigem simpatia, desenvoltura e, claro, beleza. Além destes requisitos, alguns outros chamam atenção pela peculiaridade, como não ter filhos e não ser casada. Este último já gerou um fato conhecido no país. Em 2002, a ex-BBB Joseane Oliveira foi obrigada a entregar a coroa de Miss Brasil por ter omitido o estado civil. Na época, Joseane, que é gaúcha, disse que a regra era ultrapassada e deveria ser revista.

Mãe de miss desde 2017, coordenadora regional do Mini Miss Universe Região dos Vales e já tendo atuado como jurada na escolha de soberanas de municípios da região, Nara Thier acredita que hoje os concursos se voltaram mais para o conhecimento, carisma e pelas ações sociais que as candidatas desenvolvem em prol do município, estado ou país. “As evoluções destes critérios fizeram com que o mundo miss fosse visto de outra maneira, e é visível que a candidata que deseja vencer etapas deve se preparar muito bem, não sendo somente um rosto bonito.”

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Sobre os critérios como não ter filhos ou não ser casada, Nara não vê problemas. “Acho que cada concurso deve ter suas regras de acordo com o que for oferecer. Em certos concursos, existem categorias para mulheres casadas, com filhos, acima de 30 anos, que vão até a maturidade. O intuito é valorizar cada pessoa dentro do seu padrão, independente de qual for. Hoje mudou a maneira de avaliar e respeitar as mulheres, não só pela beleza, que pode ser encontrada em qualquer idade e corpo, mas principalmente pelo seu conhecimento e cultura.”

Com 30 anos de experiência na área, o produtor cultural Sérgio Luiz de Ávila já atuou como jurado, organizador, coreógrafo e cenógrafo. Diz que vê, claramente, beleza e conhecimentos como quesitos associados um ao outro. “Nem sempre a que impressiona mais aos olhos do público é a eleita, mas sim o conjunto de critérios como beleza, aliado a inteligência, emocional, somando maturidade, empatia e conhecimento.”

Sobre critérios que ainda persistem em alguns concursos, como ser solteira, Sérgio considera muito relativo. “O que deve ser considerado é que a liberdade de uma miss, rainha, ou qualquer título é muito importante por causa dos muitos compromissos. O casamento e filhos podem atrapalhar em algum momento nos seus compromissos.”

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No entanto, Sérgio é enfático ao dizer que tem espaço para todas. “Ficou mais evidente que beleza pode estar em qualquer biotipo. Acredito que cada concurso tem uma necessidade e requer um padrão para aquela ocasião. Então, nem tanto aos extremos, mas na medida do possível e merecimento de cada uma, conquistará seu espaço.”

“Não existe limite para nossos sonhos”

A jovem Luiza Fischer, de 24 anos, está dentro dos “padrões de beleza”. Além disso, ela é bastante comunicativa e esforçada, o que facilmente faria com que ela pudesse ganhar algum concurso. No entanto, Luíza é surda e, para poder se comunicar, ela precisa da ajuda das intérpretes Suzana, Daiane ou Noeli.

Mesmo assim, nunca desistiu do sonho. A jovem é a soberana destaque da 36ª Oktoberferst. Antes disso, já concorreu em concursos em Passo do Sobrado e também na Oktoberfest de 2018. Com o título e a persistência, ela espera ter conseguido inspirar outras meninas. “Espero que sim. Quero dizer, para quem tem esse desejo, vai, não existe limite para nossos sonhos. Eu tive apoio, carinho, acessibilidade. Estou muito feliz.” Para Luiza, padrão de beleza é inteligência, força de vontade e, acima de tudo, amor próprio. “Quero dizer que nunca deixe de ser o que você realmente é, porque nada nem ninguém é maior quando o sonho é possível.”

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