Como cavaleiro sofrível até que caí pouco dos cavalos. Foram quatro vezes. O único problema é que a costela quebrada leva um tempão doendo. É igual a mordida de traíra no dedo da mão.
Eu sempre fui metido, mas não cheguei às raias da imprudência. Só depois fui me dar conta de que a maioria dos campeiros e peões têm uma linguagem cifrada que não pode ser levada ao pé da letra.
Por exemplo: quando a chuva já é boa, mas falta mais, eles dizem que está garoando; quando um cavalo é manso, no entender deles, para um urbano será um fogoso corcel botando fogo pelas ventas.
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Meu primeiro tombo foi assim: eu saí, numa manhã de geada, para ver uns terneiros do cedo que estavam nascendo. O capataz não estava e fui com um peão. Vimos uma vaca deitada, com o útero de fora e o terneirinho em redor da mãe. O peão me pediu que trocássemos de montaria porque a égua dele não ia deixar ele levar o terneirinho sobre os arreios. Apeei, trocamos e alcancei a ele o terneiro de seus 35 quilos. Feito isso, “amuntei” naquela desgranida. Não consegui me enforquilhar e nem colocar o pé no estribo do lado do laço e a tirana saiu velhaqueando e disparando campofora. Eu tinha medo de sofrenar aquela exibida, receoso que ela empinasse e caísse em cima de mim. E a louca galopeando. Até que consegui conduzi-la para um cerro de pedras e pensei: “medonha, agora tu vais ralar as patinhas”. Realmente, ela sentiu a dor do pedregal e deu uma vacilada. Foi quando me atirei de cima dela.
A danadinha só foi parar uns quilômetros depois.
Outro episódio foi com minha mulher Maristela, que tem o sangue centenário dos centauros do pampa. Também tem uma pitada de sangue alemão de sua avó dona Oliva Müller. Maristela, como já relatei, foi presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Ile de France.
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Um dia, comprei para ela uma lindíssima égua baia, de nome Guria. Égua formosa, cheia de razão, imponente. Quem via Maristela montando se encantava nos desfiles de 20 de setembro.
Um dia de manhã pedi para um peão jovem, recém chegado, colocar os arreios na Guria. Estávamos olhando uns terneiros, quando Maristela fez um movimento brusco e virou os arreios que estavam mal apertados, caindo ao chão. Guria parou imediatamente e vi que ela mantinha a pata dianteira levantada. Debaixo da mão da égua estava a cabeça de Maristela, que se levantou sem ferimentos. (Usa-se para equinos também o termo “mãos” para os membros dianteiros).
(Estou sem paciência para falar em política, é como tosa de porco, muito grito e pouca lã).
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