Ovento que chamara nossos aventureiros à caverna, misteriosamente iluminada, se transforma em brisa oxigenante. “É estranho, mas inspirador. O mineral violáceo que nos orienta deve ser do grupo das ‘sodalitas’. Pode ser uma ‘hackmanita’… Só que não se espera encontrar por aqui essa variedade mineral.
É extraordinário!”, pondera a entusiasmada Tanice. A artesã Eva encanta-se: “Sim, a sodalita transmite serenidade, abre nossos caminhos para novas realizações, aponta mudanças e nos aproxima da natureza”.
Cuidadosamente, todos seguem pela caverna. Seria de se esperar que o piso fosse se elevando. Todavia, não conseguem perceber, com clareza, se estão a subir ou a descer. Mais do que a caminho, sentem-se intuitivamente conduzidos pelo brilho rochoso. Todavia, percorrer uma trilha por dentro de uma furna, que se estende sem se saber para onde, gera justificadas apreensões. Delas não escapam nossos andarilhos.
As duas cobras demonstram menores receios. As abelhas, habituadas à orientação solar, mostram-se desnorteadas, o que as aproxima do voo investigativo da ligeira libélula. Já o cardeal, aboletado sobre o cervo, bem como o pombo, não esconde seus temores. Luna, a mais inquieta de todos, se atrapalha com as pedras que dificultam seu andar. Os troncos e as criaturas feridas, acostumados aos infortúnios, auxiliam-se, curvam-se, amparam-se mutuamente. Tanice, preocupada com o grupo, puxa a frente, seguida por Eva, Cristian e Irene. Líris, sem largar sua bonequinha, segura a mão da criança. Poderiam se valer da lanterna do celular, mas isso quebraria o encanto. Cada um a seu modo, revezam avanços e recuos.
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Caminham. Param. Descansam. Seguem. Prosseguem. Perdidas as noções de distância e tempo, algo a todos anima, à semelhança da força noroeste que os trouxera até ali. Eis que, distâncias percorridas e tempos transitados, vislumbram um foco de luz à frente. Um fulgor solar desponta. Surpreso, Cristian exclama: “Já vi este lugar logo ali adiante. É a área do Sanatório!”
De fato, não tarda para alcançarem as antigas instalações do Sanatório. “Não é possível”, exclama Cristian. “Retornamos.” Eva, em tom reflexivo, pondera: “Acho que depois de passarmos pelo fundo do abismo e conhecermos a força da terra, nunca mais seremos o que fomos. Penso que agora temos uma missão, a de construir um mundo novo: um VERDE NOVO. Verde no sentido de que todas as cores se movam ao ritmo e à sabedoria da natureza. Que nossas feridas, desacertos e erros fiquem para trás”. Irene, em apoio a Eva, emenda: “Que bom que estejamos todos aqui, sem mágoas, prontos para um recomeço”.
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Exultante, Eva se aproxima de Cristian: “Gostaria de, antes de tudo, ir até a Pedra Encantada”. Irene pisca para Tanice: “Vamos aguardar aqui. O momento é deles”. A criança e Líris se abalam atrás de Luna. O pombo busca guarida no passadiço entre os dois prédios principais da antiga instituição. O cardeal acompanha o cervo na caminhada inaugural.
Cristian e Eva encontram a pedra procurada. As duas cobras aninham-se em torno do olho de água, que, sutil, brota da rocha em seis direções. “Esta rocha tem seis faces, como os alvéolos dos favos que as abelhas constroem e o número de pernas da libélula”, considera Cristian. As abelhas e a libélula revoam sobre a Pedra Encantada. Rocha, ali perenizada, que só agora começa a ser compreendida. “Como tardamos em ver aquilo que, muitas vezes, está ao nosso lado?”, comenta Eva. Todos se ungem da água brotante. “Posso?” Ao aceno conivente, Cristian lava os pés de Eva. O faz com sutileza, acarinhando.
Cristian e Eva, concentrados em sua amorosidade, não percebem algo inesperado. Um senhor se aproxima. Procura não atrapalhar o momento do médico e da mulher que se doara pelo marido, a ponto de se empregar no Sanatório para cuidar dele. O homem, recém-chegado, passa pelos dois e logo adiante encontra Irene. Desconcertada, Irene é abraçada por Antônio. Por Antônio?
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