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Conversa Sentada

Sobre a cultura campeira

Faltou dizer, no artigo anterior, que terminada a tosa o ovino é curado de algum beliscão e solto na mangueira. Não é solto logo no campo. É que se após a tosa vier uma chuva, dá zebra, a maioria morre “encarangada” mesmo sendo verão. Claro: estavam com casacão de inverno e, de repente, ficando pelados, o choque térmico é fulminante. Se começar a chover a tosa é suspensa e os animais tosados são abrigados nos galpões, bem juntinhos uns nos outros. Os cordeiros só são tosados ao se tornarem borregos desmamados.

Outro dogma na região da minha fazenda: carnear um novilho é uma coisa, demanda um trabalhão. Ovelha (cordeiro, borrego, capão) é bem rápido. Mas tem um senão: se antes do sacrifício o animal chorar, der balidos, tem que ser solto, pois Nossa Senhora o salvou. Vai outro no lugar.

Descrevo essas coisas pois as vivencio, são concretas e não “cultura postiça”. Cultura gaúcha não é só se pilchar de peão e recitar rimas pobres.

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Sobre os ovinos, é lamentável que a maior parte das “frussuras” (vísceras) não seja bem aproveitada como no Uruguai. Exemplos: a língua e o chinchulin.

Nunca permiti porcos na fazenda. Não é minha praia, nem da cultura local. Como temos produção extensiva de bovinos de corte, ter vacas de leite é perda de tempo, além de problemas de conservação e de higiene do leite. Muito mais negócio comprar no mercado.

Entro no assunto do alambrador. A cerca com arame farpado e traminhas muquiranas é coisa medieval. A cerca é um anteparo para tragédias: imagina um touro de 800 quilos fugir, ir para a rodovia e causar um acidente? (remember, o gado de campo é xucro, “não toma água em balde”). Então: arame liso bem espichado (para não ferir o animal), tramas e moirões fortes. Porteiras e mata-burros entre uma invernada e outra. Indispensável que as invernadas tenham também porteirinhas para o cavaleiro poder abrir e depois fechar, sem apear do cavalo. Claro que tem de haver, ao lado dos mata-burros, porteiras para o gado passar quando tangido. É aí que entra o alambrador: ele é técnico campeiro. Fica por semanas na estância consertando ou fazendo cercas, cruzando matos e arroios. Ao contrário do tosador, ele fica perto do lugar da cerca, arma um barraca, faz sua própria comida. Fazer uma cerca ou a consertar não é coisa barata, mas compensa. Imagina tu teres 200 novilhas numa invernada, prontas para serem inseminadas e um touro chinelão de campo alheio, sem raça definida, pular para dentro e cobrir as lindas princesas. Aí a liberdade sexual é prejuízo…

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(Dáaáá-lhe Avenida!!)

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