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Sujeira

Sobra diversão, mas falta educação no Centro de Santa Cruz

Todo sábado o ritual se repete. Às 4h30, Josué Gonçalves Marques, de 23 anos, acorda no Bairro Santa Vitória. Toma café, beija os três filhos e sai de casa. Caminha até a parada de ônibus e cumpre cerca de 30 minutos de trajeto até o Centro. Pouco antes das 6 horas está uniformizado para, antes que o dia comece, limpar a sujeira feita por quem desfruta a noite que ainda não terminou. 

E a imundície não é pouca. A cada fim de semana são até 5 toneladas de lixo recolhidas por Josué e seus pares em frente a casas noturnas, bares e pontos de encontro, onde jovens estacionam os carros, escutam som, bebem, divertem-se e deixam um imenso volume de garrafas, copos, sacolas, maços de cigarros e restos de comida espalhados pelo chão.

Morador de uma das zonas mais carentes da cidade, Josué é cético ao falar da sujeira que limpa a cada fim de semana junto a canteiros, calçadas, gramados e até chafarizes da área central da cidade. “Falam da gente da Zona Sul, mas nas nossas praças não tem todo esse lixo que o pessoal mais rico deixa rolando por aqui”, resume ele. A análise do gari faz sentido. As regiões da Gaspar Silveira Martins, Praça da Bandeira e o Parque da Oktoberfest, frequentadas por jovens de classe média alta e média, são os pontos mais críticos.

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Como essas são áreas de grande circulação durante o dia, o trabalho precisa ser feito muito cedo, antes que a população acorde. “Quem sai de casa depois das 8 horas da manhã acha que Santa Cruz do Sul é uma cidade limpa. Mas não é bem assim. É limpa porque tem quem limpe, não porque as pessoas cuidam”, define Valdecir Lopes, que é motorista da equipe de garis. Nos domingos, ele acorda ainda mais cedo, religiosamente às 4h15, pois precisa buscar cada integrante da equipe em casa, já que não há transporte coletivo disponível.

E o trabalho não é fácil. Como o lixo fica espalhado pelo chão, cabe aos garis agacharem-se dezenas de vezes a cada minuto para catar até mesmo objetos pequenos, como tampas de garrafas e pontas de cigarros. “É judiado, né. Dá muito trabalho. O pessoal podia cuidar um pouco mais. E por mais que a gente cate as coisas, sempre fica uma ou outra coisa”, comenta Airton Goularte, de 49 anos, que já tem filhos e netos.


Goularte: pessoas não cuidam. Foto: Cássio Filter.

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Como se não bastasse o recolhimento, muitas vezes a equipe precisa fazer uma segunda ronda pelos locais, pois muitas vezes “os grupos ficam bebendo até quase a hora do meio-dia e daí a gente tem que dar uma vistoriada, pois eles acabam sujando o que a gente já limpou, né”, explica o gari Edson Lopes. Ele encontrou até parte de um telefone público em meio aos canteiros do Parque da Oktoberfest.

Testemunha da sujeira

Seu Flori D’Ávila, de 78 anos, aprendeu a conviver com a sujeira em frente ao Parque da Oktoberfest nos sábados pela manhã. Como acorda sempre cedo para ir até a Feira Rural, acostumou-se a caminhar entre o lixo. “É triste demais, né. Que bebam, que se divirtam. Mas custa pegar uma sacola de lixo e recolher o que trouxe?”, questiona ele.

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A pergunta de Flori é a mesma do guarda municipal Rodrigo Koefender. A cada turno de serviço que tira junto ao Parque da Oktoberfest em fim de semana ou véspera de feriado, ele não cansa de se surpreender com o desleixo com a área pública. “Dá de tudo aí. Tem consumo de álcool, drogas. Tem até menor bebendo. Começa na quinta-feira já, mas é nas sextas e sábados que dá mais gente. Quando a temperatura tá alta, chega a juntar umas 500 pessoas”, relata.

O cenário de guerra em frente ao Parque da Oktoberfest nesse sábado surpreendeu a cadeirante Tânia Manske, de 46 anos, que normalmente não passa pela região. Por volta de 8 horas, ela chegava para participar de jogos inclusivos e mal conseguia trafegar entre as sacolas plásticas e os cacos de vidro. “Foi uma surpresa e uma decepção. Jamais imaginei que isso acontecesse na nossa cidade, que tem fama de ser limpa, né”, lamentou ela. 

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