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Happy Hour

Solidariedade nas águas

Nesta terça-feira, comemoraremos a data máxima da cristandade. O coração das pessoas amolece, tornam-se generosas no Natal. As famílias se reúnem em torno do pinheirinho. As crianças vibram com a chegada do Papai Noel. Os amigos- secretos são compartilhados entre os adultos. É uma festa, apesar de alguns se esquecerem do aniversariante do dia, Jesus Cristo.

Para me afastar desse noticiário político estressante, depois de longos seis meses de recesso das pescarias, coloquei minha lancha no Jacuí e fui pescar. Acompanhava-me meu amigo Lico. O rio estava no seu nível normal. Subimos até as Sete Ilhas. O motor estava funcionando bem, porém o tempo estava carrancudo, trovejava e relampejava. Tomamos um banho com a pancada da chuva de verão, que logo cessou. Esse mau tempo motivou a muitos pescadores deixarem para pescar outro dia.

Na expectativa de fazermos uma ótima pescaria, infelizmente, os pintados haviam se escondido em algum poço do rio. Mudamos de lugar e nada de peixe. Na terceira tentativa de deslocamento, o motor negou fogo. Obrigou-nos a permanecer horas à deriva, na esperança de encontrar um pescador mais abaixo. Pedimos socorro à marina. Acreditávamos que fosse a bateria o problema. Respondeu que um potente barco viria em nossa direção com três amigos a bordo. Trouxeram uma bateria. Constatamos que não era esse o problema.

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 Ao invés de nos levarem ao porto seguro, resolveram subir à barragem para pescar e na volta rebocariam a lancha. Estávamos sem almoço, sem água ou cerveja. E o pior, não vinha nenhum outro barco. Outros dois barcos com motor de 15 HP estavam pescando e desapareceram rio abaixo. Ficamos a ver navios e continuamos descendo à deriva. Estávamos possessos com a atitude reprovável dos amigos que decidiram pescar longe dali e não voltavam para nos auxiliar.

Subindo em nossa direção vinha uma frágil canoa, movida por um motor de centro. Nela estavam embarcados um pescador e seu filho pequeno. Pedimos que nos rebocasse até os Ingazeiros, daríamos uma recompensa. Não negou o favor. Amarrou a corda em seu minúsculo barco e nos puxou até o nosso destino. Pensei que não conseguiria movimentar minha lancha grande, proporcionalmente. Notei que o menino se sentia orgulhoso com o gesto de seu pai.

 Depois de uma hora de navegação e o heroico desempenho do motor de centro com a pesada lancha que rebocava, comparei o solícito pescador com o sofrido povo brasileiro, que nunca perde a esperança. Pensei na pesada máquina pública que carregamos nas costas, na carga tributária que pagamos para sustentá-la. Lembrei-me da minoria de privilegiados que recebem altos salários e se aposentam com ganhos integrais. Recordei-me dos penduricalhos e da corrupção insaciável de alguns políticos.

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