A lembrança de que prometeu para a netinha de 8 anos que cuidaria das galinhas e coelhos da propriedade faz seu Dário Antônio Dornelles, de 75 anos, encher os olhos de água. Morador da Vila Mariante desde jovem, ele não se lembra de ter visto uma cheia tão grande quanto a que atingiu a localidade de Venâncio Aires na última terça-feira. Ele é uma das 94 pessoas das 34 famílias que precisaram de abrigo no ginásio da Linha Mangueirão.
Até a tarde dessa quarta-feira, 6, conforme o coordenador da Defesa Civil do município, Luciano Teixeira, 255 pessoas já haviam sido resgatadas pelo Corpo de Bombeiros e também por voluntários. Pelo helicóptero, até essa quarta, haviam sido socorridas 13 pessoas que estavam ilhadas.
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Dário e a companheira Eloí Fernandes Nascimento, de 62 anos, moram na Estrada do Chafariz. Abrigados no ginásio, eles receberam alimentação e doações, pois saíram da residência com apenas uma mochila cada. “Fomos sair de casa era umas cinco da tarde de terça-feira”, conta Eloí. Quem socorreu os dois foram voluntários. “A casa é alta, mas dessa vez entrou água até em cima”, complementa. Dário acredita que perdeu o automóvel, fora os outros pertences que ficaram no imóvel.
A filha e a neta do casal passaram por situação ainda mais complicada. Moradoras da área central de Lajeado, elas também sofreram com a enchente. “A água estava no pescoço delas lá”, diz Eloí. Eles demoraram até conseguir contato com as duas, mas agora já sabem que elas estão bem e abrigadas em um espaço específico. “Eu consegui ligar para a Defesa Civil, e eles mandaram um bote lá quando a água já estava alta”, explica o avô. Sobre as galinhas e coelhos que havia prometido cuidar para a netinha, Dário se pergunta: “Como vou dizer para ela que deixei os bichinhos lá?”
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A maior cheia da história de Vila Mariante
Em coletiva de imprensa na tarde dessa quarta, o prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa, salientou que além de Vila Mariante, que é o centro do distrito, foram atingidas comunidades como Chafariz, Santa Mônica, Itaipava das Flores, Sanga Funda, Picada Mariante e Picada Nova. Conforme o chefe do Executivo, ainda não era possível determinar exatamente qual o cenário dos locais após a enchente. “Não temos essa noção ainda porque as águas começaram a baixar agora. Mas temos centenas de casas que foram cobertas completamente pela água. Há informações extraoficiais de que casas caíram, desmancharam.”
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Para ele, a contabilidade desses casos deve ser divulgada a partir desta quinta-feira, 7. “Com certeza é uma situação dramática, caótica, catastrófica. É a maior enchente da história de Vila Mariante pelo volume e concentração das águas.” Na última terça-feira, o prefeito de Venâncio assinou o decreto de emergência. Pela manhã, o governador do Estado, Eduardo Leite, visitou o município. O trabalho deve seguir, ininterruptamente, por pelo menos 48 horas.
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“Precisa acontecer uma tragédia para perceberem que precisamos de soluções”
Na região de Picada Mariante, na tarde dessa quarta, muitos voluntários auxiliavam, com uso de pequenos barcos, a levar insumos como água e leite para famílias que estavam ilhadas em uma parte mais alta das residências. Um deles era Marcelino Rodrigues dos Santos, de 43 anos. Com tristeza, ele descreve o cenário criado pela cheia do Rio Taquari. “Ver o bicho pedindo socorro e não poder fazer nada é muito triste. Como que as pessoas vão se reconstruir e juntar os cacos?”, lamenta.
Ele diz que mora em Mariante há 13 anos e também não tinha visto nada parecido até então. “Agora estamos aqui dando um apoio, não temos muita estrutura, mas o que fizermos é de coração”, completa.
Uma das casas mais atingidas foi a de Taciane Chaves de Araújo, de 43 anos, que mora na área há 20 anos. “Graças a Deus nossa família está viva e com saúde, mas é muito triste perder tuas coisas e teus animais, ver os bichos sofrendo.” Na propriedade dela, havia criação de gado, frango, porco e ovelha. “Não se compara à vida humana, mas é muito triste.”
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Taciane acredita que a situação poderia ser amenizada. “Quando essa rodovia [a RSC-287] foi construída, não foi feita vazão para a água. Estamos numa luta, pois está para ser duplicada e não foi colocado no projeto pontes secas para dar vazão a isso. E ocorre todo ano, precisa acontecer uma tragédia para perceberem que precisamos de soluções”, reivindica.
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