Aos 35 anos de idade, Djhon Librelotto já contabiliza viagens a 15 países. Boa parte deles em razão do trabalho. O sobradinhense, apaixonado pela química, escolheu a engenharia química como área profissional. A vontade de trabalhar em grandes empresas, o levou a atuar a mais de 12 mil quilômetros de casa e a conhecer novas culturas.
Tudo começou no ensino médio, quando ao perceber sua facilidade com o conteúdo de química, passou a dedicar-se ainda mais para os vestibulares, tendo esta disciplina como foco. “Via que era meu ponto forte. É uma matéria difícil para muitas pessoas. Estudar química para mim sempre foi algo prazeroso. No Peies gabaritei as questões dessa área nos três anos. Quando fiz o vestibular para engenharia também. Então decidi que seria isso a fazer”, destaca.
Estudando Engenharia Química na Ulbra, em Canoas, realizou seu estágio na Petrobras. Daquele período, Djhon recorda que sua opção sempre foi ir em busca de oportunidades em multinacionais de grande porte. Nas entrevistas de emprego, as etapas eram alcançadas, contudo, a falta de fluência no inglês não lhe abria estas portas. “Passava em todas as dinâmicas, mas reprovava no inglês. Então coloquei como meta estudar. Fiz intensivo de oito horas por dia, durante três meses. Ao realizar novas entrevistas, para a Gerdau e Petrobras, desta vez passei em ambas”, lembra.
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Já formado, Djhon foi aprovado para um programa de trainees na fábrica de cimentos Votorantin, em Aracaju, Sergipe. Foi aí que teve início seu contato com novas culturas, conhecendo 22 estados brasileiros, e começou a jornada para o que viria ser seu futuro ofício. “Lá em Sergipe existem várias plataformas de petróleo. Olhava para elas e meus olhos brilhavam. Foi quando comentei com um amigo e encaminhei meu currículo para uma multinacional americana de serviços à indústria de exploração e produção de petróleo. Fiz as entrevistas e troquei de emprego”, conta.
Para iniciar no novo trabalho, Djhon realizou um curso na Universidade dessa empresa nos Estados Unidos, onde haviam pessoas de mais de 40 nacionalidades. Em um período de três meses, ele fez uma especialização em Fluidos de Perfuração de Poços de Petróleo e iniciou sua trajetória nesta área. “Para perfurar um poço não é no seco. É necessário um fluido que vai auxiliando a quebrar os cascalhos. Esse fluido é uma lama, composto por dezenas de produtos químicos diferentes. Então eu sou o químico na plataforma de perfuração, responsável pelos produtos químicos. Essa lama vai trocando de propriedades químicas toda hora e a gente, em tempo real, vai fazendo análises de laboratório e realizando tratamentos”, explica.
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Segundo Djhon, para trabalhar em plataformas, seja no mar (offshore) ou na terra (onshore), é preciso gostar de aventura e ter coragem. “Ao retornar dos EUA passei a trabalhar no Pré-Sal no Brasil, em plataformas no mar. No país inteiro há menos de cem pessoas que trabalham nessa minha função. A maioria são estrangeiros”, pontua.
Após uma fase muito boa, houve uma crise mundial do Petróleo, onde o barril perdeu valor e houveram muitas demissões, segundo ele. Como Djhon queria ter a experiência internacional, aproveitou este período para, literalmente, voar. “Havia aproveitado umas férias, e em pouco mais de 40 dias estudando na Argentina me tornei fluente também em espanhol. Então contatei a empresa e disse que gostaria de atuar fora do Brasil. Um pouquinho antes da crise fui emprestado para a Argentina, onde passei a trabalhar em uma plataforma no deserto. Por ter um trabalho de regime de 28 dias e folga de 28, continuava morando em Vitória, no Espírito Santo”, ressalta.
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De lá, Djhon retornou ao emprego no Pré-Sal até ser contratado por outra empresa. Nesta permaneceu por pouco mais de um ano no Brasil e foi então convidado para participar de um projeto da empresa (startup) na Arábia Saudita, em 2018. “Foi minha primeira experiência fora do continente. Foram dois anos lá, trabalhando em plataformas dentro do deserto. São como acampamentos, com muitos contêineres metálicos, onde ficam os laboratórios, escritórios, acomodação, refeitório. Peguei temperaturas de mais de 50 graus. O número é alarmante, mas a sensação não é de tanto, pois a umidade é bastante baixa. O único cuidado é com o sol, por isso as roupas que cobrem todo o corpo. Foi o país que mais gostei de trabalhar, pessoas muito gentis. Eles amam o Brasil, são apaixonados pelo futebol. Aprendi a falar algumas coisinhas em árabe. A religião é bastante presente e respeitada”, menciona.
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Para explicar a importância de sua função na sonda de perfuração, Djhon compara a um paciente na UTI. “Se está monitorando várias variáveis. Oxigenação no sangue, batimentos. Lá na plataforma monitoramos entre 20 a 30 variáveis e elas estão trocando o tempo inteiro. Algumas conseguimos ver por sensores e outras com análise química. Em alguns momentos é preciso adicionar produtos para corrigir o fluido, porque pode-se perder o poço por algum problema”, salienta.
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Conforme ele, leva-se em média de um a três meses para realizar a perfuração de um poço. Após este período a estrutura navega até outro ponto ou então é transportada em terra. É neste momento que a equipe de produção chega para instalar e iniciar o bombeamento do petróleo. Conforme Djhon, um poço é capaz de produzir até 40 mil barris de petróleo por dia, a 6 mil metros de profundidade (exemplo do Pré-Sal no Brasil).
Em relação à segurança, Djhon destaca que por estar exposto a produtos químicos, há certo nível de periculosidade, mas, na visão dele, um dos maiores riscos é a ida do helicóptero até a plataforma em alto-mar. Contudo, ressalta que são muito raros os casos de problemas.
Segundo o líder engenheiro de lamas (lead mud engineer), a operação em uma plataforma sonda ocorre 24 horas por dia, havendo troca de profissionais a cada 12 horas para que possam realizar refeições, dormir e ter momentos de lazer. “Em cada plataforma há em torno de 150 pessoas, de diferentes países. O refeitório fica disponível sempre. Nos momentos de descanso há até campeonato de videogame, cinema. Há este momento para conversar estando tantos dias no mar ou no deserto e longe de casa”, relata.
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Há dois anos Djhon trabalha em Doha, no Catar, em sondas de perfuração de gás. Neste período chegou a ser emprestado para operações em Omã. Por lá, reúnem-se diversas nacionalidades e o inglês é o idioma no trabalho. Para ele, o mais difícil da profissão é o trabalho sob pressão. “Às vezes pode ocorrer de estar dormindo e alguém bate à porta falando que é preciso resolver um problema. Então é preciso levantar e na hora saber o que fazer”, salienta ele, acrescentando ainda como desafio superar a distância de casa e da família. Nada que internet via satélite não possibilite amenizar.
Já sobre os fatores positivos, Djhon destaca a possibilidade de ter seis meses de folga no ano, devido a dinâmica da escala de trabalho. “Tenho tempo para fazer o que quiser. Posso planejar bem a minha vida. É uma vantagem muito grande trabalhar embarcado. E outra coisa é que posso trabalhar em qualquer lugar do mundo”, salienta ele sobre as possibilidades que a engenharia, a química, o domínio de outros idiomas e a determinação lhe possibilitaram.
Ainda, segundo o engenheiro, esta também é uma área em que necessita de constante atualização. Neste sentido, com frequência costumam realizar cursos de aperfeiçoamento e treinamentos, inclusive em outros países, como nos EUA. Para o Dhjon do ensino médio e os jovens, ele próprio, hoje aos 35 anos, diria para não ter medo. “Não tenha medo. É preciso desbravar. Se não gostar, há para onde voltar”, reforça.
Djhon conheceu a esposa Cintya Buffon no escritório de uma das empresas onde atuava. Trabalhando na mesma função, eles chegaram a embarcar juntos para a plataforma sonda em uma ocasião. “Já cheguei a ser a única mulher embarcada na área da engenharia. Nunca me imaginei trabalhando nesta área, mas formada em Química, e natural do estado do Espírito Santo, surgiu uma oportunidade. Para quem mora no Rio de Janeiro ou estados acima, é uma área mais conhecida. É preciso ser guerreira. Aprendemos a ser fortes. Muitas vezes passamos datas especiais como aniversário, Natal, Ano Novo, embarcadas. Não é qualquer coisa que te abala. Geralmente tendo poucas mulheres no meio de tantos homens, acabamos também nos unindo. Muitos nos vêem como mães, filhas. Para ambos trabalhar nessa área exige muita responsabilidade”, salienta Cintya.
Hoje a química dedica-se à maternidade, à pequena Bárbara, filha do casal, com seis meses de idade. O foco está totalmente nessa fase da filha e o trabalho por enquanto mantém-se em pausa. A alma aventureira, conforme eles, possivelmente estará presente no futuro de Bárbara, para quem desejam cresça saudável e tenha a oportunidade de conhecer o mundo.
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