Minha prima e eu no WhatsApp semana passada:

– Onde andas, Luciana?
– Em casa me recuperando de uma amigdalite. Muita dor na garganta e ouvido. Trabalhando em home office.
– Poxa, que ruim isso.
– Pois é. O mais estranho é que não era para eu ter amígdalas.
– Não entendi.
– Foram extraídas na infância.
– Nunca ouvi dizer que é possível ter amigdalite sem amígdalas.
– É que ficou um pedaço. Bem pequeno, segundo o médico que me atendeu ontem. Um pedacinho de uma amígdala.
– Ah… Então na cirurgia deixaram um “restinho”. Agora entendi. Rsrsrsrsrs.
– Sim. Eu achei que não tinha amígdala. E agora descobri que tenho. Minúscula. Mas tenho.
– Passaste 50 anos com uma microamígdala.
– Mas o melhor da história não é isso. Esse “pedaço de amígdala” foi o que sobrou de uma “cirurgia espiritual”.
– Meu Deus.
– Lembra do “homem do esparadrapo”, lá em São Gabriel?
– Homem do esparadrapo? Claro que não.
– Rose, a mãe me levou e acho que tu estava junto.
– Deve ter sido no século passado.
– Claro que foi no século passado. Éramos crianças.
– Luciana, que história é essa?
– Pois então… O doutor Miguel queria operar as minhas amígdalas. A mãe resolveu me levar no homem do esparadrapo. Saí de lá com um esparadrapo no pescoço…
– Com o pescoço cortado?
– Naaaaão. Foi “espiritual”.
– Ele era um curandeiro?
– Não faço ideia. Mas tempos depois a mãe me levou ao médico, por algum outro motivo, e ele falou algo do tipo: ‘Ah, a senhora resolveu fazer a cirurgia das amígdalas da Luciana?!’ A mãe negou. Ele disse que ela não precisava ficar constrangida, que tinha todo o direito de operar com outro médico. Ela ficou com vergonha de falar que tinha me levado no homem do esparadrapo.
– A cirurgia espiritual teria realmente extirpado tuas amígdalas??? É incrível. Nem sei o que dizer…
– Só sobrou um pedacinho.
– As amígdalas são importantes. Elas nos protegem. Acho que produzem anticorpos. Ou algo parecido.
– Em alguns casos retiram. Não lembro direito o porquê.
– Certamente porque inflamam muito.
– E seguem inflamando. Pelo menos as retiradas “espiritualmente”.
– Mundo estranho.
– Isso que é uma história, né?!

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