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Sobradinho completa 94 anos de emancipação nesta sexta-feira

Já são 94 anos. Uma história marcada por muito trabalho, determinação e desenvolvimento. Muitas pessoas encontraram nesta terra um lugar para viver. Em 3 de dezembro de 1927, a emancipação e o início da vida político-administrativa do chamado “Jacuhy” davam os primeiros passos dessa trajetória que está prestes a alcançar o seu centenário.

Depois de cinco distritos seus emanciparem-se, 15 mil habitantes vivem hoje em uma área de 128 quilômetros quadrados, sendo Sobradinho a cidade-polo da região Centro-Serra. Sobre sua terra, é possível evidenciar os marcos da produção que lhe renderam títulos, como o de capital do fumo e, tempo depois, de capital do feijão. Símbolo este que fez surgir seu maior evento, a Festa Estadual do Feijão. Ambas as culturas continuam presentes, mas outras somaram-se a elas, como a soja, o trigo, o milho, e viram a diversificação ser ampliada, cedendo espaço para propriedades com cultivos e produções diversas.

No turismo destacam-se suas belezas naturais, as construções e características de seus antepassados, as marcas da religiosidade e os empreendimentos que continuam a surgir, voltados a acolher munícipes e visitantes.

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E sobre sua gente é possível dizer que é o motivo para tudo existir, pelo desenvolvimento acontecer e as transformações visíveis década após década. O centenário se aproxima e, até lá, estas milhares de pessoas que se movimentam sobre esta terra diariamente vão ter muitas novas histórias para contar.

A (r)evolução na educação

Falar em educação em Sobradinho é ter um nome em mente. Ela simboliza e personifica o papel de educador(a) com maestria. Hoje, aos 84 anos, guarda na memória, lembranças de tempos passados e vê, da janela do prédio onde mora na área central, entre o vai e vem de pedestres e veículos, o tempo que apressa-se em passar e o crescimento da cidade.

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Eda Thereza Piccinin Bridi nasceu uma década após a emancipação de Sobradinho. Sua família morava na saída para Linha Carijinho. Da infância recorda-se de haver na Praça 3 de Dezembro uma caixa d’água, um monumento ao expedicionário e menos árvores do que hoje. “Tenho uma vaga lembrança da capela, que era onde funcionou o Cine Guarani. E também uma memória de 1941, quando tinha apenas 4 anos, e foi inaugurada a Igreja Matriz Nossa Senhora dos Navegantes, construída de alvenaria. A porta existente na igreja até hoje foi meu pai, marceneiro e carpinteiro, quem construiu. As famílias fizeram doações de vitrais e meu pai se comprometeu com a porta. Ele teve como inspiração a Catedral de Santa Cruz do Sul. Minha irmã Fortunata estudava lá e tirou uma fotografia. Já o meu irmão Alarico fazia um curso de Escultura e Desenho Industrial no Rio de Janeiro, para auxiliar o pai nos trabalhos. Então ele a desenhou e juntos construíram a porta de madeira. Metade dos bancos da matriz também foi meu pai quem produziu, assim como os altares anteriores ao de mármore e o da capela do Arroio Bonito”, recorda.

Professora desde os 23 anos, o amor pelo ensino vem da infância. “Aos sete anos comecei a estudar na hoje Escola Estadual de Ensino Fundamental Lindolfo Silva. Na época, o Grupo Escolar funcionava onde hoje é o escritório dos irmãos Lazzari. Depois passou a funcionar onde hoje é o Só da Roça, onde concluí o primário. Então fui estudar fora, em internato em Santa Cruz do Sul, pois aqui não existia o curso ginasial”, explica a professora.

Eda Bridi durante discurso na Feira do Livro de 2003 | Foto: Arquivo Casa da Cultura

Mesmo estudando fora, acompanhou o desenvolvimento da educação. “A escola Lindolfo então transferiu-se para onde, por muito tempo, foi o Fórum, na Rua Júlio de Castilhos, e nos anos 1950 ganhou prédio próprio, onde está até hoje. Antes da emancipação, a aula, em escola particular, ocorria na Baixada, na residência do senhor Humberto Dei Svaldi, um dos emancipacionistas. Homem letrado, estudado e era o professor dessa aula particular. Quando o município criou a escola municipal em 1928 ela funcionava na Rua José Mainardi, na propriedade do seu Vidal, e a esposa dele, dona Felícia Forzen Vidal foi a primeira professora de escola pública em Sobradinho”, destaca Eda, acrescentando que, junto com a  escola da sede, foram criadas escolas no interior.

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No ano de 1953 houve um movimento liderado pelo padre Osvaldo Stracke e comunidade, com a organização da Comissão Paroquial pró-criação do Ginásio Pio X. “Muitos queriam continuar o estudo e precisavam ir para fora, mas muitas famílias tinham dificuldades para mantê-los”, lembra. O educandário iniciou suas atividades em 1957, tendo como mantenedora a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes. Em 1962 foi autorizado o funcionamento da Escola Normal Pio X e em 1967 do Colégio Comercial Pio X, em comissão liderada pelo pároco padre Benjamim Copetti, que batalhou também pela estadualização da escola. “Quando os primeiros alunos se formaram no Ginásio, por volta de 1960, o padre Copetti começou a se preocupar onde estes continuariam os estudos, quando foi criada então a Escola Normal, até pela carência de professores para trabalhar nessa rede toda”, conta.

Em 1968, o Ginásio passou a ser administrado pelo Estado, denominando-se Ginásio Estadual de Sobradinho. A estadualização dos Cursos Normal e Comercial ocorreu em 1974, e passou a denominar-se Escola Estadual de 2º Grau de Sobradinho. Em 1979, ocorreu a unificação das duas Escolas, denominando-se Escola Estadual de 1º e 2º Graus Pe. Benjamim Copetti. Por força de lei, a escola teve seu nome alterado para Escola Estadual de Educação Básica Pe. Benjamim Copetti no ano 2000. Mantém-se assim até os dias atuais e sendo o maior educandário da região.

Neste período, em 1961, foi criada a Escola Estadual de Ensino Fundamental Santo Carniel. “Na época dividiram a clientela de alunos de forma que os que morassem do lado esquerdo da Avenida João Antônio estudariam na escola Lindolfo e do outro lado da Avenida frequentariam o Santo Carniel. Era uma escola semelhante a brizoleta, de alvenaria, um pouco maior”, acrescenta Eda.

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A multiplicação das escolas: as ‘brizoletas’

Já no período do governo Brizola, entre 1959 e 1963, Eda menciona ter ocorrido uma ‘revolução educacional’, na qual foram criadas as populares ‘brizoletas’. Formada em junho de 1960, no mês seguinte, iniciou a lecionar na Escola Lindolfo Silva. Em 1963 foi convidada a organizar localmente este Serviço de Expansão Descentralizada do Ensino Primário (SEDEP), composto até o quinto ano.  “Sobradinho recebeu neste período, em torno de 100 escolas. No governo seguinte, de Ildo Meneghetti, ainda foram construídas novas. Então o município ficou povoado. Ainda constituído por Arroio do Tigre, Segredo, Ibarama, Passa Sete e Lagoa Bonita do Sul, todos os distritos receberam as brizoletas. Foi uma revolução que ampliou a possibilidade de estudar, pois a cada três quilômetros praticamente havia uma escola”, destaca. Até este período, Eda recorda-se de haver, especialmente em Arroio do Tigre, escolas particulares, que vieram a se transformar em municipais.

Com as emancipações dos distritos e, ao fim da década de 1990, tendo a clientela escolar rarefeita na zona rural, e principalmente tendo-se a meta de instalação do ensino fundamental completo na própria rede municipal, houve o processo de nucleação de escolas, “outro momento de revolução escolar”. Assim, permaneceram poucos educandários centralizados no interior, criando-se escolas núcleo até a oitava série. O avanço no transporte escolar também modificou o cenário.

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Foto: Arquivo pessoal Benhur Maieron

Novos contextos

Momento importante da realidade educacional, foi ainda a possibilidade da vinda do ensino superior, quando houve mobilização das lideranças e comunidade. Os primeiros cursos ofertados no município foram de Ciências Contábeis e Pedagogia, através do campus da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Após, a implementação do Polo Regional de Ensino a Distância, com oferta de cursos por instituições federais e, na atualidade, chegada de novos polos de cursos a distância.

Sete vezes secretária municipal de Educação e tendo assumido a coordenadoria e direção de outros programas e projetos, Eda Bridi coleciona muitas lembranças dos marcos para a educação em Sobradinho e região. Muitos foram os desafios, mas também os avanços. A mais recente revolução na educação seria com a pandemia e a necessidade de adaptação à era digital.

Quanto ao futuro, vê com boas expectativas. “Com a pandemia, embora haja algum prejuízo na aprendizagem de conteúdo, o que é uma pena, por outro lado acho que houve um boom para despertar que certas transformações precisam acontecer. Se tivesse antigamente todo esse aparelhamento tecnológico, infraestrutura, toda essa sabedoria, quando ainda eram escolas multiseriadas e apenas um professor para dar aula a quatro séries juntas, os alunos teriam aproveitado muito mais. Mesmo com as dificuldades, vislumbro que vai avançar mais. Temos que correr atrás disso”, destaca.

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Segundo ela, houve também uma importante expansão cultural, com a criação das rádios, jornal e, na área literária, com a fundação da Academia Centro Serra de Letras. Ao comemorar o aniversário do município, a professora deixa uma mensagem:

“Parabenizo Sobradinho e sua história, de um povo fiel aos princípios de desenvolvimento, e almejo que tenhamos sempre amor, solidariedade, paz, e sejamos guiados pela fé e pela esperança!”

Eda Bridi

Envolto nos números, Maraschim enxergou o crescimento

O aposentado Waldemar Maraschim, prestes a completar 86 anos de idade, aniversaria quase junto ao município. Um entre nove filhos, nasceu em 6 de dezembro de 1935, no local onde hoje é o Bairro Baixada e dali saiu ainda pequeno, com seis anos, para morar na região de Três de Maio. “Meu pai era agricultor e vendeu a terra que tinha aqui, pois queria plantar arroz. Foi para esta nova região. Lá comprou um banhado que secou e não deu para plantar. Depois fomos embora para Ijuí. Ele era carpinteiro, construiu muitas casas, e ficou trabalhando nesta área. Ainda neste período nos mudamos para Canoas”, relembra ele que ficou dez anos distante de sua cidade natal, onde vivia próximo ao Arroio Carijinho.

Waldemar Maraschim guarda recordações

Entre suas primeiras experiências profissionais, trabalhou em um banco no município de Ijuí, quando ainda bastante jovem. “O gerente me deu um livrinho para ler um pouco. Li algumas linhas e ele disse que estava bom, que poderia voltar no dia seguinte para trabalhar”, lembra Maraschim que estudou apenas o primário. “Trabalhei mais do que estudei”, acrescenta.

Ao retornar para Sobradinho, foi convidado a trabalhar no jornal A Crítica, pelo advogado Nelson Portanova Marques e sua esposa. “Trabalhei com ele aproximadamente um ano e meio. Alguma coisa que eu achava importante mandava junto. A gente preparava tudo e mandava para Santa Cruz do Sul para ser feito. Era escrito na máquina de datilografia”, lembra.

Do jornal ingressou na prefeitura municipal. O ano era 1959. Como funcionário público atuou por 25 anos, até julho de 1984. “Eu era inspetor tributário e fui tesoureiro por 10 anos. Trabalhei bastante. Naquele tempo não havia computador. Tinha apenas uma máquina de escrever e uma de somar. De noite ia para a prefeitura fazer cálculos quando os vereadores aprovavam o orçamento. Então fazia o cálculo dos impostos, depois passava para as fichas. Amanhecia, pois eu era sozinho datilografando os carnezinhos. Nunca atrasei, sempre cheguei a tempo. Eu era representante também do Instituto Brasileiro de Defesa Florestal (IBDF) e fazia mapa de terra de quem solicitava. Quando tinha uns 5 ou 6 pedidos ia a Porto Alegre levar no escritório. Nunca tinha subido em um edifício tão alto. 32 andares. Ia com medo, mas eu ia”, lembra Maraschim sobre a capital gaúcha, já avançada nas edificações.

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Mesmo com o pouco estudo, diz ter aprendido tudo muito rápido. “Já sabia quase tudo. Tinha que fazer cálculo dos impostos em começo de ano. Lotar firma nova. ‘Deslotar’ firma antiga que não queria mais trabalhar e aí por diante. Naquela época eram menos casas, mas tínhamos que fazer o cálculo de imposto de todos os distritos. Fazia tudo sozinho, sem computador. Cada distrito tinha um fichário. Era preciso fazer a soma, calcular tudo. Ajudava na contadoria também. Os balancetes de despesa era tudo eu que fazia”. De fato, uma vida dedicada aos números. “Foi um trabalhão quando Arroio do Tigre se emancipou para passar os fichários”, lembra ele.

Aposentado em 1984, Maraschim já não estava mais entre o quadro de funcionários quando ocorreu a inauguração da nova sede administrativa do município, tendo trabalhado na prefeitura onde hoje fica a Casa da Cultura (foto). “Quando me aposentei não demorou muito e inauguraram a nova. Na minha função entrou o Amarildo Fardin. Deixei ele encaminhado”, menciona.

Prédio da Casa da Cultura, o qual foi sede da prefeitura municipal de Sobradinho | Foto: Arquivo Casa da Cultura/Museu Municipal

Há aproximadamente quarenta anos vivendo no mesmo endereço, novamente próximo do Arroio Carijinho, recorda que no passado haviam muitos poços onde podiam banhar-se e pescar. “Hoje o arroio está agonizando. Era a coisa mais bonita. Tinha o poço do Caíque, das Mucacas, do Tatu, do Constante e o do Perau, com uns 200 metros de comprimento. A gente pescava ali. Voltava cheio de peixes”. Maraschim lembra até de um episódio de enchente, em que a água avançou sobre as casas no Bairro Baixada e seus irmãos mais velhos precisaram sair para ajudar. “Alagou tudo até o campo do Atlético. Era bicho, gente, todo mundo água abaixo. Nossa gurizada foi lá ajudar a salvar as coisas. Enchente enorme”, destaca. 

Seu Waldemar recorda-se ainda que aos domingos subia a Rua Itália (hoje Capitão Veríssimo) para assistir à missa. “Era tudo estrada de chão, até mesmo a praça. Mudou muito para o que se tem hoje. Esses bairros, como a Vera Cruz, não tinha nenhum. Era mais lá para o outro lado, perto da Linha Carijinho. A capela ficava onde depois foi o cinema. Homens sentavam-se de um lado e mulheres de outro”, sinaliza. Do entretenimento, recorda-se do Cine Guarani e dos bailes. O Clube Comercial era um dos pontos frequentados, também com a quadra de futebol. Já sobre o comércio da época, menciona os armazéns, onde vendia-se de tudo. A maior parte da população estava distribuída na agricultura. “Plantavam muito fumo de corda, feijão”, destaca.

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Próximo às nove décadas de vida, casado por duas vezes, Maraschim teve sete filhos. A partida prematura de dois deles representam as grandes dores de sua vida. Saudade esta que desafia, mas também o faz buscar seguir em frente.

No sofá de casa, recordou-se ainda da juventude, quando tinha no futebol grande paixão e talento. “Me criei jogando bola. Era por amor à camiseta, mas foi o que me abriu portas. Joguei no Fluminense do Arroio do Tigre, no Atlético, no Cometa, no Internacional do Segredo e no Gaúcho. Neste time eu jogava e era treinador na escolinha, onde hoje fica a prefeitura municipal. Eram em torno de 150 guris. Alguns vinham de Arroio do Tigre a pé. A gente queria ajudar a gurizada”, enfatiza.

Segundo ele, o município hoje “está mil vezes melhor do que quando era guri. Quem tinha automóvel naquela época era meia dúzia só. Era tudo carroça ou cavalo. Mudou bastante também as profissões. Antes era tudo manual, hoje tem mais máquinas. Tendo um computador facilita tudo”. Lembra ainda que muitos nomes importantes na construção da trajetória de Sobradinho dão hoje denominação a ruas, como o de José Garibaldi Maraschim, seu tio, o qual recorda de ter uma oficina de madeira na beira do Carijinho.

“Não imaginava que o município iria ser assim como é hoje. Nem eu esperava que iria viver tanto. Espero viver muito mais ainda e ver o município se desenvolver ainda mais. Caminho 12 quilômetros diariamente. Esses dias fui ao Arroio do Tigre de ônibus e voltei a pé. Estou caprichando, ver se vou durar mais uns anos”, destaca ele com bom humor.

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Nathana Redin

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