Ao olhar a Santa Cruz de hoje e marcas imponentes que a caracterizam, poucos sabem da relação direta que elas têm com a presença dos jesuítas em nossa terra, durante 100 anos. Ao elaborar ensaio sobre o santa-cruzense padre Arthur Rabuske, SJ (jesuíta, 1924-2010), meu patrono na Academia de Letras local, deparei-me com um dos mais de 200 escritos dele, ainda não publicado, que trata de Santa Cruz do Sul – Fase jesuítica da sua Paróquia São João Batista (1863-1959), e mostra a ação decisiva destes religiosos na vida da comunidade local e regional.
Agora, em março, na Casa de Retiros Loyola, outra realização dos jesuítas (1959), o padre Inácio Spohr, SJ, lançou a 22ª publicação de História das casas – Um resgate histórico dos jesuítas no sul do Brasil, que enfoca a “Paróquia São João Batista de Santa Cruz do Sul” e trata desta mesma fase centenária e rica em feitos espirituais e materiais. Em obras, bastaria citar o grande monumento que identifica a cidade, a Catedral, cuja construção, depois de edificarem e ampliarem a primeira igreja matriz, teve a liderança dos padres jesuítas, com início em 1928 e inauguração em 1939, mesmo inacabada, ao custo de 1.840 contos de réis e à base de forte instigação ao fervor e doação da comunidade.
Em 1930, dá-se conta de inúmeras destinações à construção, em dinheiro, cavalos, carro e até uma colônia de terra. E assim era mantida mobilização constante e de diversas formas para alcançar os recursos necessários, como acontecia com as capelas (a de Vera Cruz, por exemplo, foi inaugurada em 1929, e a de Sinimbu em 1932, “a mais original em estilo neogótico da América Latina, enquanto a de Santa Cruz viria a ser a maior), e as escolas paroquiais (junto às igrejas, depois inviabilizadas com a perseguição à língua alemã).
Aqui vale lembrar ainda a participação efetiva dos jesuítas no surgimento do Colégio São Luís (1871, depois assumido pelos Maristas), da vinda das Irmãs Franciscanas (1874), seu colégio e Hospital Santa Cruz, a primeira casa de saúde da região (1907), além da Sociedade Aliança (1896). Mas, no campo religioso, a grande marca deixada, como já dissera outro bispo (João Pimenta, em 1909), e confirmou o primeiro bispo local, Dom Alberto Etges, em 1959, foi “a fé e religiosidade profundas que souberam implantar no coração do povo, em toda região”.
O atendimento se estendia de Rio Pardo à serra e do Vale do Taquari ao Jacuí (Agudo), exigindo dos padres fazer centenas de quilômetros no lombo do cavalo/burro, “sem se queixar, porque tinham grande amor pela gente que revelava sede de Deus”, e os colonos faziam grandes sacrifícios para frequentar a missa aos domingos, andando quatro horas ou mais a cavalo, em jejum. São muitos relatos, mas por ora fico nesses, que parecem bem oportunos em tempos de tantas queixas.
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