Chegamos ao Dezembro Vermelho, mês dedicado à conscientização e à luta contra o vírus do HIV, a Aids e as infecções sexualmente transmissíveis (IST). Para marcar a data, o Ministério da Saúde divulgou o Boletim Epidemiológico no qual revela dados alarmantes para refletirmos sobre o impacto da doença nefasta.
De 1980 a julho de 2023, foram notificados 1.124.063 casos no Brasil. Em 43 anos, 743.596 homens e 380.346 mulheres diagnosticadas com o vírus da imunodeficiência humana evoluíram para a síndrome da imunodeficiência adquirida. Somente nos últimos cinco anos, o país tem registrado uma média anual de 35,9 mil novos casos de Aids.
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Com o avanço dos tratamentos, as pessoas com a doença vivem por muito mais tempo. Diferentemente da década de 1990, em que a sobrevida era de cinco anos. Entretanto, desde o início da epidemia, em 1980, até final do ano passado, mais de 382 mil pessoas perderam a vida em decorrência da doença.
Esses números evidenciam que a infecção de HIV e a Aids são um problema de saúde pública em todo o País e a necessidade de nos engajarmos na campanha de prevenção. Cresci convicto de que a doença era coisa do passado e muito distante da minha realidade. Prova disso é que, até os 34 anos, conhecia apenas a história de duas vítimas fatais, provavelmente as mesmas que você, leitor, deve conhecer: Freddie Mercury e Cazuza.
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Embora o fim trágico dos dois roqueiros tenha sido impactante na minha vida – a face acometida do cantor brasileiro estampada na capa da Revista Veja até hoje não sai da minha lembrança – e serviu como um alerta, admito que por muito anos não dei a devida atenção ao Dezembro Vermelho.
Tudo isso mudou em novembro. Na noite do dia 5, um familiar descobriu ser soropositivo após passar mal e precisar de atendimento no pronto socorro. Em consequência do estado avançado da doença, precisou de internação hospitalar.
A notícia, é claro, chocou. Perturba por ser uma pessoa próxima, alguém com quem vivi durante grande parte da infância, entrava para as estatísticas. Mas, mais do que isso, pela primeira vez na minha vida abri os olhos para a doença e o impacto que ela causa não só em seu portador, mas nas pessoas ao seu redor.
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Separados pela distância, 255 quilômetros para ser mais exato, as atualizações do seu estado de saúde eram escassas nos primeiros dias. Logo que chegou ao hospital, conseguimos conversar por texto e expressar apoio no momento. Enquanto batíamos um papo, ele me fez um pedido: “Ficaria bem feliz se puder vir me visitar”.
Depender de mensagens trocadas pelo WhatsApp com os parentes torna toda a experiência ainda mais angustiante. E as notícias, infelizmente, só pioraram à medida que o mês passava. Com o sistema imunológico deteriorado, seu corpo perdeu quase que totalmente a capacidade de se proteger de infecções, e elas apareciam a cada novo exame.
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O encontro, entretanto, ainda não tem hora para ocorrer. Foi questão de tempo até ser informado de que a situação havia se agravado, sendo necessário a internação na Unidade de Tratamento Intensivo, onde permanece até o momento.
Na última semana de novembro, quando eu completaria 35 anos, parentes e amigos foram comunicados de que precisavam se preparar para o pior. Porém, viemos de uma família de teimosos. É essa persistência que o faz melhorar um pouco diariamente. E, em breve, tenho certeza de que poderei visitá-lo.
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Desde o início de novembro, falar sobre a doença se tornou parte do meu cotidiano e de todos aqueles que acompanham o caso. Ela chegou sorrateiramente e logo mostrou sua agressividade, afetando principalmente seu hospedeiro, mas não poupou as pessoas à sua volta. Ela nos fez abrir os olhos para a realidade nua e crua.
Conforme o boletim do Ministério da Saúde, vivemos em um dos estados brasileiros com os índices mais alarmantes. O Rio Grande do Sul é líder no coeficiente de mortalidade, com 1.130 mortes em 2022, e a sexta maior taxa de detecção da doença.
Porto Alegre se destaca como a capital com maior índice em um levantamento dos últimos cinco anos (de 2018 a 2022), considerando as taxas de detecção na população geral, mortalidade e registros em menores de 5 anos de idade.
A Aids não escolhe sua vítima pela classe social, idade, gênero, raça, orientação sexual, escolaridade ou ideologia. Ela só espera um momento de descuido, aguarda aquele momento em que os olhos estão fechados, para revelar-se e iniciar a destruição.
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