A instalação, na última sexta-feira, da Secretaria da Cultura projeta cenário novo – e alvissareiro – para a área no município. Santa Cruz do Sul nunca teve pasta específica para cuidar da eclética gama de atores e segmentos relacionados com a gestão cultural, e nunca antes estabeleceu a plena, pontual e indispensável interlocução local e com instâncias no Estado e no País. Há muito a ganhar com a nova pasta, e de fato ganhará toda a comunidade.
A iniciativa da Prefeitura é ainda mais valiosa tendo em vista que não significa aumento de custo ou despesa. Quem (da área política ou da comunidade) questionou a criação da secretaria com tal argumento não deixou de pagar mico. O prefeito Telmo Kirst lembrou que o orçamento para o ano já estava definido e aprovado, apenas alocado junto a outras pastas nas quais os responsáveis pela cultura atuavam. O que Santa Cruz faz é centralizar as demandas, dando um salutar foro oficial ao tema.
E, definitivamente, cultura não é algo supérfluo. Muito pelo contrário. Onde falta cultura, faz até pouco sentido haver o resto, e esse resto jamais poderia dar conta da falta que a cultura faz. Há os que, apressados ou afoitos (o que, aliás, já diz muito sobre ter cultura), dizem que investir em cultura não é necessário, que antes disso se deve e se pode investir em “coisas mais importantes ou urgentes”. O que seria mesmo mais importante ou urgente do que cultura?
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Vejamos: o Brasil é um dos países mais ricos do planeta. No entanto, por que sempre figuramos de forma tão grotesca como uma nação de indigentes no que tange a cultura? Nos índices que medem desenvolvimento humano (e que outro parâmetro deveria importar?) estamos sempre entre os piores. Eis que investimos fortunas em segurança, armamento, defesa, patrimônio. Para quê? Na mesma proporção crescem violência, insegurança, corrupção. Nessas, somos campeões. Já em cultura…
Quais são mesmo as prioridades dos brasileiros? Seriam essas que o tempo todo, nas variadas instâncias, nunca dão resultado? Onde poderia estar o erro? A única área em que o Brasil pouco investe, nada investe, e que não importa, é cultura. Seria de apostar que é a única que pode dar certo, que pode nos salvar. Bastaria só olhar para outros países e avaliar o quanto valorizam cultura.
E esta logo se traduz em riquezas: não há cidade, no País e no mundo, que tenha elegido a cultura como prioridade e não tenha colhido uma safra continuada de dividendos. Eles chegam sob a forma de turismo, negócios, eventos, lazer, e assim aquecem a economia em hotéis, restaurantes, lojas, artesanato. Onde a cultura é valorizada todos, simplesmente todos saem ganhando, e não apenas alguns poucos, como costuma ocorrer em tantos países com alta desigualdade. Santa Cruz cria uma pasta para a cultura. Pode até não resolver tudo na área em curto espaço de tempo. Mas que se deu passo largo em direção a soluções, ah, isso sim.
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