Categories: Ruy Gessinger

Sobre animais I

Nosso cancioneiro nativo gaúcho tem pérolas, tanto sonoras como poéticas, que miram a vida de campo. Uma delas é a belíssima composição de Ewerton Ferreira e José H. Retamozo, “Poncho Molhado”:

“Poncho molhado olhar na tropa e no horizonte/Vai o tropeiro devagar estrada afora
A chuva encharca que está chovendo desde ontontem/Dói dentro d’alma essa demora
Irmão do gado ele se sente nessa hora/E o seu destino também vai nesse reponte
Igual à tropa nesse tranco estrada afora/Sempre encharcado de horizontes
A tropa segue devagar mugindo tonta/Talvez pressinta que seu fim é o matadouro
E o tropeiro entristecido se dá conta/O boi é bicho mas tem alma sob o couro…”

Nada mais verdadeiro. Hoje, queiramos ou não, a maior parte de nós está confinada em apartamentos ou em casas bem gradeadas, cheias de sensores, alarmes, câmeras. Saímos das fábricas ou qualquer local de trabalho e nos socamos dentro do automóvel, para apear já dentro da moradia. Se não estivermos teclando no celular, é provável que estejamos degustando a overdose de informações, cuja única “virtude” é nos deixar mais aflitos e estressados.

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No máximo teremos um cachorro – cujo horizonte é a grade da casa – com o qual passeamos, sempre com uma guia e coleira, impedindo que saia correndo e brinque com alguma coisa. Sendo assim, pouco tempo temos de contemplar a natureza, tal qual ela foi gestada pelo Criador. Às vezes chegamos ao absurdo de pensar que vegetação que não foi por nós colocada nos vasos ou plantada no jardim, é cisco, é capoeira, é erva daninha.

As pessoas ficam, assim, desnorteadas por imposição de nossos tempos. Os pequenos povoados, as bucólicas cidades, onde não pega bem a internet, são inimagináveis para a maioria.

Pois como se diz em Unistalda, “é aí que me refiro”.

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Por eu estar há mais de 20 anos em estreito e frequente contato com os campos, observei que os animais são maravilhas da natureza. Tanto os domesticados como os livres. Não concordo com a assertiva de que os animais, por não terem o aparelho fonador como os humanos, sejam irracionais. Lá na fazenda andam livres canídeos, felinos, veados, etc, que não deixam lixo por onde habitam. E proclamo: eles têm tanto direito de viver aqui na Terra como nós.
Se você tiver muito contato com os cavalos verá que eles têm, no seu grupo, parceiros escolhidos, trocam afagos, se acostumam com os humanos, sabem “de vereda” quem é cavaleiro e quem não é.

(Continua na próxima)

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