Semanas atrás, a Gazeta publicou um artigo da professora Lissi Bender sobre galinha recheada. Para se ver como a culinária alemã é vasta. Eu não me lembrava desse prato. Na nossa família se falava em galinhada, que era galinha frita com arroz. Gostaria de lembrar aos jovens que na minha juventude a galinha era artigo caro e raro. Geralmente era servida ao meio-dia dos domingos.
Daí que muitas famílias tinham seu galinheiro dentro da cidade. Nossa família morava na rua Thomaz Flores, esquina com João Werlang. Uma era nossa casa de moradia; a outra, o armazém de secos e molhados do meu pai. Com o falecimento de minha mãe, nossa família optou pela venda dos dois prédios que, posteriormente, foram demolidos.
Na casa de moradia de meus pais, havia um galinheiro nos fundos, com uma bela horta.
Anote-se bem: a duas quadras da catedral criavam-se galinhas! Só muitos anos depois, minha mãe recebeu uma intimação para terminar com o galinheiro. Tive que ir a Santa Cruz para convencê-la a cumprir o que era ordenado e razoável. Mas a todas as horas lamentava o triste fim da criação dos galináceos. Quando eu ainda morava com meus pais, era o encarregado de, inclusive, sacrificar a galinha. Eu cumpria sem nenhuma pena, assim como era com os passarinhos. Hoje jamais me prestaria a isso.
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Então, aos domingos se fazia a galinhada. Enquanto a carne era frita na panela de ferro centenária, eu cuidava para que ninguém tirasse o fígado e o coraçãozinho, que eu comia antecipadamente. Cada membro de nossa família tinha um pedaço preferido e isso era sagrado. Eu gostava das duas asas e comia com a mão mesmo. Se fosse um galo bem criado, eu comia o pescoço e a crista.
Ao lado de nossa casa havia a residência dos padres, que mais tarde foi vendida. Os sacerdotes eram amicíssimos de nossa família. Frequentadores de nosso almoço dominical eram vários, mas se destacavam o padre Darupp, o padre Linn e o padre Blume. O padre Darupp era alemão, já era quase idoso. Sempre requisitava uma taça de vinho tinto e terminava a refeição entoando músicas germânicas. A preferida dele era “Die Lorelei”. O padre Darupp tinha um programa de rádio às 18 horas e misturava alemão com português. Com o advento do golpe militar, consta que foi “convidado” para voltar à Alemanha.
Minha mãe guardava as receitas num caderninho. Quando me casei com Maristela foi um arraso. Ela copiou todas as receitas de dona Ludmilla e, para agradar ainda mais a sogra, fez o curso de alemão no Goethe Institut em Porto Alegre.
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Belas lembranças.
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